#52FilmsByWomen de janeiro: Mania Akbari, Haifaa Al Mansour, Mijke de Jong, So Yong Kim, Lone Scherfig

Estes foram os filmes vistos em janeiro como parte da campanha #52FilmsByWomen:


20 Dedos (2004), da iraniana Mania Akbari – começo esse texto com uma “denúncia!!”: é muito difícil encontrar os filmes desta diretora para ver, seja nas plataformas online, seja nas salas de cinema. A Mania Akbari é, sim, cineasta digna de uma mostra especial. Além de 20 Dedos, ela dirigiu os longas de ficção One. Two. One (2011) – sobre uma jovem que lida com o conceito de beleza após ficar desfigurada por causa de um acidente – e From Tehran to London (2012), além dos documentários Crystal (2003) – sobre uma jovem curda que produz cristais em várias partes do corpo, incluindo os olhos, a garganta e a vagina -, 10 + 4 (2007) – sobre a sua própria luta contra um câncer de mama -, e Life May Be (2014). Ela ainda atuou no maravilhoso Dez (2002), filme de Abbas Kiarostami.

Mania também é protagonista de 20 Dedos, e este é claramente uma continuação do que foi feito em Dez. No entanto, 20 Dedos é um filme que podemos classificar como feminista. É dividido em vários episódios, e cada um deles aborda diferentes questões que dividem homens e mulheres no Irã. Apesar de ter sido feito há 14 anos, a discussão é totalmente atual pois mostra como o homem representa a moralidade tradicional, o impositor de regras, enquanto a mulher é aquela que deseja quebrar os preconceitos e parar de ser tratada como um ser inferior.


O Sonho de Wadjda (2012), da árabe Haifaa Al Mansour – esse é o filme da primeira cineasta mulher da Arábia Saudita e tem uma trama bem simples e comovente: a jornada de uma garota que sonha em ter uma bicicleta.

Wadjda é uma menina de 10 anos de Riade, Arábia Saudita, que escuta rock em casa, usa tênis All Star e tem como um menino como melhor amigo. Para conseguir comprar sua própria bicicleta (atenção: mulheres sauditas só foram autorizadas a andar de bicicleta em 2013), ela precisa de dinheiro e, então, decide participar do concurso de declamação do Corão da escola. É uma história com final esperançoso, o que estimula novas gerações de mulheres sauditas a criarem suas filhas de uma outra forma. Assim como 20 Dedos, de Mania Akbari, O Sonho de Wadjda é um filme que usa o movimento dos transportes (bicicleta, carro, moto) como metáfora do movimento das mulheres em relação aos seus direitos.

O que mais ver de Haifaa: o documentário Women Without Shadows (2005) e Mary Shelley, que ainda não tem data de estreia prevista, mas tem Elle Fanning no papel da autora de Frankenstein.


Layla M. (2016), da holandesa Mijke de Jong – Escolhido como o candidato da Holanda ao Oscar de filme estrangeiro deste ano, esse já é o 11º longa da diretora. Layla é uma garota de Amsterdã de origem marroquina que se junta a radicais islâmicos após medidas anti-muçulmanos serem tomadas na Holanda. Layla parece muito independente. Participa do jogo de futebol, anda de bicicleta, fala de política e religião na mesa do jantar… mas decide se casar com um jihadista e viajar com ele para uma célula terrorista na Jordânia, Oriente Médio.

É muito interessante como a diretora aborda a questão da islamofobia e do recrutamento para o terrorismo a partir da perspectiva da mulher – que se casa muito jovem por vontade própria e toma decisões baseadas em seus valores . O drama consiste na desilusão dela em torno disso tudo. Já uma falha da trama, na minha opinião, foi ter deixado a história de Layla sem conclusão. Aonde as Laylas desse mundo vão?


Lovesong (2016), da sul-coreana So Yong Kim –  não sei se essa diretora é lésbica, bissexual, ou se ela já se apaixonou por uma melhor amiga, mas ela soube muito bem filmar a relação complexa entre as personagens Sarah (Riley Keough) e Mindy (Jena Malone). Elas são duas mulheres com personalidades totalmente diferentes. Enquanto Sarah é reservada, casada com um homem ausente e mãe de uma garotinha; Mindy é extrovertida, sai com vários homens mais por diversão do que atrás de um compromisso sério.

E a relação é complexa porque nenhuma das duas parece saber muito bem o que está acontecendo entre elas. No início, aparenta ser um escape da realidade de Sarah, que é uma mãe super insegura e sozinha. Depois de um tempo elas se reencontram, há uma recaída e o filme segue nesse suspense se elas ficarão juntas ou não. A trilha sonora é de Jóhann Jóhannsson, compositor que morreu em fevereiro deste ano.

Vale a pena ler esse relato da diretora sobre ter colocado suas filhas no elenco.


Sua Melhor História (2016), da dinamarquesa Lone Scherfig – senta que lá vem dramalhão! Se você já viu o filme Um Dia, baseado no livro de David Nicholls, pode esperar quase o mesmo tipo de apelo em Sua Melhor História.

O filme se passa durante a “Blitz”, que foi uma série de bombardeamentos dos alemães contra o Reino Unido entre 1940 e 1941, e acompanha a personagem Catrin, interpretada pela atriz Gemma Arterton. Ela é uma roteirista contratada por uma equipe do Ministério da Informação para dar uma “perspectiva feminina” a um filme que precisa ser feito a pedido do governo para despertar otimismo na população britânica e inspirar os Estados Unidos a se unirem para a guerra. O engraçado é que o filme é sobre Dunkirk e o resgate dos soldados que foram abandonados na França, o que nos faz inevitavelmente relacionar com o Dunkirk, de Christopher Nolan, que concorreu ao Oscar deste ano, e como seria se ele tivesse uma “perspectiva feminina” – já que Nolan não escalou nenhuma mulher em seu elenco.

A diretora leva a história totalmente para o lado romântico, mas é um filme que importa e deve ser visto por valorizar o trabalho das mulheres, principalmente na área do cinema, na época da Segunda Guerra Mundial.

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Mais #52FilmsByWomen:
+ Dezembro: Djamila Sahraoui, Deepa Mehta, Alice Rohrwacher, Athina Rachel Tsangari
+ Novembro:
Naomi Foner, Lisa Langseth, Patricia Rozema, Signe Baumane
+ Outubro: Niki Caro, Isabel Coixet, Eliane Caffé, Cate Shortland, Andrea Arnold
+ Setembro: 
Ana Maria Hermida, Claudia Pinto Emperador, Lucy Mulloy, Hagar Ben-Asher
+ Agosto: 
Sydney Freeland, Shefali Bhushan, Elite Zexer, Leyla Bouzid
+ Julho: 
Julie Dash, Amma Asante, Gina Prince-Bythewood, Ava DuVernay, Mati Diop
+ Junho: 
Marcia Tambutti Allende, Taryn Brumfitt, Anita Leandro, Mary Mazzio
+ Maio: 
Teresa Villaverde, Anocha Suwichakornpong, Moufida Tlatli, Mia Hansen-Løve e Joanna Coates
+ Abril:
 Ildiko Enyedu, Paz Fábrega, Paula Sacchetta e Khadija al-Salami
+ Março: Salomé Lamas, Maren Ade, Marília Rocha e Valérie Donzelli


* Letícia Mendes é jornalista e aceitou nosso convite para aderir à campanha #52FilmsByWomen. Ela vai assistir a um filme dirigido por mulher toda semana durante um ano e dividir a experiência com a gente. Os títulos são revelados sempre às segundas-feiras no FacebookTwitter e Instagram. Clique aqui para saber mais.

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