#52FilmsByWomen de agosto: Sydney Freeland, Shefali Bhushan, Elite Zexer, Leyla Bouzid

Dos quatro filmes dirigidos por mulheres vistos em agosto, coincidiu que três deles mostram a mãe como uma figura extremamente forte e essencial no rumo da vida das personagens principais. Também por coincidência, escolhi três filmes que são os primeiros dessas cineastas.

Iniciamos esse sexto mês da campanha #52FilmsByWomen com Deidra & Laney Rob a Train (2017), segundo longa da cineasta trans Sydney Freeland, produzido pela Netflix. Quando a mãe das garotas Deidra e Laney é presa, elas começam a assaltar um trem para poder pagar a fiança e sustentar a família.

É uma história tensa – afinal, aborda questões como ser mãe solteira, a fase da adolescência/rebeldia e os problemas financeiros -, mas que foi dirigida para ser uma comédia. Realmente há cenas cômicas, que beiram o absurdo, mas o grande destaque mesmo são as atrizes Ashleigh Murray e Rachel Crow. Virei muito fã dessa duplinha e vi no IMDb que a Ashleigh está filmando a comédia musical Valley Girl, com a diretora Rachel Goldenberg.


Jugni-pic

Jugni (2016) é a estreia da indiana Shefali Bhushan na direção. Descobri esse filme por causa de uma matéria do Nexo intitulada “Para além de Bollywood: a nova geração de mulheres cineastas da Índia“.

A trama é bem interessante. Acompanha Vibs, produtora musical de Mumbai que viaja ao vilarejo de Hassanpur para buscar e gravar composições que podem ser usadas em filmes de Bollywood. Já no início temos uma cena ótima de discussão de relacionamento entre Vibs e o namorado Sid. Ele é pegajoso e não suporta disputar atenção com o trabalho dela.

Vemos que realmente é um filme que se diferencia do cinema indiano ao qual estamos acostumados já pelo fato de colocar as questões das mulheres em primeiro plano. Queremos mais personagens como a Vibs para poder conhecer um pouco mais sobre as indianas e suas complexidades.


Ruba Blal-Asfour-Lamis Ammar

Tempestade de Areia (2016) também é o primeiro longa-metragem da israelense Elite Zexer e a história se passa numa aldeia beduína no norte de Israel. A tradição beduína é bem difícil para as mulheres, que se casam muito cedo e apenas se dedicam ao trabalho doméstico. Elas não têm opinião nem escolha.

Quando o marido de Jalila se casa com uma segunda mulher, diminui o valor dela e de sua família. Sua filha mais velha, Layla, se apaixona por Anuar, um garoto da tribo vizinha, o que é inadmissível para o pai, que logo força um casamento com outro homem. Isso fará com que Layla deixe de enxergar o pai com olhos de admiração e passe a encarar a opressão contra a mulher, da qual sua mãe já sofre há muito tempo. Uma série de coisas farão com que Jalila e sua filha comecem a rever todo esse compromisso com as regras patriarcais e com as tradições. Essa conexão será bonita e importante.


As_I_Open_My_Eyes

Assim que Abro Meus Olhos (2015) também é a estreia de Leyla Bouzid na direção de longa-metragem. Não sei se pelo fato de Leyla ser uma tunisiana de 33 anos, mas esse filme dela me pareceu uma mega homenagem à obra-prima do cinema tunisiano Os Silêncios do Palácio, de Moufida Tlatli, que vimos em maio.

Uma homenagem porque ambas as protagonistas jovens têm uma relação forte com a música e com o uso da voz, envolvimento com movimentos revolucionários e mães muito guerreiras. Enquanto a Alia, de Os Silêncios, vive nos anos 50 em meio à revolução que levou à independência da França, a personagem Farah (Baya Medhaffer), de 18 anos, está em 2010 na véspera da Revolução de Jasmim, que levou à saída do ditador Zine El Abidine Ben Ali, no poder desde 1987.

Farah entra na faculdade de Medicina, mas quer mesmo estudar Música, e canta numa banda de rock politizado. Sua mãe, Hayet, se preocupa com a filha quando descobre que o governo quer acabar com a já pouca liberdade do povo. O conflito entre as duas resultará em algo muito mais amplo. É um grande filme para se debater o machismo na sociedade.

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Mais #52FilmsByWomen:
+ Julho: 
Julie Dash, Amma Asante, Gina Prince-Bythewood, Ava DuVernay, Mati Diop
+ Junho: 
Marcia Tambutti Allende, Taryn Brumfitt, Anita Leandro, Mary Mazzio
+ Maio: 
Teresa Villaverde, Anocha Suwichakornpong, Moufida Tlatli, Mia Hansen-Løve e Joanna Coates
+ Abril:
 Ildiko Enyedu, Paz Fábrega, Paula Sacchetta e Khadija al-Salami
+ Março: Salomé Lamas, Maren Ade, Marília Rocha e Valérie Donzelli


* Letícia Mendes é jornalista e aceitou nosso convite para aderir à campanha #52FilmsByWomen. Ela vai assistir a um filme dirigido por mulher toda semana durante um ano e dividir a experiência com a gente. Os títulos são revelados sempre às segundas-feiras no FacebookTwitter e Instagram. Clique aqui para saber mais.

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