#52FilmsByWomen de julho: Julie Dash, Amma Asante, Gina Prince-Bythewood, Ava DuVernay, Mati Diop

Eu não sou negra. Logo, os cinco filmes dirigidos por mulheres negras vistos no mês de julho para a campanha #52FilmsByWomen provavelmente não me atingiram da mesma forma que atingirão as mulheres que são negras. Os temas tratados podem ser universais – relacionamentos, morte, traição, amizade feminina -, mas sei que não vivi aquilo exatamente. O que não me impede de sentir empatia, chorar e rir com todas as histórias contadas pelas diretoras.

Os filmes escolhidos acabaram por ser mais do eixo Estados Unidos-Reino Unido (querendo ou não, a indústria de cinema nos restringe a essas regiões e fica muito difícil ter acesso a obras de diretoras negras da África, da Europa e até mesmo do Brasil), e três deles estão no atual catálogo da Netflix Brasil.

Daughters of the Dust (1991), de Julie Dash, foi o primeiro filme dirigido por uma mulher negra a ser lançado no circuito comercial dos EUA. Julie tinha 39 anos quando o dirigiu e, hoje, integra o L.A. Rebellion (“Los Angeles School of Black Filmmakers”), que apoia filmes africanos e afro-americanos.

O filme se passa em 1902, e mostra a cultura dos Gullah, descendentes de escravos africanos nas ilhas marítimas da Carolina do Sul e da Geórgia (o pai de Julie era Gullah). A história da família Peazant é contada por uma bebê na barriga da mãe. Tudo é filmado de uma forma tão sensível e poética, e os atores são tão fortes, que dá para sentir um arrepio em todas as cenas. A forma como a cultura africana é mostrada, o respeito aos antepassados e ao lugar de onde vieram…dá para entender porque Daughters of the Dust foi uma influência, por exemplo, para Beyoncé fazer o álbum Lemonade.


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Um Reino Unido (2016) é o único longa de Amma Asante que vi, mas sei que ela dirigiu mais dois. Confesso que achei um tanto quanto arrastado, mas a história, principalmente por ser real, é bem interessante. Seretse Khama, interpretado por David Oyelowo, foi presidente de Botswana – mas antes de isso acontecer ele se apaixonou por Ruth Williams, britânica branca e de classe média. O casamento deles causou uma comoção internacional e o exílio de Seretse (a BBC conta a história aqui), ou seja, é todo um melodrama perfeito para um filme de época. Estou ansiosa para ver o próximo trabalho da Amma Asante, Where Hands Touch, sobre uma mulher negra na Alemanha nazista e com Amandla Stenberg no elenco.


M056 - Gugu Mbatha-Raw stars in Relativity MediaÕs BEYOND THE LIGHTS. Copyright © 2013 Blackbird Productions, LLC Photo Credit: Suzanne Tenner

Mais estilo “Sessão da Tarde” ainda é Nos Bastidores da Fama (2014), da Gina Prince-Bythewood. Lembro que esse longa estreou ao mesmo tempo que Selma e que houve um questionamento sobre o porquê de Ava DuVernay ter sido indicada a prêmios e Gina, não. É um filme bem dirigido, mas realmente foi o que menos me impactou. Conta a história de Noni, uma cantora que está no auge da fama e, ao mesmo tempo, sente um vazio por não estar fazendo exatamente o tipo de música que ela almejava. Podemos dizer que ela foi inspirada na Rihanna? Enfim, tem um final previsível. Curiosidade: a Gugu Mbatha-Raw está no elenco de Uma Dobra no Tempo, novo longa de Ava.


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Falando em Ava: vi Middle of Mowhere (2012) e soltei um palavrão dos grandes. Com certeza ela é uma das mulheres que mais admiro atualmente, pelo olhar questionador que joga na sociedade e pelas pessoas com quem escolhe trabalhar. Middle of Nowhere começa quando o marido de Ruby é condenado a oito anos de prisão. Não sabemos o que ele fez para estar ali – só sabemos que ela fará de tudo, inclusive largar os estudos de Medicina, para poder visitá-lo sempre que possível. A cadeia fica num lugar distante e Ruby ainda é enfermeira em um hospital e cuida do sobrinho para a irmã poder trabalhar. Ava conta uma história dura, usando tons de violeta. Consegui entrar na jornada dessa mulher como se ela fosse uma heroína, ainda que não tenha poder sobrenatural.


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Por último, vi o documentário A Thousand Suns (Mille soleils, no original), de 2013, da Mati Diop. Conhecida por ter estreado como atriz em 35 Doses de Rum, obra-prima da cineasta Claire Denis, Mati também é filha de um músico de jazz famoso, Wasis Diop, e sobrinha de um respeitado diretor senegalês, Djibril Diop Mambéty. A Thousand Suns é basicamente uma homenagem ao seu tio e ao cinema do Senegal. Ela acompanha Magaye Niang, que foi o ator principal do aclamado filme senegalês dos anos 70 A Viagem da Hiena. Hoje, ele é um agricultor. Após uma exibição comemorativa desse filme em Dakar, Magaye começa a se relembrar do seu primeiro amor, que deixou o país há muitos anos. É um belo retrato.

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Mais #52FilmsByWomen:
+ Junho: 
Marcia Tambutti Allende, Taryn Brumfitt, Anita Leandro, Mary Mazzio
+ Maio: 
Teresa Villaverde, Anocha Suwichakornpong, Moufida Tlatli, Mia Hansen-Løve e Joanna Coates
+ Abril:
 Ildiko Enyedu, Paz Fábrega, Paula Sacchetta e Khadija al-Salami
+ Março: Salomé Lamas, Maren Ade, Marília Rocha e Valérie Donzelli


* Letícia Mendes é jornalista e aceitou nosso convite para aderir à campanha #52FilmsByWomen. Ela vai assistir a um filme dirigido por mulher toda semana durante um ano e dividir a experiência com a gente. Os títulos são revelados sempre às segundas-feiras no FacebookTwitter e Instagram. Clique aqui para saber mais.

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