#52FilmsByWomen – abril: Ildikó Enyedi, Paz Fábrega, Paula Sacchetta, Khadija al-Salami

Ao aderir à campanha #52FilmsByWomen, tive a ideia de buscar filmes dirigidos por mulheres que estivessem mais distantes da cinematografia com a qual estou mais acostumada. Quero fugir um pouco do cinema americano ou francês, por exemplo, para conhecer outras culturas e diferentes visões.

Em fevereiro deste ano, a diretora húngara Ildikó Enyedi venceu o Urso de Ouro, principal prêmio do Festival de Berlim, por On Body and Soul – oito anos após a peruana Claudia Llosa ter levado o mesmo troféu pelo filme A Teta Assustada. Decidi pesquisar sobre essa figura que é a Ildikó, uma senhora de 61 anos, e encontrei seu primeiro longa: Meu Século 20, lançado em 1989 e vencedor da Câmera de Ouro no Festival de Cannes.

O filme acompanha as gêmeas idênticas Dora e Lili, que foram separadas na infância. Já adultas, elas viajam no Expresso do Oriente sem ter conhecimento uma da outra. Dora é prostituta de luxo e Lili é anarquista (quem vive ambos os papéis é Dorothy Segda). As duas nasceram no mesmo dia em que Thomas Edison inventou a lâmpada, e suas vidas durante o Império Austro-Húngaro se relacionam com o desenvolvimento da tecnologia e as questões sobre direitos das mulheres.


viagem

No mesmo estilo fotografia em preto e branco, o que deixa tudo sempre mais poético, escolhi assistir Viagem (2015), segundo longa-metragem da diretora costa-riquenha Paz Fábrega.

É um filme mais leve sobre dois jovens que se conhecem em uma festa e são tão desapegados e descompromissados que dá até um pouco de inveja. Eles se apaixonam, mas sabem que não têm isso de “futuro juntos”. Uma parte da história é gravada no Parque Nacional Rincón de la Vieja, o que dá mais melancolia ao filme. Gostei, mas fiquei curiosa para ver também o primeiro longa da Paz Fábrega, Água Fria do Mar, e entender melhor seu jeito de fazer cinema.


precisamos-falar-sobre-assedio

Foi o meu marido, o inspetor de escola, o primo, o chefe, o irmão, o namorado, o desconhecido na rua, o médico, o sogro, o pastor da igreja…Precisamos falar do assédio, documentário da brasileira Paula Sacchetta, foi gravado há um ano, quando uma van equipada com um estúdio visitou nove lugares em São Paulo e no Rio de Janeiro para colher depoimentos de mulheres que sofreram assédio. Algumas optaram por usar uma máscara e alterar a voz, outras não, mas todas as histórias são fortíssimas. É um filme que foi feito para machucar quem o vê, e espero que muitos homens o vejam.

Ao todo, 140 mulheres de 15 a 84 anos quiseram dar seus relatos pessoais. Isso somou mais de 12 horas de material – e todas essas horas podem ser vistas no site oficial do filme. Além disso, o projeto continua: a ideia da Paula e da equipe da Mira Filmes é que ele possa ser estendido para mais cidades e até mesmo para fora do Brasil.


nojoom

Para manter o tema da violência contra a mulher, escolhi ver o filme Nojoom, 10 anos, Divorciada (2014), da diretora iemenita Khadija al-Salami. O que você já ouviu falar sobre o Iêmen, além da guerra e dos bombardeios infinitos? Pois lá há um movimento contra o casamento forçado/infantil liderado por Nujood Ali, a garota que inspirou esse filme.

Nascida em 1998, Nujood Ali foi vendida por seu pai para ser mulher de um homem décadas mais velho e que a estuprava. Ela fugiu em 2008, dois meses após o casamento, e foi diretamente ao tribunal pedir pelo divórcio. Nujood foi acolhida por um juiz, que colocou o pai e o marido em custódia, e defendida pela advogada Shada Nasser. Sua história virou um livro, que foi coescrito pela jornalista francesa Delphine Minoui. Na época, a lei iemenita estabelecia 15 anos como idade mínima para o casamento, mas as famílias tinham permissão para casar meninas mais novas, estipulando no contrato que o sexo estaria proibido até um momento indefinido quando elas fossem consideradas “prontas”.

Aí você pensa: “Ah, mas isso é coisa do Iêmen, um lugar longe, com outra religião”. E aí eu te digo que o Brasil está no topo do ranking de casamento infantil na América Latina. O que está distante também nos aproxima da nossa própria realidade.

Mais #52FilmsByWomen:
+ Março: Salomé Lamas, Maren Ade, Marília Rocha e Valérie Donzelli


* Letícia Mendes é jornalista e aceitou nosso convite para aderir à campanha #52FilmsByWomen. Ela vai assistir a um filme dirigido por mulher toda semana durante um ano e dividir a experiência com a gente. Os títulos são revelados sempre às segundas-feiras no Facebook, Twitter e Instagram. Clique aqui para saber mais.

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