#52FilmsByWomen de setembro: Ana Maria Hermida, Claudia Pinto Emperador, Lucy Mulloy, Hagar Ben-Asher

No mês de setembro da campanha #52FilmsByWomen, vimos dois filmes que abordam a questão da morte e do luto e dois filmes que tratam mais da relação das mulheres com a violência e com o próprio corpo.

La Luciérnaga (ou The Firefly, em inglês) é um filme de 2013 da colombiana Ana Maria Hermida, que confesso só ter descoberto porque está no catálogo da Netflix – aliás, espero que continuem colocando mais filmes de mulheres lá. Encontrei pouquíssimas críticas sobre ele, provavelmente porque é o primeiro longa-metragem (e único até agora) de Hermida, e a mídia, que geralmente não dá tanta atenção para estreantes, deixou esse meio que passar. Mas é um filme muito belo.

Com a morte trágica de seu irmão, Lucia (Carolina Guerra) conhece a noiva dele e se apaixona. Em entrevista ao site IndieWire, Hermida conta que, embora não seja autobiográfico, o filme retrata uma história muito pessoal: o irmão mais novo da cineasta morreu em um acidente de carro em dezembro de 2007, como o protagonista da trama. “Esta foi a coisa mais difícil com a qual já tive que lidar. Isso mudou minha vida. Isso me quebrou, mas, ao mesmo tempo, me inspirou”, disse.

Hermida conta que, após o enterro do irmão, voltou para Nova York e não conseguia fazer nada. Até que a namorada dele ligou dizendo que queria passar um tempo com ela. “Saber que ela estava vindo me deu força. Consegui sair da cama, comprar mantimentos, limpar, fazer todos as coisas que parecem impossíveis quando você está deprimida”. Aí surgiu a ideia de filmar a história de mulheres que se apaixonam depois de passar por um processo de luto juntas.


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A Mais Longa Distância, da venezuelana Claudia Pinto Emperador, tem semelhanças com La Luciérnaga: é de 2013, é cinema latino-americano, fala de luto e também é dedicado a uma pessoa próxima da diretora.

Após o assassinato da mãe – cena que aborda um pouco a questão da violência urbana em Caracas -, o garoto Lucas (Omar Moya) briga com o pai e foge para encontrar a avó Martina (Carme Elias), que ele nem conhece, numa vila no interior.

Porém, o encontro com a avó acontece num momento intenso da vida dela, em que ela tomou a decisão de se suicidar a ter que passar pelo sofrimento de uma doença terminal. Essa amizade entre avó e neto é transformadora na vida dos dois e o filme acerta ao focar nisso.


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Uma Noite, da norte-americana Lucy Mulloy, ganhou muita atenção na ocasião em que foi lançado, em 2012, acredito que por ter sido produzido por Spike Lee. O filme mostra uma Havana que talvez tenha mudado, já desde que Barack Obama e Raúl Castro anunciaram a retomada das relações entre Estados Unidos e Cuba no final de 2014.

Uma Noite falha justamente por querer contar tantas histórias e mostrar tanta coisa como se só houvesse aquela uma hora e meia para “denunciar” o que se passa no país. O foco da trama seria a trajetória de três adolescentes que estão cansados de viver na pobreza e tédio que parecem tomar Havana. Elio e Lila são irmãos, mas isso custa um pouco a perceber porque ela é apaixonada por ele de uma forma não muito saudável. Aí tem Raul, que é um jovem violento, depressivo, machista.

Mulloy, então, quer retratar a violência em Cuba, a questão da prostituição, da Aids, os turistas que não ligam muito para a cidade, a garota que está descobrindo a sexualidade, o desejo dos garotos em fugir… Acho que serve como uma lição de que nem sempre dá certo querer abordar tantos olhares num trabalho só. Seria ótimo se a diretora tivesse escolhido separar as histórias e contá-las com profundidade.


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A premissa do filme The Slut, da israelense Hagar Ben-Asher, foi o que me fez ir atrás desse filme de 2011. A própria diretora, que também fez o roteiro, interpreta a protagonista Tamar, uma mulher de 35 anos, que vive sozinha com as duas filhas. Ela se envolve sexualmente com vários homens da vila onde mora, até que encontra um homem por quem se apaixona. Passa, então, a ter um “relacionamento sério”, chegando a integrar o parceiro em sua rotina com as filhas. Mas isso não é necessariamente bom e Tamar começa a ficar insatisfeita por se relacionar com apenas um homem.

É uma trama muito complexa, que pode engajar milhares de discussões e pontos de vista, e muito bem filmada também (além de a diretora ser linda e maravilhosa). Há várias cenas de sexo, e é interessante ver como a diretora filmou a si mesma nestas cenas. Hagar Ben-Asher é alguém que temos que acompanhar pela inteligência cinematográfica e ousadia.

No ano passado, ela lançou o filme The Burglar, cuja história também me atraiu muito, mas por enquanto só foi exibido em festivais, sem previsão de estrear em circuito comercial, o que é uma pena. Abaixo, veja uma entrevista (em inglês) que a cineasta concedeu durante o Festival de Roterdã:

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Mais #52FilmsByWomen:
+ Agosto: 
Sydney Freeland, Shefali Bhushan, Elite Zexer, Leyla Bouzid
+ Julho: 
Julie Dash, Amma Asante, Gina Prince-Bythewood, Ava DuVernay, Mati Diop
+ Junho: 
Marcia Tambutti Allende, Taryn Brumfitt, Anita Leandro, Mary Mazzio
+ Maio: 
Teresa Villaverde, Anocha Suwichakornpong, Moufida Tlatli, Mia Hansen-Løve e Joanna Coates
+ Abril:
 Ildiko Enyedu, Paz Fábrega, Paula Sacchetta e Khadija al-Salami
+ Março: Salomé Lamas, Maren Ade, Marília Rocha e Valérie Donzelli


* Letícia Mendes é jornalista e aceitou nosso convite para aderir à campanha #52FilmsByWomen. Ela vai assistir a um filme dirigido por mulher toda semana durante um ano e dividir a experiência com a gente. Os títulos são revelados sempre às segundas-feiras no FacebookTwitter e Letterboxd. Clique aqui para saber mais.

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