A francesa Céline Sciamma ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes por seu novo filme, Portrait de la Jeune Fille en Feu. O longa era tido como um dos favoritos à Palma de Ouro, que foi entregue a Parasites, de Bong Joon-ho. Com isso, o tabu de Cannes com as mulheres se manteve: O Piano (1993), da neozelandesa Jane Campion, continua sendo o único filme dirigido por mulher a ganhar o principal troféu em todas as 72 edições do festival.
Cannes 2019: Veja todas as mulheres premiadas no festival deste ano
Leia também: Dirigido por Mati Diop, Atlantique ganha o Grand Prix em Cannes
Histórico: Veja os principais prêmios recebidos por mulheres em Cannes
Palma de Ouro: Conheça os filmes dirigidos por mulheres que já concorreram
Em 2019, quatro dos 21 filmes em competição tinham direção feminina: além de Portrait de la Jeune Fille en Feu, também foram selecionados Atlantique, de Mati Diop; Little Joe, de Jessica Hausner; e Sybil, de Justine Triet. Destes quatro filmes, três saíram premiados: Atlantique ganhou o Grand Prix, Sciamma venceu melhor roteiro e Emily Beecham levou como melhor atriz por seu trabalho em Little Joe.
Sciamma também deixa Cannes como a primeira diretora a vencer a Queer Palm, entregue ao melhor filme com temática LGBTQ. Em Portrait de la Jeune Fille en Feu ela conta uma história de amor e desejo entre duas mulheres, ambientada na França de 1770. No filme, a pintora Marianne é chamada para fazer o retrato de casamento de Héloïse, jovem que acaba de deixar o convento. Héloïse reluta em se casar e, por isso, Marianne precisa pintá-la em segredo. Dia após dia, a artista observa a jovem sem que ela saiba que é sua modelo.
Como vem acontecendo nos últimos anos, Cannes serviu de palco para discussões de gênero – ainda que não com a mesma contundência do ano passado, quando houve uma manifestação de 82 mulheres no tapete vermelho e a assinatura de um compromisso por maior transparência e igualdade de gênero no festival. O que não significa que não houve protestos e polêmicas.
No dia da entrega da Palma de Ouro honorária para o ator francês Alain Delon, que admitiu ter batido em mulheres durante sua vida, a atriz belga-holandesa Sand Van Roy apareceu no tapete vermelho com uma tatuagem temporária que dizia “Basta de violência contra as mulheres”. Outro momento marcante aconteceu na exibição de Que Sea Ley, documentário de Juan Solanas sobre o aborto na Argentina. Mais de 60 mulheres e ativistas apareceram no tapete vermelho com bandeiras verdes, a cor do movimento pró-aborto no país.
O cinema brasileiro também foi destaque nesta edição de Cannes, com seis filmes selecionados e duas vitórias importante. Bacurau, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, levou o Prêmio do Júri na competição principal, enquanto A Vida Invisível de Eurídice Gusmão triunfou na mostra Um Certo Olhar. Dirigido por Karim Aïnouz e estrelado por Carol Duarte e Julia Stockler, o filme é uma adaptação do romance homônimo escrito por Martha Batalha sobre duas irmãs no Rio de Janeiro dos anos 1950.
Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema