Os 10 melhores filmes dirigidos ou estrelados por mulheres em 2018

Chegou a hora de relembrar os filmes que marcaram o ano que está chegando ao fim. Esta lista aponta dez títulos que ficaram na memória em 2018, seguindo apenas duas regras: que sejam dirigidos ou estrelados por mulheres e que tenham estreado comercialmente nas salas de cinema do país entre janeiro e dezembro.

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Não deixe de conferir, também, a tradicional reportagem de fim de ano do Mulher no Cinema na qual as diretoras brasileiras escolhem os melhores filmes de 2018 dirigidos por mulheres. Nossas escolhas, abaixo:


O Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida
Um restaurante paulistano de classe média funciona como microcosmo do Brasil no ótimo longa-metragem de estreia de Gabriela Amaral Almeida. Quando dois ladrões armados invadem o estabelecimento, o dono (vivido por Murilo Benício) abandona a máscara de homem cordial que usava até então para agir brutalmente em benefício próprio. Enquanto escancara alguns dos principais conflitos do país – pobres x ricos, homens x mulheres, patrões x empregados, negros x brancos – o filme também explora e subverte fórmulas do terror e do suspense, além de colocar Gabriela na lista de artistas para se ficar de olho. Assista à entrevista com ela


As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra
O mais recente filme da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra também busca a tensão e o suspense nos medos da sociedade brasileira. A atriz portuguesa Isabél Zuaa impressiona no papel de Clara, uma mulher negra que vive na periferia de São Paulo e é contratada como babá do filho da grávida Ana (Marjorie Estiano), assumindo, também, a função de empregada. Rojas e Dutra não têm medo de ousar, inserindo momentos musicais e mesclando momentos de horror mais sugestivo com cenas em que o monstro é mostrado de perto. Juntos, O Animal Cordial e As Boas Maneiras indicam que o terror é, atualmente, o gênero cinematográfico mais capaz de dar conta do contexto político e social do país. Leia entrevista com os diretores


Desobediência, de Sebastián Lelio
No primeiro filme em inglês do chileno Sebastián Lelio (de Gloria e Uma Mulher Fantástica), a história de amor entre duas mulheres é ponto de partida para reflexões relacionadas à família, religião, desejo, tolerância e, principalmente, liberdade. Rachel Weisz e Rachel McAdams estão excelentes como Ronit e Enid, amigas de infância que viveram um romance proibido em uma comunidade judia ortodoxa de Londres. Também excelente está Alessandro Nivola como Dovid, líder religioso e marido de Enid, um personagem masculino cheio de nuances que enriquece esta trama centrada em mulheres. Em um ano tão marcado pelo conservadorismo no Brasil e no mundo, Desobediência ecoou forte. Leia a crítica completa


Esplendor, de Naomi Kawase
Embora prevista na legislação, a acessibilidade em filmes e salas de cinema está longe de ser realidade no Brasil. Neste ano, pela primeira vez assisti a uma sessão com audiodescrição, experiência que se tornou ainda mais interessante por se tratar de Esplendor, centrado em uma jovem que faz audiodescrição de filmes para cegos, e que escuta correções e comentários durante encontros com um grupo teste. A trama do longa e a câmera de Kawase fazem acumular os questionamentos sobre as imagens: como descrever o que se vê? Quais elementos destacar, já que assim como não se pode ver tudo o que está em quadro, também não se pode falar sobre tudo? Em que momento a descrição deixa de ser informativa e passa a ser intrusiva? Como a imaginação e as experiências pessoais atuam na apreensão de imagens? 


Lady Bird: A Hora de Voar, de Greta Gerwig
Muito se falou sobre os paralelos entre Lady Bird e a vida pessoal da diretora e roteirista Greta Gerwig: como sua protagonista, ela também nasceu e cresceu em Sacramento, estudou em colégio católico e se mudou para Nova York para cursar a universidade. Mas o longa indicado a cinco Oscars (incluindo melhor filme e direção) é tanto sobre Gerwig quanto sobre qualquer pessoa que, durante a adolescência, sentiu estar destinada a algo maior, não fosse o incompreensível azar de ter nascido em uma cidade banal ou em meio a circunstâncias econômicas pouco favoráveis. Em outras palavras, é sobre qualquer pessoa. Com boas atuações (sobretudo Saoirse Ronan e Laurie Metcalf) e um olhar sensível sobre a complexidade da relação mãe e filha, Lady Bird é um filme tipicamente gerwigiano, no qual pouca coisa acontece, além da própria vida. Leia a crítica completa


Minha Amiga do Parque, de Ana Katz
Este filme argentino faz um retrato sincero da maternidade ao contar a história de Liz (Julieta Zylberberg), jovem mãe que cuida sozinha do filho enquanto o marido trabalha no exterior. Em sua rotina com o bebê, ela vive momentos de profunda alegria, mas também se sente sobrecarregada e confusa. O alívio aparece na figura de Rosa (interpretada pela diretora Ana Katz), mulher que conhece no parque e com quem forma uma amizade marcada por aventura – palavra pouco associada à maternidade. Com uma bem dosada combinação de momentos cômicos, dramáticos e de suspense, Katz e a corroteirista Inés Bortagaray também abordam questões sociais, levando o espectador a questionar, assim como Liz, se as suspeitas em relação à Rosa são justas ou decorrem da diferença de classe entre as personagens. Leia a entrevista com a diretora


O Pacto de Adriana, de Lissette Orozco
Vencedor do principal prêmio da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo do ano passado, este documentário teve estreia tímida no circuito comercial – uma pena em se tratando de trabalho tão relevante e bem realizado. O filme é uma investigação da jovem diretora sobre sua tia, Adriana Rivas, que em 2007 foi presa e acusada de ter trabalhado para a polícia secreta do ditador chileno Augusto Pinochet (1915-2006). Ela nega qualquer envolvimento em tortura e assassinatos, enquanto documentos e testemunhas apontam para o contrário. Então, em quem Lissette deve acreditar? Muitos documentaristas partem de histórias pessoais para falar de temas universais, mas poucos se saem tão bem quanto Orozco. Ao escancarar o drama familiar, ela expõe as feridas da ditadura chilena e mostra que encarar o passado de frente é a única alternativa.


Projeto Flórida, de Sean Baker
Depois do ótimo Tangerina (que entrou para o top 10 de 2016), Sean Baker volta a mostrar a originalidade e frescor que tem faltado ao cinema americano. A ação se passa principalmente em um hotel barato de Orlando, na Flórida, que serve de casa para famílias pobres que não têm onde morar. É o caso de Moonee, uma menina de seis anos criada por uma jovem mãe solteira. Os tempos são difíceis, mas a garota lidera as aventuras de seu grupo de amigos, usando a imaginação para criar uma Disney alternativa. Um filme cheio de qualidades, mas marcante principalmente pela atuação da pequena e estreante Brooklyn Prince, que diverte e comove no papel de Moonee. Só pela cena em que ela chora à porta da amiga, Projeto Flórida já merece seu lugar na lista.


Visages, Villages, de Agnès Varda e JR
Meses antes de completar 90 anos, Agnès Varda chegou aos cinemas brasileiros com um belíssimo documentário realizado em parceria com o fotógrafo JR. Tendo em comum a paixão pelas imagens, a dupla percorre vilarejos franceses a bordo de um caminhão no qual fazem retratos de gente comum, que depois serão ampliados e compartilhados em espaços públicos. Assim, Visages, Villages é um filme sobre imagens, mas principalmente sobre pessoas. Viajar ao lado dos dois artistas é uma experiência prazerosa não apenas pelas reflexões e lembranças que dividem com o público, mas também pelo respeito e atenção com que contam as histórias de anônimos. Isso sem falar no carisma insuperável de Varda, que se mantém dona de um olhar interessado e fundamental para o cinema. Veja dicas de filmes para conhecer a obra da diretora


Você Nunca Esteve Realmente Aqui, de Lynne Ramsay
O novo trabalho de Lynne Ramsay chegou aos cinemas brasileiros mais de um ano após receber dois prêmios no Festival de Cannes. Como de costume, a diretora mantém o espectador envolvido em uma trama tensa e desconfortável, sem recorrer a excesso de imagens chocantes ou fetichização da violência. Ramsay explora um drama americano contemporâneo: o estado emocional dos veteranos de guerra, abandonados pelo Estado, assombrados pelo trauma e incapazes de se afastar do ciclo de violência e morte. Ao mesmo tempo, não cai no erro de reduzir seu protagonista a um tipo: Joe, um homem solitário que ganha a vida encontrando garotas desaparecidas (e matando os responsáveis), é violento e carinhoso, destemido e inseguro, no controle e em completo desespero. E é, também, um dos melhores papéis de Joaquin Phoenix. Leia a crítica completa


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema

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