Filmes dirigidos por mulheres vencem principais prêmios de Cannes

A Palma de Ouro não foi o único prêmio conquistado por uma diretora na 74ª edição do Festival de Cannes, encerrada neste sábado (16). Além da vitória da francesa Julia Ducournau e seu Titane na competição principal, cineastas mulheres também venceram a mostra Um Certo Olhar, o troféu Câmera de Ouro e a Palma de Ouro entregue aos curtas-metragens. É a primeira vez que isso acontece.

Leia também: Veja os principais prêmios recebidos por mulheres em Cannes
Palma de Ouro: Conheça os filmes dirigidos por mulheres que já concorreram
Premiados: Os filmes estrelados por mulheres que ganharam a Palma de Ouro
Saiba mais:
 Veja todas as mulheres que presidiram o júri de Cannes

Ducournau tornou-se a segunda mulher a ganhar o principal prêmio de Cannes, vinte e oito anos após Jane Campion vencer com O Piano, em 1993. Titane explora o gênero body horror ao contar a história de uma jovem que, na infância, sofreu um acidente de carro e ficou com uma placa de metal na cabeça. Muitos anos depois, foragida, ela finge ser o filho desaparecido de um bombeiro. 

Menos divulgada, mas não menos importante, foi a vitória da diretora russa Kira Kovalenko na mostra Um Certo Olhar. Seu longa-metragem Unclenching the Fists fez história como o primeiro filme dirigido por mulher a vencer nesta seção de Cannes, que foi criada em 1998. Ambientado em uma cidade mineradora na Ossétia do Norte, o filme acompanha uma jovem mulher que se sente sufocada por sua família.

Dedicado ao melhor longa de estreia em qualquer mostra competitiva, o troféu Câmera de Ouro foi para Murina, da diretora croata Antoneta Alamat Kusijanovi. Exibido na Quinzena dos Realizadores e coproduzido pela empresa brasileira RT Features, o filme narra a relação de uma adolescente e seu pai, abalada pela visita de um velho amigo da família. Foi a 16ª vez que o festival entregou o Câmera de Ouro a uma diretora.

Tang Yi ganhou a Palma de Ouro dos curtas com “All The Crows In The World” – Foto: Pascal Le Segretain/Getty Images

Já a Palma de Ouro dos curtas-metragens foi para All The Crows In The World, da chinesa Tang Yi. O filme acompanha uma jovem de 18 anos que é convidada pelo primo a ir a uma festa misteriosa. Ao chegar à festa, encontra um lugar cheio de homens muito mais velhos do que ela.

A menção especial da competição de curtas foi para Céu de Agosto, da brasileira Jasmin Tenucci.

A pressão por mais oportunidades às cineastas mulheres em Cannes cresceu nos últimos anos, junto com o fortalecimento do debate mundial sobre igualdade de gênero no audiovisual. Um momento-chave foi a edição de 2018, que contou com um protesto liderado por Cate Blanchett e Agnès Varda (1929-2019), além da assinatura de um documento no qual a direção de Cannes se comprometeu a trabalhar para incluir mais mulheres e ser mais transparente em seu processo de seleção. Graças a este documento, organizado pelas ativistas do grupo francês 5050×2020, no ano seguinte o festival passou a divulgar a lista de membros do comitê de seleção que, conforme prometido, teve o mesmo número de homens e mulheres.

Apesar do avanço nos prêmios deste ano, a participação de mulheres na seleção ainda é muito pequena, especialmente na competição principal: em 2021, foram apenas quatro filmes dirigidos por mulheres entre os 24 concorrentes à Palma de Ouro. Tal número é um recorde para Cannes, atingido apenas duas outras vezes, em 2019 e em 2011. Nestas edições anteriores, porém, o número total de filmes concorrendo era menor.

É importante ressaltar, ainda, que todas as quatro diretoras selecionadas para a competição eram brancas (e três delas, francesas). Portanto, ainda é cedo para dizer que a mudança chegou ao mais importante festival de cinema do mundo.


Foto do topo: Stephane Cardinale/Corbis via Getty Images

Top