Veja todos os longas de diretoras que já concorreram ao Oscar de filme internacional

Se as mulheres de Hollywood estão historicamente sub-representadas no Oscar, será que o mesmo acontece na categoria dedicada a celebrar os filmes estrangeiros? A resposta, infelizmente, é sim: mulheres dirigiram apenas 27 dos 335 longas-metragens indicados ao troféu entre 1957 e 2023, o equivalente a cerca de apenas 8%.

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Responsável pelo Oscar, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas começou a entregar prêmios especiais e honorários a filmes estrangeiros em 1948, sempre sem caráter competitivo. A categoria como é conhecida hoje foi instaurada na 29ª edição da premiação, realizada em 1957.

Nenhum filme de diretora recebeu os prêmios especiais ou honorários entregues até 1956, e a primeira indicação para um longa internacional dirigido por mulher veio em 1960, para Paw, da dinamarquesa Astrid Henning-Jensen. Curiosamente, a primeira mulher indicada ao Oscar de direção foi uma estrangeira: a italiana Lina Wertmüller, cujo sensacional Pasqualino Sete Belezas (1975) foi o segundo longa dirigido por mulher a disputar melhor filme internacional.

Marleen Gorris, primeira diretora a ganhar o Oscar de filme estrangeiro – Foto: Reprodução

Mulheres premiadas
Passaram-se 40 edições do Oscar até que um longa dirigido por mulher ganhasse o prêmio de melhor filme internacional. Quem entrou para a história foi a holandesa Marleen Gorris, em 1996, com A Excêntrica Família de Antônia.

Desde então, em mais de 20 anos, apenas outros dois filmes de diretoras receberam o Oscar nessa categoria: Lugar Nenhum na África, da alemã Caroline Link, em 2003; e Em um Mundo Melhor, da dinamarquesa Susanne Bier (foto do topo), em 2011. Isso significa que menos de 5% de todos os ganhadores do Oscar de filme estrangeiro foram dirigidos por mulheres (4,6% se considerarmos os 65 ganhadores desde que a categoria tornou-se competitiva, e 4% caso se incluam também os filmes premiados de forma honorária no período entre 1948 e 1956).

Quando se avalia apenas o século 21 (a partir de 2001), 16 dos 110 indicados ao Oscar de filme internacional foram dirigidos por mulheres, o equivalente a 14,5%. Além disso, duas diretoras foram premiadas no período, enquanto apenas uma ganhou o troféu entre 1957 e 2000, um intervalo de mais de 40 anos. 

Será um sinal de que os movimentos por igualdade de gênero e diversidade que estão acontecendo em Hollywood e dentro da Academia estão surtindo efeito? É cedo para dizer. O cenário ainda é muito desigual, tanto no que diz respeito a gênero quanto à nacionalidade, já que a grande maioria dos filmes estrangeiros indicados e premiados são europeus.

Confira os 27 longas dirigidos por mulheres que foram indicados ao Oscar de melhor filme internacional:

Oscar 1960 
Paw, de Astrid Henning-Jensen (Dinamarca)
Ganhador: Orfeu do Carnaval, de Marcel Camus (França)

Oscar 1977
Pasqualino Sete Belezas, de Lina Wertmüller (Itália)
Ganhador: Preto e Branco em Cores, de Jean-Jacques Annaud (Costa do Marfim)

Oscar 1984
Paixões em Tempo de Guerra, de Diane Kurys (França)
Ganhador: Fanny & Alexander, de Ingmar Bergman (Suécia)

Oscar 1985
Camila: O Símbolo de uma Mulher Apaixonada, de María Luisa Bemberg (Argentina)
Ganhador: Fora de Controle, de Richard Dembo (Suíça)

Oscar 1986
Colheita Amarga, de Agnieszka Holland (Alemanha)
Três Homens e um Bebê, de Coline Serreau (França)
Ganhador: A História Oficial, de Luis Puenzo (Argentina)

Oscar 1989
Salaam Bombay!, de Mira Nair (Índia)
Ganhador: Pelle, o Conquistador, de Bille August (Dinamarca)

Oscar 1996
A Excêntrica Família de Antônia, de Marleen Gorris (Holanda) – ganhou o prêmio

Oscar 1997
A Chef in Lovede Nana Jorjadze (Geórgia)
O Outro Lado do Domingo, de Berit Nesheim (Noruega)
Ganhador: Kolya, uma Lição de Amor, de Jan Sverák (República Tcheca)

Oscar 1998
A Música e o Silêncio, de Caroline Link (Alemanha)
Ganhador: Caráter, de Mike van Diem (Holanda)

Oscar 2001
O Gosto dos Outros, de Agnès Jaoui (França)
Ganhador: O Tigre e o Dragão, de Ang Lee (Taiwn)

Oscar 2003
Lugar Nenhum na África, de Caroline Link (Alemanha) – ganhou o prêmio
Zus & Zo
, de Paula van der Oest (Holanda)

Oscar 2006
Segredos do Coração, de Cristina Comencini (Itália)
Ganhador: Infância Roubada, de Gavin Hood (África do Sul)

Oscar 2007
Às Margens do Rio Sagrado, de Deepa Mehta (Canadá)
Depois do Casamento, de Susanne Bier (Dinamarca)
Ganhador: A Vida dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck (Alemenha)

Oscar 2010
A Teta Assustada, de Claudia Llosa (Peru)
Ganhador: O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella (Argentina)

Oscar 2011
Em um Mundo Melhor, de Susanne Bier (Dinamarca) – ganhou o prêmio

Oscar 2012
Na Escuridão
, de Agnieszka Holland (Polônia)
Ganhador: A Separação, de Asghar Farhadi (Irã)

Oscar 2016
Cinco Graças, de Deniz Gamze Ergüven (França) – leia a crítica
Ganhador: O Filho de Saul, de László Nemes (Hungria)

Oscar 2017
Toni Erdmann, de Maren Ade (Alemanha) – saiba mais
Ganhador: O Apartamentode Asghar Farhadi (Irã)

Oscar 2018
Corpo e Alma, de Ildikó Enyedi (Hungria) – saiba mais
Ganhador: Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio (Chile)

Oscar 2019
Cafarnaum, de Nadine Labaki (Líbano) – saiba mais
Ganhador: Roma, de Alfonso Cuáron (México)

Oscar 2020
Honeyland, de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov (Macedônia do Norte) – saiba mais
Ganhador: Parasita, de Bong Joon-Ho

Oscar 2021
Quo Vadis, Aida?, de Jasmila Žbanić (Bósnia e Herzegovina)
O Homem que Vendeu sua Pele, de Kaouther Ben Hania (Tunísia)
Ganhador: Druk – Mais uma Rodada, de Thomas Vinterberg


Taluana Wenceslau é mestra em Direitos Humanos, pesquisadora de temas de gênero e feminismo, com foco em representações na mídia e nas artes latino-americanas.

Foto do topo: Mike Blake – Texto atualizado em 05/03/2023.

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