Crítica: “Cinco Graças”, dirigido por Deniz Gamze Ergüven

Único título dirigido por mulher na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, Cinco Graças é também o primeiro longa-metragem de Deniz Gamze Ergüven no longa-metragem. Nascida na Turquia e criada na França, a diretora de 37 anos estreia no cinema com um filme de mensagem forte e personagens vibrantes.

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Cinco jovens e talentosas atrizes formam o elenco: Ilayda Akdogan, Tugba Sunguroglu, Elit Iscan, Doga Doguslu e Günes Sensoy. Esta última encabeça o time no papel de Lale, a mais jovem de cinco irmãs órfãs que vivem com a avó e o tio em um vilarejo turco.

O filme não demora a introduzir o conflito central: um dia, voltando da escola para casa, as meninas são vistas brincando com garotos. Basta para que a família conservadora promova uma mudança radical. Além da punição física, as meninas são, entre outras medidas, impedidas de sair desacompanhadas e forçadas a usar vestidos largos e longos. A cada vez que conseguem burlar as regras, o cerco se fecha. Tio e avó erguem muros, instalam grades nas janelas e começam a preparar as meninas para casamentos arranjados sobre os quais elas não têm o direito de opinar. Seu papel é aprender a cozinhar, arrumar a casa, servir o chá – e, na noite de núpcias, mostrar um lençol sujo de sangue à família do marido.

Acompanhar o espírito livre das garotas ser reprimido em nome de tradições sociais e religiosas faz de Cinco Graças uma experiência angustiante. Mas essa angústia é controlada na medida exata por Ergüven, que jamais pesa a mão ou força o tom.  Não cai, por exemplo, na tentação de vilanizar demais o tio e a avó, transformando-os em caricaturas. Não exagera ao retratar eventos traumáticos, tornando-os mais fortes justamente porque intercalados a cenas que mostram o vínculo inabalável das irmãs.

Também autora do roteiro, em parceria com Alice Winocour, Ergüven acerta principalmente ao dotar cada personagem de personalidade própria, permitindo que o filme tome caminhos distintos. Entre momentos de resiliência e de rebeldia, entre finais felizes e trágicos, Cinco Graças concede que, diante da repressão, não há resposta ou solução única. A busca por liberdade é tanto coletiva quanto individual.

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Este filme passa no teste de Bechdel-Wallace“Cinco Graças” – [Mustang, Turquia/França/Catar/Alemanha, 2015]
Direção: Deniz Gamze Ergüven
Elenco: Ilayda Akdogan, Tugba Sunguroglu, Elit Iscan, Doga Doguslu, Günes Sensoy
Duração: 97 minutos

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