A diretora libanesa Nadine Labaki ganhou o Prêmio do Júri na edição deste ano do Festival de Cannes, encerrada neste sábado (19). O novo filme da cineasta, Capharnaüm, era um dos mais cotados para a Palma de Ouro, mas o júri presidido pela atriz australiana Cate Blanchett escolheu Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda.
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Com isso, O Piano (1993), da neozelandesa Jane Campion, continua sendo o único filme dirigido por mulher a ganhar o principal troféu de Cannes. Dos três filmes com direção feminina que concorriam neste ano, dois foram premiados: além de Capharnaüm, o italiano Lazzaro Felice, de Alice Rohrwacher, levou o troféu de melhor roteiro.
Diretora, atriz e roteirista, Labaki já tinha exibido outros dois filmes em Cannes: Caramelo (2007), sua estreia na direção, e E Agora Onde Vamos? (2011), ganhador de menção especial do júri ecumênico. Capharnaüm conta a história de um menino pobre que processa os próprios pais e teve boa recepção na sessões em Cannes, com longo aplauso após os créditos.
Apesar de a Palma de Ouro não ter sido concedida a uma diretora, esta edição do festival foi certamente marcada pelo debate sobre igualdade de gênero. Logo nos primeiros dias, o júri de maioria feminina e presidido por uma mulher pela 12ª vez em 71 edições foi a principal notícia, seguida pelo acordo de distribuição milionário em torno do thriller 355, produzido por Jessica Chastain e estrelado por ela, Marion Cotillard, Penélope Cruz, Lupita Nyong’o e Fan Bingbing. Apresentado a compradores em Cannes, o longa foi muito disputado e finalmente vendido para a Universal por US$ 20 milhões.
A imagem mais marcante do festival, porém, foi a da manifestação de 82 mulheres nos degraus do Théâtre Debussy, simbolizando o número de filmes dirigidos por mulheres que concorreram à Palma de Ouro em toda a história do festival. Em discurso conjunto, Blanchett e a diretora belga Agnès Varda divulgaram os alarmantes números da participação feminina em Cannes e exigiram salários e oportunidades iguais, além de ambientes de trabalho seguros.
Ao protesto se seguiu um evento no qual diretores artísticos do Festival de Cannes assinaram um compromisso por maior transparência e igualdade de gênero; e uma nova reunião de mulheres nos degraus do teatro, desta vez 16 atrizes negras que lançaram o livro Noire n’est pas mon métier, no qual falam sobre a experiência de trabalhar no cinema francês. Até episódios mais ligados à moda do que ao cinema – a decisão de Blanchett de repetir um vestido usado no Globo de Ouro, os pés descalços de Kristen Stewart no tapete vermelho – reforçaram a sensação de que Cannes 2018 foi das mulheres.
Na premiação, o maior destaque foi o discurso da atriz italiana Asia Argento: antes de entregar o troféu de melhor atriz, ela ressaltou que o festival serviu de palco para casos de assédio e abuso sexual cometidos pelo produtor Harvey Weinstein.
“Em 1997, fui estuprada por Harvey Weinstein em Cannes. Eu tinha 21 anos. Este festival era seu lugar de caça”, afirmou a atriz. “Sentados entre vocês, há aqueles que ainda precisam responder pela forma como se conduzem com as mulheres. Vocês sabem quem são. E o que é mais importante: nós sabemos quem vocês são.”
Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema
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