Alice Rohrwacher, Eva Husson e Nadine Labaki podem entrar para a história do Festival de Cannes neste sábado (19), quando o filme ganhador da Palma de Ouro será anunciado pelo júri presidido por Cate Blanchett. Se uma delas triunfar, será apenas a segunda vez em que o maior prêmio do evento foi entregue a um longa dirigido por uma mulher – e a primeira desde 1993, quando Jane Campion venceu com O Piano.
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A vitória feminina fecharia uma edição marcada pelo debate sobre igualdade de gênero no cinema. Nos primeiros dias de festival, o júri de maioria feminina e presidido por uma mulher pela 12ª vez em 71 edições foi a principal notícia, seguida pelo acordo de distribuição milionário em torno do thriller 355, produzido por Jessica Chastain e estrelado por ela, Marion Cotillard, Penélope Cruz, Lupita Nyong’o e Fan Bingbing. Apresentado a compradores em Cannes, o longa foi muito disputado e finalmente vendido para a Universal por US$ 20 milhões .
A imagem mais marcante do festival, porém, foi a da manifestação de 82 mulheres nos degraus do Théâtre Debussy, simbolizando o número de filmes dirigidos por mulheres que concorreram à Palma de Ouro em toda a história do festival. Em discurso conjunto, Blanchett e a diretora belga Agnès Varda divulgaram os alarmantes números da participação feminina em Cannes e exigiram salários e oportunidades iguais, além de ambientes de trabalho seguros.
Ao protesto se seguiu um evento no qual diretores artísticos do Festival de Cannes assinaram um compromisso por maior transparência e igualdade de gênero; e uma nova reunião de mulheres nos degraus do teatro, desta vez 16 atrizes negras que lançaram o livro Noire n’est pas mon métier, no qual falam sobre a experiência de trabalhar no cinema francês – dos comentários racistas aos papéis estereotipados. Até episódios mais ligados à moda do que ao cinema – a decisão de Blanchett de repetir um vestido usado anos atrás no Globo de Ouro, os pés descalços de Kristen Stewart no tapete vermelho – reforçaram a sensação de que Cannes 2018 foi das mulheres.
Se a premiação deste sábado mantiver o domínio masculino dos anos anteriores, não anulará completamente o debate das duas últimas semanas. Da mesma forma, a consagração feminina não será sinônimo de mudança em andamento: o fato de apenas três filmes dirigidos por mulheres estarem entre os 21 concorrentes à Palma de Ouro reforça que o filtro mais grave está na seleção e, antes ainda, na falta de oportunidades iguais para que mulheres produzam e exibam seus filmes.
A cerimônia de premiação começa às 14h15 (horário de Brasília) e o Mulher no Cinema fará a cobertura ao vivo no Twitter. Saiba mais sobre os três filmes dirigidos por mulheres na disputa:
Capharnaüm, de Nadine Labaki
Atriz, roteirista e diretora libanesa, Nadine Labaki é conhecida principalmente por Caramelo (2007), seu primeiro longa, que foi exibido em Cannes. Ela também esteve no festival com E Agora Onde Vamos? (2011), e neste ano disputa a Palma de Ouro com uma fábula política sobre um menino que processa os próprios pais.
Lazzaro Felice, de Alice Rohrwacher
O novo filme da diretora italiana narra o encontro e amizade entre dois jovens: o camponês Lazzaro e o nobre Tancredi. Este é o terceiro filme de Alice Rohrwacher que será apresentado no Festival de Cannes, depois de Corpo Celeste (2011), sua estreia no longa-metragem, e de As Maravilhas (2014), exibido em competição e ganhador do Grande Prêmio
Les Filles du Soleil, de Eva Husson
Primeiro filme da diretora francesa em Cannes, conta a história de Bahar, comandante de uma batalhão de mulheres que quer liberar uma cidade do Curdistão controlada por extremistas e encontrar seu filho, que é mantido refém. Uma jornalista francesa cobre o ataque e testemunha a história. Husson também dirigiu Bang Gang (2015), entre outros.
Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema
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