Aquecendo os motores para o Oscar 2018, que ocorre em 4 de março, Mulher no Cinema vai publicar, diariamente, um breve perfil de todas as profissionais femininas indicadas em cada uma das categorias.
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Já falamos sobre as mulheres que disputam melhor filme, melhor atriz e melhor atriz coadjuvante. A categoria de hoje é melhor direção, notável pela histórica sub-representação feminina: em 90 anos de Oscar, só uma mulher ganhou o prêmio e só outras quatro foram indicadas – a mais recente, agora em 2018. Confira:
Greta Gerwig, por Lady Bird: A Hora de Voar
Dona de uma elogiada carreira como atriz e roteirista, Gerwig, 34 anos, faz seu primeiro trabalho solo na direção com Lady Bird: A Hora de Voar, filme que tem paralelos com sua vida pessoal. Como a protagonista, interpretada por Saoirse Ronan, Gerwig nasceu e foi criada em Sacramento, na Califórnia, frequentou uma escola católica e se mudou para Nova York para fazer faculdade. Sua intenção original era tornar-se dramaturga, um plano frustrado pelo fato de ter sido rejeitada em todos os programas de mestrado da área. Interessou-se, então, pela atuação, e ainda durante os estudos na faculdade de Barnard conseguiu um papel em LOL (2006), de Joel Swanberg, sua estreia em longa-metragem.
A parceria com Swanberg rendeu outros frutos. Primeiro, os dois escreveram Hanna Sobe as Escadas (2007), com Gerwig atuando e Swanberg dirigindo. Depois, ambos atuaram, escreveram e dirigiram Nights and Weekends (2008), o retrato de um relacionamento à distância. Por causa destes filmes – e também de outros, como Baghead (2008), dos irmãos Jay e Mark Duplass -, Gerwig ficou conhecida como a it girl do chamado “mumblecore”: um subgênero do cinema independente americano bastante popular no período, marcado pelo baixo orçamento e pela naturalidade dos diálogos e atuações.
Em 2010, Gerwig atuou em O Solteirão, seu primeiro trabalho com o diretor Noah Baumbach (com quem começou a namorar no ano seguinte). Contracenando com Ben Stiller e Jennifer Jason Leigh, a atriz manteve o estilo que desenvolvera até então. Na época, o crítico do New York Times A.O. Scott escreveu:
“Provavelmente sem ter essa intenção, Gerwig talvez seja a atriz definitiva de sua geração, um julgamento que ofereço com toda a sinceridade e certa ambivalência. Ela parece ter embarcado em um projeto, mesmo que muito modesto, de redefinir sobre o que falamos quando falamos sobre atuação. Parte da façanha dela é que, na maior parte do tempo, ela não parece estar atuando. A transparência de suas atuações tem menos a ver com uma técnica extremamente refinada do que com a aparente ausência de método. […] Ela é a embaixadora de um estilo cinematográfico que muitas vezes parece se opor à própria ideia de estilo.”
Após O Solteirão, Gerwig estrelou filmes como O Prato e a Colher (2011), de Alison Bagnall; Descobrindo o Amor (2001), de Whit Stillman; e Lola Versus (2012), de Daryl Wein, além de conseguir um papel em Para Roma, com Amor (2012), de Woody Allen. Mas foi sua segunda parceria com Baumbach, Frances Ha (2012), que lhe deu sua personagem mais conhecida.
No papel-título, a atriz interpreta uma jovem que vive em Nova York e tem o sonho de ser dançarina, ainda que quase nada em sua vida esteja caminhando em direção a isso. Gerwig também escreveu o roteiro ao lado de Baumbach. Em entrevista à New York Times Magazine, ela contou que nem sempre os dois receberam o mesmo reconhecimento:
“Costumava me magoar muito quando as pessoas diziam: ‘Você ajudou a escrever o roteiro?’ E eu respondia: ‘Eu coescrevi, não ajudei a escrever.”
A dupla lançou mais um filme, Mistress America (2015), sobre duas irmãs postiças de personalidades radicalmente diferentes que vivem aventuras em Nova York. Novamente, Gerwig e Baumbach escreveram juntos, para ela atuar e ele dirigir. Mas quando terminou o roteiro de Lady Bird (que no início se chamava Mothers and Daughters), a artista decidiu que era hora de assumir também o papel de diretora. À New York Times Magazine, ela disse:
“Pensei: ‘Sim, ainda há mais coisas para aprender. Mas você não vai continuar aprendendo sem fazer. Você só vai aprender a próxima parte se for em frente.'”
Lady Bird acompanha um ano na vida de Christine (Ronan), que está prestes a concluir o colegial e quer estudar em universidades nova-iorquinas, apesar do histórico escolar não exatamente excelente e das dificuldades financeiras de família. Como Frances Ha e Mistress America, o coração do filme está na relação de duas mulheres – no caso, Christine e sua mãe, Marion (Laurie Metcalf). “Esta é a história de amor central”, contou a diretora. “Não conheço uma mulher que não tenha uma relação complicada, louca e linda com a mãe.”
Além do Oscar de direção, Gerwig também concorre ao de roteiro original. Lady Bird ainda está indicado aos prêmios de atriz, atriz coadjuvante e melhor filme – apenas o décimo terceiro longa-metragem dirigido por mulher a disputar na categoria. Abaixo, veja um vídeo imperdível dos bastidores das filmagens:
Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema – fotos: Getty Images
* Até 4 de março, Mulher no Cinema publica perfis de todas as mulheres indicadas ao Oscar 2018. A cada dia é publicado um texto sobre uma categoria diferente. Acompanhe a série completa aqui.