Atwood, Munro, Toews: as autoras que Sarah Polley levou às telas

Alice Munro, Margaret Atwood e Miriam Toews têm mais de um ponto em comum: as três são canadenses, as três são escritoras, as três são autoras de vários livros centrados em mulheres e as três tiveram obras adaptadas para as telas pela roteirista Sarah Polley.

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Também nascida no Canadá, Polley começou a carreira como atriz, mas nos últimos dez anos tem se dedicado principalmente ao trabalho por trás das câmeras. Neste domingo (12), ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado por Entre Mulheres, seu quarto longa-metragem como diretora.

O Mulher no Cinema aproveita o prêmio para recomendar este e mais dois outros trabalhos de Polley que adaptaram obras de escritoras importantes. Confira:

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“Longe Dela”
[Away From Her, Canada/Reino Unido/EUA, 2006]

Polley fez sua estreia no roteiro e na direção de longa-metragem com este belo filme baseado no conto “O Urso Atravessou a Montanha”, de Alice Munro. A história foi publicada pela primeira vez na revista americana The New Yorker, em 1999, e depois integrou a coletânea Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento, lançada em 2001. No centro da trama estão Fiona e Gordon, um casal que está junto há 50 anos. Quando Fiona é diagnosticada com Alzheimer e passa a viver em uma clínica especializada, os dois têm de se adaptar à falta de convívio diário e a uma série de outras mudanças em sua relação.

Em Longe Dela, os papéis principais foram para dois grandes atores: Gordon Pinsent (1930-2023) e Julie Christie, que foi indicada ao Oscar pelo trabalho. Polley também recebeu uma indicação à estatueta de roteiro adaptado, a primeira de sua carreira. E anos depois, em 2013, Munro ganhou o prêmio Nobel de Literatura, na décima terceira vez que o troféu foi entregue a uma mulher. Conheça outras adaptações de sua obra.


“Alias Grace”
[Canadá, 2017]

Esta minissérie de seis episódios é inspirada no romance Vulgo Grace (1996), de Margaret Atwood, mais conhecida por O Conto da Aia, que inspirou The Handmaid’s Tale. Na primeira vez em que tentou comprar os direitos de adaptação, Polley tinha 17 anos – e, na época, Atwood disse “não”. Foi aos 38 que ela finalmente realizou o projeto, assinando o roteiro e a produção (a direção ficou com Mary Harron).

A história é inspirada em um caso real e começa em 1859, quando Grace Marks (Sarah Gadon) está presa há 15 anos pelo assassinato do patrão e da governanta dele. Na época do crime, Grace tinha 16 anos e fora enviada à prisão perpétua, enquanto o também condenado James McDermott (Kerr Logan) foi sentenciado à morte. Tanto tempo depois, o reverendo Verringer (David Cronenberg) tenta conseguir um perdão para Grace. Para isso, convida o médico Simon Jordan (Edward Holcroft) a conversar com a prisioneira e ajudá-la a superar bloqueios na memória para relembrar qual papel desempenhou no crime.

Alias Grace está disponível na Netflix, que coproduziu a série em parceria com a emissora canadense CBC. Leia a crítica da série e ouça uma playlist inspirada na obra de Margaret Atwood.


“Entre Mulheres”
[Women Talking, EUA, 2022]

O filme que deu o Oscar à Polley é uma adaptação do romance Women Talking, de Miriam Toews, publicado em 2018. O livro foi livremente inspirado em um caso real ocorrido na Bolívia, em 2009, quando sete homens de uma colônia menonita foram acusados de sedar e estuprar mais de cem mulheres e meninas que também viviam na comunidade. Na obra de Toews, assim como na de Polley, a trama se passa em uma isolada região rural do Canadá. Depois de um ataque ser flagrado por duas jovens, as mulheres da colônia têm de se decidir entre três opções: ficar e não fazer nada; ficar e lutar; ou fugir.

“Miriam Toews escreveu um romance essencial sobre um ato radical de democracia, no qual pessoas que não concordam sobre absolutamente tudo conseguem encontrar um caminho para seguir em frente juntas”, disse Polley no palco do Oscar. “Elas fazem isso não apenas falando, mas também ouvindo.”

Além de ganhar o Oscar de roteiro original, Entre Mulheres também foi indicado ao prêmio de melhor filme – o único entre os dez concorrentes com direção de uma mulher. A atriz Frances McDormand, que tem um pequeno papel no longa, foi uma das produtoras, ao lado de Dede Gardner e Jeremy Kleiner. Leia a crítica.

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