Aquecendo os motores para o Oscar 2018, que ocorre em 4 de março, Mulher no Cinema vai publicar, diariamente, um breve perfil de todas as profissionais femininas indicadas em cada uma das categorias.
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Já falamos sobre as mulheres que disputam melhor filme, atriz, atriz coadjuvante, direção, roteiro adaptado, roteiro original, direção de fotografia, edição, direção de arte, figurino, cabelo e maquiagem, mixagem de som, animação e documentário. Agora a categoria é filme estrangeiro, na qual apenas um dos cinco concorrentes tem direção feminina.
Disputar o Oscar de filme estrangeiro é um processo de três fases: primeiro, cada país escolhe o seu candidato e o pré-indica à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas; depois, é divulgada uma lista com semifinalistas; por fim, são anunciados os cinco indicados que de fato concorrem o prêmio. Neste ano, 26 das 92 produções inscritas na disputa tinham direção ou codireção feminina. Saiba mais sobre a única finalista:
Ildikó Enyedi, por Corpo e Alma
Representante da Hungria no Oscar 2018, Enyedi nasceu em Budapeste em 1955 e estudou Economia e Cinema. Nos anos 1970 e 1980, participou de um grupo de artistas chamado Indigo e trabalhou no Béla Balázs Studio, fundado por jovens cineastas. Dirigiu seu primeiro curta, Flirt: Hipnózis, em 1979, e o primeiro longa, Vakond, em 1987.
O reconhecimento internacional veio logo depois, com Meu Século 20 (1989), que ganhou o prêmio Câmera de Ouro no Festival de Cannes. Até 1999, realizou mais quatro longas: Büvös Vadász (1994), A Gyár (1995), Tamás és Juli (1997) e Simon Mágnus (1999). A partir daí, as coisas ficaram mais difíceis: foram 18 anos até que Enyedi lançasse um novo longa – justamente Corpo e Alma. Em um evento em Hong Kong ela disse que o problema foi dinheiro:
“Não desejo a ninguém viver o que eu vivi. Todos os dias, até nos fins de semana, eu trabalhava em algum projeto. Escrevia, levava os projetos para frente, e todos eles quase conseguiam financiamento. Quase.”
Neste período longe do cinema, Enyedi trabalhou para a HBO, dirigindo a versão húngara da série In Treatment, entre 2012 e 2014. Ela também começou a dar aulas na Universidade de Teatro e Cinema de Budapeste, e um dia decidiu voltar a trabalhar em um projeto que começar dez anos antes. Era Corpo e Alma, a história de amor entre Maria, a jovem funcionária de um matadouro, e seu chefe, que é tímido e quieto como ela.
Financiado pela agência de cinema húngara, o filme ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim e foi vendido para mais de 90 países. No Brasil, estreou nos cinemas e já está disponível para streaming. Questionada pelo jornal Los Angeles Times sobre o que quer dizer com os personagens e os mundos retratados em Corpo e Alma, a diretora respondeu:
“Somos duros com nós mesmos. Há um buraco em nós. Mas, de alguma forma, somos parte de algo maior, parte do universo. Se não percebe isso, você se sente muito sozinho. Nossa cultura tenta preencher esse vazio com eficiência e praticidade; você apenas quer resolver os problemas da sua vida. Não há muito espaço para viver o momento. Hoje, é dessa maneira que os bebês nascem e que as pessoas morrem nos hospitais. Há muitos tubos e coisas médicas, mas não há espaço para o que de fato está acontecendo: alguém está dizendo adeus para a vida e para as pessoas que ama. Você precisa lutar por isso.”
Depois do sucesso de Corpo e Alma, Enyedi já tem um novo projeto: ela vai escrever e dirigir uma adaptação de A História da Minha Mulher, romance do húngaro Milán Füst. O elenco terá a francesa Léa Seydoux e o norueguês Anders Baasmo Christiansen.
Veja uma entrevista do MUBI com Ildikó Enyedi (em inglês):
Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema
* Até 4 de março, Mulher no Cinema publica perfis de todas as mulheres indicadas ao Oscar 2018. A cada dia é publicado um texto sobre uma categoria diferente. Acompanhe a série completa aqui.