Conheça Hildur Guðnadóttir, única mulher indicada ao Oscar 2020 de trilha sonora

Aquecendo os motores para o Oscar 2020, que ocorre em 9 de fevereiro, o Mulher no Cinema vai publicar, diariamente, um breve perfil de todas as profissionais indicadas em cada uma das categorias.

Oscar 2020: Confira a lista completa com todas as mulheres indicadas
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Já falamos sobre as mulheres que concorrem a melhor filmeatriz, atriz coadjuvanteroteiro originalroteiro adaptadoanimaçãodocumentáriofilme internacionalmontagemfigurinocabelo e maquiagemdesign de produção e canção original. A categoria desta vez é a de melhor trilha sonora original, na qual há apenas uma mulher entre os cinco indicados: Hildur Guðnadóttir, por Coringa.

Hildur nasceu em 1982 em Reykjavik, na Islândia, em uma família de músicos. Seu pai, Guðni Franzson, é compositor, professor e clarinetista; a mãe, Ingveldur Guðrún Ólafsdóttir, é cantora de ópera; e os dois irmãos, Gunnar Örn Tynes e Þórarinn Guðnason, também têm carreira musical. Ela começou a tocar violoncelo aos cinco anos e aos 10 já estava se apresentando ao lado de sua mãe. Mais tarde, Hildur entrou para a Academia Musical de Reykjavik e também estudou composição e novas mídias na Academia de Artes da Islândia e na Universidade de Artes de Berlim, na Alemanha.

A violoncelista lançou quatro discos solo – Mount A (2006), Without Sinking (2009), Leyfðu Ljósinu (2012) e Saman (2014) – e gravou e/ou tocou com artistas como Skúli Sverrisson, Jóhann Jóhannsson, múm, Pan Sonic, Wildbirds & Peacedrums, David Sylvian, The Knife, Fever Ray e Throbbing Gristle. Também fez trabalhos para a Orquestra Sinfônica da Islândia, a galeria Tate Modern e a Orquestra Real da Suíça, entre outras instituições.

Hildur Guðnadóttir começou a tocar violoncelo na infância – Foto: Reprodução

Hildur começou a compor para o cinema em 2007, com o curta alemão The Gift. Em Hollywood, trabalhou em projetos bem diferentes entre si, como o documentário Strong Island (2007), o épico Maria Madalena (2018) e a ação Sicário: Dia do Soldado (2018). Mas foram dois projetos de 2019 que fizeram com que ela chamasse a atenção dos críticos, das premiações e do público.

O primeiro foi a série Chernobyl, produzida pela HBO, sobre o desastre nuclear de 1986. Hildur passou um dia gravando sons na usina nuclear desativada onde o programa foi filmado, na Lituânia, e a partir destes sons compôs a trilha. “Queria entender o que devia ter passado pela cabeça das pessoas enquanto viviam aquele desastre”, afirmou, em entrevista ao The Guardian. “Não sabia qual seria o som. É como uma caça ao tesouro: você tem de entrar com os ouvidos completamente abertos e apenas escutar.”

Pelo trabalho em Chernobyl, Hildur tornou-se a segunda mulher a ganhar o Emmy de trilha sonora.

O segundo trabalho de destaque foi Coringa, filme de Todd Phillips sobre o famoso vilão dos quadrinhos. Hildur começou a trilha logo depois de ler o roteiro, bem antes de as filmagens começarem. Ela contou ao The Guardian que, após algum tempo no violoncelo, encontrou uma nota que parecia certa para o personagem. “Foi quase como se a nota me perfurasse”, afirmou. “Encontrei a voz dele e o que ele queria dizer.”

Hildur gravou parte da trilha e enviou para Phillips, que a colocou para tocar em alguns momentos da filmagem – inclusive na cena em que o ator Joaquin Phoenix, intérprete do Coringa, dança no banheiro. A compositora disse ter ficado impressionada ao assistir às imagens: “Foi surreal ver aquela incorporação física da música. Alguns gestos dele se relacionavam com os movimentos que senti quando escrevi a música”, afirmou, na entrevista ao Guardian. “Foi um dos momentos colaborativos mais fortes que já vivi.”

Hildur Guðnadóttir ganhou o Emmy por “Chernobyl” e o Globo de Ouro e o Bafta por “Coringa” – Fotos: Getty

O trabalho em Coringa tem rendido muitos prêmios a Hildur. Ela ganhou, por exemplo, o Bafta, conhecido como o Oscar do cinema britânico, e tornou-se a primeira mulher a vencer sozinha o Globo de Ouro de trilha sonora. As vitórias da islandesa são especialmente significativas dados os obstáculos que as compositoras enfrentam em Hollywood. De acordo com da San Diego State University, mulheres representaram apenas 6% dos 250 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos em 2018.

Até hoje, três mulheres ganharam o Oscar de trilha sonora: Marilyn Bergman por Yentl (em parceria com Alan Bergman e Michael Legrand), Rachel Portman por Emma e Anne Dudley por Ou Tudo ou Nada. Vale ressaltar, porém, que a categoria mudou de nome e características várias vezes ao longo dos anos.

Em entrevista ao site The Wrap, Hildur afirmou estar sentindo uma mudança no que diz respeito às oportunidades para as compositoras. “Temos grupos como a Aliança para Mulheres Compositoras, que estão tentando conscientizar as pessoas e dizendo: ‘Ei, nós quase não temos mulheres nesta indústria. Não é um pouco idiota que metade da humanidade não esteja incluída nesta parte do ato de contar histórias?”

Além de ser a única mulher, Hildur também é a única concorrente ao prêmio de trilha sonora a disputar o Oscar pela primeira vez. Ao seu lado estão John Williams (52 indicações), Randy Newman (22), Thomas Newman (15) e Alexander Desplat (11). Abaixo, ouça a trilha sonora de Coringa:


Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema – fotos: Getty Images e Reprodução

* O Mulher no Cinema publica perfis de todas as mulheres indicadas ao Oscar 2020 até 7/2. A cada dia é publicado um texto sobre uma categoria diferente. Acompanhe a série completa aqui.

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