10 filmes para conhecer a obra de Jane Campion

Palma de Ouro em Cannes, melhor direção no Festival de Veneza, troféu de roteiro e direção no Oscar: aos 70 anos, a neozelandesa Jane Campion é uma das cineastas mais premiadas da história.

Crítica: Ataque dos Cães é o melhor filme de Jane Campion desde O Piano
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A relação de Campion com a arte vem de família: sua mãe, Edith, era atriz e escritora; seu pai, Richard, era diretor teatral. Juntos, os pais da cineasta criaram a New Zealand Players, uma importante companhia de teatro neozelandesa que fez parte da infância de Campion e seus irmãos, Anna e Michael.

Depois de estudar antropologia em Wellington e artes em Londres e Sidney, nos anos 1980 Campion entrou para a Escola de Cinema, Televisão e Rádio da Austrália, dando início à carreira no cinema com curtas-metragens. Até agora, a diretora lançou oito longas, vários deles escritos ou coescritos por ela mesma.

Alguns temas e elementos se repetem, como o interesse por adaptações literárias ou universos ligados à literatura; o erotismo; as relações de poder e manipulação que se estabelecem entre homens e mulheres e/ou integrantes de uma mesma família; os personagens que lidam com algum tipo de opressão ou abuso psicológico; a forte presença da natureza e de paisagens que evocam estados emocionais; além do cuidado com todos os aspectos da produção, sobretudo fotografia, direção de arte, figurino e trilha sonora.

Abaixo, o Mulher no Cinema lista dez títulos – entre curtas, longas e também uma série de televisão – para quem quer conhecer ou se aprofundar na obra de Jane Campion:

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“Uma Lição de Disciplina: Cascas”
[An Exercise in Discipline: Peel, Austrália, 1983]

Campion começou a carreira com o pé direito: já com seu primeiro filme, Uma Lição de Disciplina: Cascas, ganhou o prêmio de melhor curta-metragem no Festival de Cannes. Com cerca de nove minutos de duração, o filme mostra uma família viajando por uma estrada. As coisas ficam tensas quando, desafiando o pai, um menino joga as cascas de uma laranja para fora da janela.


“Sweetie”
[Austrália, 1989]

O primeiro longa-metragem de Campion, também exibido no Festival de Cannes, é centrado em uma disfuncional família australiana, especialmente em duas irmãs, Kay e Dawn. Kay (Karen Colston) é supersticiosa e se une a Louis (Tom Lycos) depois de uma vidente dizer que ela encontraria o amor verdadeiro em um homem com um ponto de interrogação no rosto. Dawn (Geneviève Lemon), conhecida como Sweetie, é uma aspirante a atriz incontrolável que domina as atenções de todos.


“Um Anjo em Minha Mesa”
[An Angel at My Table, Nova Zelândia/Austrália/Reino Unido/EUA, 1990]

Campion ganhou o Grande Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza com seu segundo longa-metragem, uma cinebiografia – inicialmente produzida para a televisão – da escritora neozelandesa Janet Frame (1924-2004). Autora de romances, contos e poemas, Frame recebeu reconhecimento internacional por seu trabalho e ficou conhecida, também, por uma vida pessoal dramática, que incluiu anos de internação em um hospital psiquiátrico. O roteiro escrito por Laura Jones foi baseado na autobiografia de Frame.


“O Piano”
[The Piano, Nova Zelândia/Austrália/França/EUA, 1993]

Campion tornou-se a primeira diretora a ganhar a Palma de Ouro em Cannes com este longa que também liderou a votação de 100 melhores filmes dirigidos por mulheres de todos os tempos promovida pela BBC em 2019. Holly Hunter interpreta Ada McGrath, uma mulher muda enviada à Nova Zelândia do século 19 para um casamento arranjado. Junto com ela viajam sua filha e seu bem mais precioso: um piano. O filme ganhou três Oscar: roteiro original para Campion, melhor atriz para Hunter e atriz coadjuvante para Anna Paquin.


“Retratos de uma Mulher”
[The Portrait of a Lady, Reino Unido/EUA, 1996]

Em nova colaboração com a roteirista Laura Jones, Campion dirigiu esta versão para o cinema do livro de Henry James (1843-1916). Nicole Kidman interpreta Isabel Archer, uma decidida jovem americana que visita parentes na Europa dos anos 1870. Cobiçada por vários pretendentes, ela quer conhecer o mundo e a si mesma antes de se casar. Até que uma herança inesperada e um relacionamento com um homem sedutor alteram seus planos. Indicado ao Oscar de atriz coadjuvante (Barbara Hershey) e figurino (Janet Patterson).


“Fogo Sagrado!”
[Holy Smoke, Austrália/EUA, 1999]

Um dos principais nomes do elenco de O Piano, Harvey Keitel voltou a trabalhar com Campion neste drama exibido no Festival de Cannes e protagonizado por Kate Winslet. Ela interpreta Ruth, uma jovem australiana que entra para um culto religioso durante visita à Índia. Tentando reverter o processo, os pais de Ruth inventam uma mentira para que ela volte à Austrália e contratam PJ Waters (Keitel), um especialista em “desprogramar” convertidos. Uma curiosidade: o roteiro foi escrito pela diretora em parceria com sua irmã, Anna Campion.


“Em Carne Viva”
[In the Cut, Reino Unido/Austrália/França/EUA, 2003]

Muito mal recebido pela crítica na época, o filme causou polêmica principalmente por escalar Meg Ryan, tida como “namoradinha da América”, em um thriller erótico com cenas de sexo e nudez. Nos últimos anos, porém, muita gente tem revisitado Em Carne Viva, que foi escrito por Campion em parceria com Susanna Moore e Stavros Kazantzidis. A história é centrada em Frannie Avery, professora ouvida pela polícia local após uma jovem ser assassinada perto de onde ela mora. Aos poucos, Frannie se envolve com a investigação e com o detetive responsável, interpretado por Mark Ruffalo.


“O Brilho de uma Paixão”
[Bright Star, Reino Unido/Austrália/França, 2009]

Campion voltou ao universo da literatura nesta adaptação de uma biografia do poeta inglês John Keats (1795-1821) escrita por Andrew Motion. Também responsável pelo roteiro, a diretora focou o filme nos três últimos anos da vida do escritor e em seu relacionamento com a jovem Fanny Brawne (1800-1865), interpretados por Ben Whishaw e Abbie Cornish. O longa integrou a competição oficial do Festival de Cannes e foi indicado ao Oscar de figurino, novamente assinado por Janet Patterson.


“Top of the Lake”
[Reino Unido/Nova Zelândia/Austrália/EUA, 2013-2017]

Série de televisão criada por Campion em parceria com Gerard Lee, Top of the Lake teve duas temporadas: a primeira foi exibida em 2013; a segunda, em 2017. Na primeira, Elisabeth Moss interpreta Robin Griffin, detetive que investiga o desaparecimento de uma menina grávida na Nova Zelândia. Na segunda, intitulada Top of the Lake: China Girl, Robin está na Austrália e busca respostas após o corpo de uma garota não identificada ter sido encontrado na praia. Indicada a vários prêmios, incluindo o Emmy e o Globo de Ouro, a série teve episódios exibidos em festivais como Sundance, Berlim e Cannes.


“Ataque dos Cães”
[The Power of the Dog, Reino Unido/Nova Zelândia/Austrália/EUA/Canadá, 2021]

Campion encontrou seu primeiro protagonista homem em Phil Burbank (Benedict Cumberbatch), um fazendeiro temido por todos ao seu redor. Um dia, seu irmão George (Jesse Plemons) decide se casar e levar a mulher, Rose (Kirsten Dunst), para viver na fazenda com eles. Phil, então, começa a atormentá-la. Adaptação de Campion para o romance de Thomas Savage (1915-2003), Ataque dos Cães ganhou melhor direção no Festival de Veneza e no Oscar. Leia a crítica do filme.


Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema

Texto atualizado em 30 de abril de 2024

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