Atlantique, primeiro longa da diretora francesa de origem senegalesa Mati Diop, ganhou o Grand Prix no Festival de Cannes deste ano. O júri presidido por Alejandro González Iñárritu anunciou os vencedores da edição 2019 do evento em cerimônia realizada neste sábado (25).
Conhecida pelo trabalho como atriz em 35 Doses de Rum (2008), de Claire Denis, Diop foi a primeira mulher negra a participar da principal competição de Cannes. Neste ano, quatro dos 21 longas que concorriam à Palma de Ouro eram dirigidos por mulheres: além de Atlantique, foram selecionados Portrait de la Jeune Fille en Feu, de Céline Sciamma; Little Joe, de Jessica Hausner; e Sybil, de Justine Triet.
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Destes quatro filmes, três saíram premiados: Atlantique ganhou o Grand Prix, Sciamma venceu melhor roteiro e Emily Beecham levou como melhor atriz por seu trabalho em Little Joe. Como a Palma de Ouro foi para Parasites, de Bong Joon-ho, o tabu de Cannes com as mulheres se manteve: O Piano (1993), da neozelandesa Jane Campion, continua sendo o único filme dirigido por mulher a ganhar o principal troféu em todas as 72 edições.
Em Atlantique, Diop conta a história de Ada, jovem de 17 anos que vive em Dakar, no Senegal, e está apaixonada pelo jovem pedreiro Souleiman. No entanto, ela foi prometida a outro homem. Certa noite, Souleiman e seus companheiros de trabalho tentam deixar o país pelo mar, em busca de uma vida melhor. Dias depois, um incêndio arruína o casamento de Ada e uma febre misteriosa se espalha. Ela não sabe, mas Souleiman está de volta.
Como vem acontecendo nos últimos anos, Cannes serviu de palco para discussões de gênero – ainda que não com a mesma contundência do ano passado, quando houve uma manifestação de 82 mulheres no tapete vermelho e a assinatura de um compromisso por maior transparência e igualdade de gênero no festival. O que não significa que não houve protestos e polêmicas.
No dia da entrega da Palma de Ouro honorária para o ator francês Alain Delon, que admitiu ter batido em mulheres durante sua vida, a atriz belga-holandesa Sand Van Roy apareceu no tapete vermelho com uma tatuagem temporária que dizia “Basta de violência contra as mulheres”. Outro momento marcante aconteceu na exibição de Que Sea Ley, documentário de Juan Solanas sobre o aborto na Argentina. Mais de 60 mulheres e ativistas apareceram no tapete vermelho com bandeiras verdes, a cor do movimento pró-aborto no país.
O cinema brasileiro também foi destaque nesta edição de Cannes, com seis filmes selecionados e duas vitórias importante. Bacurau, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, levou o Prêmio do Júri na competição principal, enquanto A Vida Invisível de Eurídice Gusmão triunfou na mostra Um Certo Olhar. Dirigido por Karim Aïnouz e estrelado por Carol Duarte e Julia Stockler, o filme é uma adaptação do romance homônimo escrito por Martha Batalha sobre duas irmãs no Rio de Janeiro dos anos 1950.
Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema