Documentário de Ana Rieper resgata trajetória da cantora Clementina de Jesus

A cantora Clementina de Jesus (1901-1987) é tema do novo documentário de Ana Rieper, diretora de Vou Rifar Meu Coração (2011) e Cinco Vezes Chico: O Velho e sua Gente (2015). O filme, intitulado Clementina, faz sua estreia mundial na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, com três sessões programadas.

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Uma produção para o canal Curta!, Clementina tem apenas 75 minutos de duração, e por isso passa rapidamente pela infância e a vida pessoal da cantora. O foco principal está na carreira, iniciada tardiamente, quando a artista já estava na casa dos 60 anos, e em seu relevante papel de “elo perdido” entre a cultura da África e a do Brasil.

Clementina nasceu na cidade de Valença, no sul do Rio de Janeiro, grande reduto de escravos durante o ciclo do café (ali, aliás, está a comunidade quilombola mais antiga do estado). O documentário mostra a forte presença das rodas de jongo na região e conta como a artista, neta de escravos, aprendeu canções com a avó, que gostava de cantar lavando roupa.

Dessa forma, Clementina exalta não apenas a cantora de forma individual, mas também a tradição oral que foi fundamental para a construção de seu repertório de música afrobrasileira. Combinando imagens de arquivo e entrevistas o filme é, em última instância, sobre a população e a cultura negra no Brasil.

Alguns depoimentos seriam melhor compreendidos se o documentário identificasse os entrevistados não apenas pelo nome, mas também explicando sua relação com a artista. Há conversas, por exemplo, com o neto Bira de Jesus, o historiador Luiz Antônio Simas e o produtor Hermínio Bello de Carvalho, que rejeita o título, frequentemente atribuído a ele, de “descobridor” de Clementina. “Eu apenas prestei atenção”, disse ele. “A questão é: por que não prestaram atenção antes?”

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“Clementina”
[Brasil, 2018]
Direção: Ana Rieper
Duração: 75 minutos
Consulte as sessões do filme na Mostra


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema

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