O que te inspira a escrever? Alguém te incentivou a começar? Como fez para acreditar em si mesma? Qual a maior dificuldade que enfrentou? O que diria para alguém que não confia no próprio taco? Estas foram algumas das perguntas feitas à escritora e roteirista Thalita Rebouças por um grupo de 36 meninas da periferia de São Paulo. O encontro entre elas aconteceu nesta terça-feira (16), quando o Telecine promoveu uma sessão da comédia Fala Sério, Mãe! (2017) seguida de bate-papo com a autora da obra que inspirou o filme.
Com idade entre 15 e 22 anos e moradoras das regiões de Pirituba e M’Boi Mirim, as jovens são atendidas pelo Plano de Menina, um instituto que coloca garotas da periferia em contato com profissionais e mentoras de diferentes áreas. Criado em 2006, o projeto está presente em 10 estados e impactou 2 mil adolescentes, selecionadas em escolas, associações e organizações não-governamentais. Durante oito meses elas participam de workshops presenciais sobre temas tão variados quanto educação financeira, mídias sociais e relacionamento tóxico, e depois passam a integrar um banco de talentos que indica profissionais para empresas e instituições. O foco está na preparação para o mercado de trabalho, mas também em desenvolver confiança e autoestima.
“Saber quem somos e gostar de quem somos são ferramentas potentes para ocuparmos os espaços que quisermos”, afirmou a criadora do Plano de Menina, Viviane Duarte, em entrevista ao Mulher no Cinema. Jornalista e empreendedora, ela criou o instituto inspirada em sua própria experiência de quem “veio da quebrada e foi hackeando o sistema”. “É um projeto que acompanha a jornada da menina para que ela fure a bolha da quebrada e acesse o mundo, porque o mundo todo é dela. Ela é dona de tudo e tem de saber disso.”
Cinema para todas
O evento desta terça-feira foi o segundo realizado pelo Telecine em parceria com o Plano de Menina, e parte de um escopo maior de ações do canal que atuam em duas frentes: democratizar o acesso ao audiovisual e valorizar o protagonismo feminino nas telas, mote da campanha #mulheresfazemcinema. Em março, o Telecine levou participantes do Plano de Menina para assistir ao filme Capitã Marvel, estrelado por Brie Larson. Segundo Viviane, 80% das garotas nunca tinham ido ao cinema até então.
A sessão de Fala Sério, Mãe! aconteceu na Escola Britânica de Artes Criativas (EBAC), localizada na Vila Madalena, em São Paulo. O filme narra a relação cheia de emoções da mãe superprotetora Ângela, vivida por Ingrid Guimarães, e sua filha adolescente, Malu, papel de Larissa Manoela. No bate-papo após a exibição, as meninas falaram sobre a identificação que sentiram com a história. “Sou a irmã mais velha e me vi na Malu”, disse uma participante. “Eu e minha mãe nos sentimos vistas e isso foi muito importante”, comentou outra.
Muitas garotas também buscaram inspiração na trajetória da própria Thalita e em como ela conseguiu realizar o sonho de ser escritora. “Foi muito rico poder ver o filme e bater um papo com a Thalita, ver que ela não escreve apenas para ganhar dinheiro, mas porque realmente gosta disso”, afirmou a estudante Luz Ericka Quispe, 18 anos. “Quanto tinha 15, 16 anos, lia os livros dela sem saber que um dia poderia conhecê-la. Ela é extrovertida e passa confiança, dá vontade de sentar com ela e começar um papo de amiga mesmo.”
“Papo de amiga” define bem o tom da conversa entre Thalita e as meninas. No total, foram três rodadas de perguntas, primeiro feitas por mentoras adolescentes como Luz, e depois por outras garotas que quiseram participar. De forma informal e bem-humorada, a escritora falou sobre o começo da carreira e as inspirações para a trama de Fala Sério, Mãe!, mas também abordou temas como menstruação, relações familiares e até seu crush no cantor Paulo Ricardo durante a adolescência. Em muitas das questões, as jovens entrevistadoras buscavam dicas e conselhos a partir das experiências de Thalita.
“Elas falaram que eu sou uma inspiração, mas elas são uma inspiração para mim. Pude ver os olhinhos delas, tão jovens, brilhando como os meus não brilhavam com os meus sonhos”, afirmou a escritora. “Elas me fizeram querer dizer para a menina que eu fui: ‘acredita em você!’. Porque só fui acreditar um pouco mais tarde.”
Prestes a completar duas décadas de carreira, Rebouças vendeu mais de 2 milhões de exemplares e tem visto seus livros repetirem o sucesso no cinema. As três adaptações já lançadas – além de Fala Sério, Mãe!, É Fada! (2016) e Tudo Por um Popstar (2018) – levaram quase 6 milhões de espectadores às salas, e há várias outras em desenvolvimento, a começar por Ela Disse, Ele Disse, que estreia em outubro.
Ferramenta de transformação
Como a maioria dos livros de Thalita é centrada em personagens femininas, o mesmo acontece com as versões para o cinema. “A mulher é muito complexa e bacana de escrever. É bacana inventar a alma de uma mulher”, afirmou a autora. “É importante que [meninas] se sintam representadas na telona, na telinha ou no palco.”
Viviane Duarte também acredita no impacto do protagonismo feminino nas telas e de eventos como o realizado em parceria com o Telecine. “Para nós, isso é hackear o sistema para o bem: promover conexões com propósito”, disse. “O cinema é uma ferramenta de transformação, mas ainda é uma ferramenta de pessoas privilegiadas. Fico emocionada porque [um evento como este] é potência e vai proporcionar às meninas algo que elas vão levar para o resto da vida.”
Compartilhar estas experiências é importante para Luz, que participou do Plano de Menina em 2017 e agora trabalha como estagiária no próprio projeto, além de cursar o quarto semestre de Relações Internacionais. “Passo para as amigas da faculdade que podemos mudar nosso ponto de vista”, afirmou. “Mesmo sendo periférica, você vai conseguir atravessar e chegar onde quer.”
* Este conteúdo foi produzido pelo Mulher no Cinema e é patrocinado pelo Telecine.
Bela iniciativa!