Liliana Cavani recebe Leão de Ouro honorário no Festival de Veneza

Liliana Cavani posa com o Leão de Ouro ao lado de Charlotte Rampling - Crédito: Alessandra Benedetti - Corbis/Corbis via Getty Images

A diretora e roteirista italiana Liliana Cavani, conhecida por filmes como O Porteiro da Noite (1974) e A Pele (1981), foi homenageada nesta quarta-feira (30) com o Leão de Ouro honorário, prêmio do Festival de Veneza que reconhece o conjunto da obra de um artista.

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A cineasta de 90 anos recebeu o prêmio das mãos de Charlotte Rampling, protagonista de O Porteiro da Noite, que aborda a relação sadomasoquista de uma sobrevivente de Auschwitz e um ex-oficial nazista. “Cavani tinha em mente as palavras de uma mulher que não podia perdoar aqueles que a capturaram por a fazerem sobreviver a seu lado mais sombrio”, afirmou a atriz. “Desde o começo dos anos 1960 Cavani tem nos forçado a confrontar o que é bonito, o que é feio e o que não está resolvido.”

Nascida em Capri em 1933, Cavani se formou em Literatura Antiga na Universidade de Bolonha e, mais tarde, estudou também no Centro Experimental de Cinematografia de Roma. Ela começou a carreira nos anos 1960, fazendo documentários para a emissora de TV italiana Rai. Um deles, Phillippe Pétain: Processo a Vichy, ganhou o Leão de Ouro de melhor documentário em Veneza em 1965.

Sua estreia no cinema foi em 1966 com Francesco d’Assisi, também exibido no festival. Ela voltou à seleção e/ou à competição de Veneza várias vezes, com filmes como Galileo (1968), Os Canibais (1969), Atrás Daquela Porta (1982), Gestos de Amor (1993) e O Retorno do Talentoso Ripley (2002).

Para grande parte do público, a carreira de Cavani ficou marcada principalmente por O Porteiro da Noite, que causou polêmica na época do lançamento. Em texto para o site da Criterion Collection, Annette Insdorf definiu o filme como “provocador e problemático”, uma obra que “pode ser vista como um exercício de perversão e exploração da Holocausto por puro sensacionalismo” ou, ao mesmo tempo, “uma visão sombria de personagens comoventes que foram condenados por seu passado na Segunda Guerra”.

Liliana Cavani e Charlotte Rampling no set de “O Porteiro da Noite”- Foto: Avco Embassy Pictures

O pós-guerra também marca A Pele, filme protagonizado por Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale e Burt Lancaster que competiu em Cannes. Baseado nas memórias de Curzio Malaparte (1898-1957), o longa mostra o colapso da sociedade italiana após a derrota do nazismo e a ocupação americana na cidade de Nápoles.

A filmografia de Cavani ainda inclui Milarepa (1974), que competiu em Cannes, e Berlin Affair (1985), que competiu em Berlim, entre vários outros títulos. Ela estava afastada das telas desde 2014, quando dirigiu o telefilme Francesco, mas acaba de realizar um novo trabalho, o drama L’ordine del tempo, que será exibido fora de competição em Veneza. A história gira em torno de um grupo de amigos que se encontra anualmente e que, na reunião da vez, descobre que o mundo pode acabar em questão de horas.

Ao receber o Leão de Ouro honorário, Cavani mencionou a desigualdade de gênero na indústria cinematográfica e em Veneza. “Precisamos de oportunidades para sermos vistas”, afirmou a cineasta, que é a primeira diretora italiana a receber o Leão de Ouro honorário, e a segunda do mundo, depois de Ann Hui. “Acho que o festival deveria considerar isso. Deveria considerar o fato de que as mulheres podem fazer cinema.”

Neste ano, apenas cinco dos 23 títulos selecionados para a competição principal de Veneza são dirigidos por mulheres. O festival, que está em sua 80ª edição, premiou sete filmes dirigidos por mulheres com o Leão de Ouro até agora, três deles nos últimos três anos.


Foto: Alessandra Benedetti – Corbis/Corbis via Getty Images

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