Com entrada gratuita, Festival MIMO de Cinema leva filmes sobre música ao RJ

Depois de passar pelas cidades brasileiras de Tiradentes, Ouro Preto, Paraty e pela portuguesa Amarante, o Festival MIMO de Cinema chega nesta sexta-feira (10) à capital do Rio de Janeiro, com programação gratuita que inclui sessões de filmes sobre música, shows, workshops e mesas de debate.

O festival – que neste mês ainda irá a Olinda, palco da primeira edição, em 2004 – fica em cartaz no Rio até o dia 12 e exibe três filmes dirigidos por mulheres: Bambas, de Anná Furtado; Híbridos – Os Espíritos do Brasil, de Priscilla Telmon e Vincent Moon; e Tambores Uruguaios, de Naouel Laamiri e Rafael Ferreira. Uma atividade conhecida como “Chuva de Poesia”, na qual poemas impressos são atirados do alto de uma igreja, será dedicada à produção feminina, com trabalhos de Ana Cristina Cesar, Hilda Hilst, Marina Tsvietáieva, Emily Dickison, Rupi Kaur e Chiyo-ni, entre outras.

Conversamos com a atriz e cineasta Rejane Zilles, conhecida pelo documentário Walachai (2013), que é diretora e curadora do MIMO. Na entrevista, feita por e-mail, ela fala sobre os desafios de estar à frente do evento e sobre a importância de mulheres ocuparem este espaço, além de dar dicas para que realizadoras se saiam bem na seleção dos festivais.

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Esta é a terceira edição do MIMO no Rio de Janeiro. Como tem sido a experiência do festival na cidade?
Muito positiva. O Rio de Janeiro nos acolhe muito bem e já temos uma plateia cativa que aguarda nossa programação. O festival hoje faz parte do calendário cultural da Cidade Maravilhosa!

O MIMO começou em Olinda e passa por cidades fora do eixo Rio-SP. Qual a importância de estar nestes locais?
Uma das características de nosso festival é ocupar e valorizar os espaços do patrimônio histórico, arquitetônico e natural das cidades onde o realizamos. Fizemos a primeira edição, em 2004, nas seculares igrejas de Olinda, com concertos gratuitos no interior das igrejas e projeção de filmes em telões montados nos espaços externos. A expansão para Tiradentes, Ouro Preto e Paraty e agora Rio de Janeiro segue este conceito da valorização cultural do patrimônio histórico.

Há outras cidades em vista para edições futuras?
Em 2016 iniciamos o processo de internacionalização do MIMO. Atravessamos o Atlântico e aportamos em Portugal, na charmosa cidade de Amarante, vizinha ao Porto, onde seguimos realizando a edição europeia nos mesmos moldes do festival no Brasil. Essas cidades todas já significam um imenso circuito e por enquanto devemos permanecer neste modelo.

Quais os principais desafios de dirigir um festival?
São muitos, especialmente quando se soma a direção do festival com a curadoria.  A direção requer um olhar atento a todas as etapas, desde a coordenação da logística e da produção até o momento final da projeção dos filmes. Em paralelo, a curadoria exige um espaço interno de criação com outro foco, voltado para a seleção dos filmes e para o pensamento da programação. A cada ano assisto em média 150 produções ligadas à música – entre curtas, longas e médias -, e é sempre um desafio novo eleger os filmes que farão parte da grade de exibição, que é diferente em cada cidade.

Além de dirigir o MIMO, você fez curadorias para outros festivais. Na sua opinião, é importante que as mulheres estejam presente nesta posição de curadoria? Por quê?
Sim, acho fundamental. Precisamos ocupar nossos espaços numa sociedade que ainda nos coloca em lugares secundários. É um problema enraizado, pois historicamente lutamos por maior representatividade nas profissões que escolhemos. As mulheres no mundo do cinema ainda são minoria. Pesquisas indicam a média de uma mulher para cada cinco homens no universo cinematográfico. Não importa o tempo ou o momento, precisamos reforçar a importância da mulher e de seu espaço num sistema incapaz de conceder a elas as mesmas oportunidades e papéis que dispensa aos homens.

Na programação do MIMO no Rio, 3 de 13 filmes são dirigidos por mulheres – uma proporção de 23%, que está mais ou menos na faixa da registrada pela Mostra e pelo Festival do Rio, que foi de 28%. Na sua opinião, o que pode ser feito para aumentar a presença de diretoras nos festivais de cinema brasileiros?
Muito tem se falado sobre a representação da mulher no cinema brasileiro nos últimos anos, mas ainda é preciso percorrer um longo caminho até alcançarmos este processo de mudança quantitativa da presença das diretoras. Acredito que. mesmo em pequena velocidade, o panorama já está mudando, na medida em que se joga luz sobre essa discussão.

Você também é diretora. Algum novo projeto pela frente na direção?
Atuei em todas as frentes dos três documentários que dirigi: captação de recursos, roteiro, produção, direção e finalização. No longa-metragem Walachai, ainda coordenei a distribuição e o lançamento  comercial. Acho que deixo uma bom legado de representação feminina nos meus trabalhos [risos].  Meus filmes falam sobre uma região de colonização alemã no sul do Brasil, onde nasci. Ao filmar, percorro um caminho de volta ao meu lugar de origem. Encerrei esta trilogia e começo a preparar um documentário ligado à música. Depois de assistir a tantos filmes, me deu vontade de entrar neste território.

Que conselho você daria para jovens realizadoras na hora de inscreverem seus filmes em festivais no Brasil e no mundo? Alguma dica que poderia ajudá-las a ter seu trabalho selecionado?
O principal conselho é que fiquem atentas ao tema e ao recorte de cada festival, pois as pessoas perdem tempo inscrevendo obras que não se encaixam no perfil. É importante que se preocupem com a qualidade da cópia enviada para a seleção e que não deixem a inscrição para os últimos dias. Os filmes que chegam no início do processo de seleção têm a chance de serem avaliados com mais tempo e tranquilidade.


Foto do topo: Divulgação/Beto Figueiroa

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