‘Mulan’ vem aí: o que a diretora Niki Caro contou sobre o novo live-action da Disney

Doze anos e muitos milhões de dólares separam Encantadora de Baleias (2002), o filme que colocou a diretora neozelandesa Niki Caro no mapa do cinema mundial, e Mulan (2020), seu mais recente trabalho, que estreia nos cinemas em março. Elogiado pela crítica e indicado ao Oscar de melhor atriz, Encantadora de Baleias foi rodado com apenas US$ 3,5 milhões. Já Mulan, a versão live-action da clássica animação da Disney, fez de Caro a quarta mulher da história a dirigir uma produção com orçamento acima de US$ 100 milhões.

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É seguro dizer que, hoje, Niki Caro é a diretora mais importante da Nova Zelândia ao lado de Jane Campion, ganhadora da Palma de Ouro em Cannes por O Piano. Sua bem-sucedida carreira em Hollywood também inclui Terra Fria (2005), McFarland dos EUA (2015) e O Zoológico de Varsóvia (2017), nos quais trabalhou com Charlize Theron, Kevin Costner e Jessica Chastain, e tem tudo para alcançar um novo patamar após Mulan

Caro foi uma das convidadas do Power of Inclusion, seminário sobre a inclusão no audiovisual realizado em outubro em Auckland, na Nova Zelândia, e promovido pela New Zealand Film Commission em parceria com a Women in Film and Television International (WIFTI). A reportagem do Mulher no Cinema estava lá e conta um pouquinho do que a cineasta revelou sobre o novo Mulan:

O set foi comandado por três mulheres
Além de Niki Caro, outras duas mulheres tiveram posições muito importantes no set de Mulan: a australiana Mandy Walker assumiu a direção de fotografia e a neozelandesa Liz Tan foi a assistente de direção. Walker fez a fotografia de filmes como Austrália (2008) e Estrelas Além do Tempo (2016). Tan trabalhou em quase todos os longas de Caro, assim como na trilogia O Hobbit e em Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017). 

Mulan não estourou prazos nem orçamento
Segundo Caro, a filmagem comandada por este trio de mulheres foi encerrada dentro do cronograma previsto (84 dias) e um pouquinho abaixo do orçamento (cujo valor não foi divulgado, mas há quem diga que chegou a US$ 300 milhões). No Power of Inclusion, a diretora disse que tudo correu de forma satisfatória: “Estávamos muito bem preparadas e nos comunicamos muito bem.”

A maior parte das filmagens ocorreu na Nova Zelândia
Mulan teve cenas rodadas na China, onde se passa a história, mas a maior parte das filmagens ocorreu na Nova Zelândia, a terra natal da diretora. Foi uma nova parceria da Disney com o país, após Uma Dobra no Tempo, de Ava DuVernay, Meu Amigo, O Dragão, de David Lowery, e a saga Crônicas de Nárnia. No Power of Inclusion, Caro fez elogios à equipe: “Trabalhei em muitos lugares do mundo e costumo ser recebida com reações que variam entre suspeita, medo e ressentimento. Geralmente leva um tempinho até convencer todo mundo de que não há nada a temer. Mas a equipe neozelandesa abraçou este filme e me deu muita força”, comentou.

Niki Caro durante o Power of Inclusion – Foto: Fiona Goodall/Getty Images for New Zealand Film Commission

As cenas de ação não serão só “barulho e movimento”
Para criar as cenas de ação de Mulan, Caro alterou bastante os primeiros esboços feitos por sua equipe. A diretora disse não gostar dos filmes de ação que, sobretudo no terceiro ato, viram “apenas barulho, movimento, coisas explodindo e tudo ficando muito grande”. “A ação tinha de vir da personagem”, explicou. “Esta é basicamente a história de uma jovem mulher que passa a entender, apreciar e respeitar seu próprio poder. Ela não é uma superheroína, não vai levantar voo. Sua ação tinha de ser baseada nos elementos da física, e veio das artes marciais”.

Liu Yifei dispensou dublês em grande parte da filmagem
Escolhida para o papel de Mulan, a atriz chinesa Liu Yifei decidiu fazer, ela mesma, grande parte de suas cenas, dispensando dublês. “As artes marciais são dela, e é ela quem anda a cavalo e empunha a espada”, contou Caro, acrescentando que a experiência da atriz como dançarina fez diferença. “Ela se movia com muita graça.”

Niki Caro queria fazer um blockbuster
Se alguém ainda acha que a baixa presença de diretoras em filmes de grande orçamento é resultado de falta de interesse da parte delas, a diretora de Mulan afirmou justamente o contrário: a enorme escala do projeto foi um dos aspectos que mais a atraiu. “Tínhamos todos os brinquedos, e é possível fazer coisas lindas com eles”, afirmou. Ao mesmo tempo, a diretora afirmou que o processo de direção é sempre o mesmo, seja filmando um longa independente como Encantadora de Baleias ou uma grande produção da Disney. “O importante é contar uma boa história, com uma ótima protagonista com a qual você realmente se importa.”

Niki Caro acha que Mulher-Maravilha a ajudou a ser contratada
Para a diretora, dois fatores pesaram para que fosse escolhida para dirigir Mulan. Primeiro, o fato de já ter dirigido um filme para a Disney, McFarland dos EUA, que foi muito bem nas bilheterias. Depois, o estouro de Mulher-Maravilha (2017), dirigido por Patty Jenkins. “Acho que o sucesso de Mulher-Maravilha ajudou a convencer o estúdio de que não era arriscado dar a mim o maior filme rodado no mundo no ano passado”, comentou. A diretora disse, ainda, que sente o peso de precisar arrasar nas bilheterias. “Sinto grande responsabilidade e a levo muito a sério. Se não fizer sucesso, estarei negando oportunidades a outras mulheres.”

Niki Caro não gosta de ser chamada de “cineasta mulher”
No palco do Power of Inclusion, a diretora explicou porque não gosta de ser chamada de “cineasta mulher” ao invés de apenas “cineasta”. “Na arte da direção, o gênero não se aplica: a humanidade se aplica”, afirmou. “As diretoras têm vozes únicas e individuais, não falamos com ‘voz de mulher’. Talvez vejamos as coisas com lentes femininas, mas é limitador dizer que somos apenas uma coisa, assim como é limitador dizer que todas as mulheres que vemos na tela têm de quebrar tudo e ser fortes. Não, elas não têm, porque nós não somos sempre assim.” A diretora também afirmou que ser mulher, mãe e neozelandesa são fatores que influenciam seu trabalho. “Essas coisas, que talvez pudessem ser consideradas impedimentos para dirigir, na verdade são meus pontos fortes. Acho que trazer tudo isso às histórias que conto me ajudou muito.”

Quando alguém fala “cineasta”, quem Niki Caro visualiza?
“Eu vejo a Jane Campion”, respondeu.


Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema. Ela viajou para Auckland e participou do seminário Power of Inclusion a convite da Tourism New Zealand.

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