Stephanie Levi-John sobre igualdade na TV: ‘Mudança é lenta, mas está em curso’

Um número recorde de atores negros tinha sido premiado no Emmy, o Oscar da televisão americana, apenas algumas horas antes de o Mulher no Cinema entrevistar a atriz inglesa Stephanie Levi-John. O encontro virtual, via Zoom, era para falar sobre a segunda temporada da série The Spanish Princess, exibida aos domingos pela plataforma Starzplay. Mas o resultado da premiação de certa forma dialogava com a pauta, já que The Spanish Princess é um raro drama histórico sobre a realeza britânica que inclui atores negros no elenco.

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“Há mais reconhecimento, mais luz está sendo lançada sobre atores não brancos”, afirmou Levi-John, questionada sobre se vê sinais positivos no que diz respeito à igualdade racial no cinema e na televisão. “Acho que embora a mudança seja lenta, ela está acontecendo. E ver o sucesso destes atores incríveis, que se parecem comigo, só me dá mais motivação para perseverar e seguir em frente fazendo que amo.”

Assista à entrevista com Stephanie Levi-John:

Nascida em Londres e de ascendência afro-caribenha, Levi-John descobriu que queria ser atriz aos nove anos, quando viu “uma amiga que se parecia com ela” atuar em uma peça no National Theatre. Ela estudou na Identity School of Acting, criada por Femi Oguns para fortalecer a comunidade de atores não brancos, e começou a carreira nos palcos. Atuou, também, no curta Diversion (2017) e na série irlandesa Striking Out (2018), até conseguir o papel de Lina de Cardonnes em The Spanish Princess.

Criada por Emma Frost e Matthew Graham, a série é continuação de outros dois dramas históricos da Starz, The White Queen e de The White Princess, e foi inspirada nos romances The Constant Princess e The King’s Curse, escritos por Philippa Gregory. A trama gira em torno de Catarina de Aragão (1485-1536), a princesa espanhola que tornou-se rainha da Inglaterra após casar-se com Henrique 8º, e que no programa é interpretada por Charlotte Hope. Durante a pesquisa, Frost e Graham descobriram registros de que Catarina chegara ao Reino Unido acompanhada de uma dama de companhia de origem africana. Mesmo sem informações detalhadas, inspiraram-se na história para criar Lina de Cardonnes.

O elenco da série “The Spanish Princess”, exibida pela Starzplay

Ao contrário da maior parte dos colegas de elenco, Levi-John não tinha muito material histórico no qual se basear. Mas ela construiu a personagem estudando o período, pesquisando as informações contidas no roteiro e buscando os paralelos entre a ficção e sua vida pessoal.

Na série, Lina, que é filha de muçulmanos forçados a se converter ao catolicismo, se apaixona por Oviedo, (Aaron Cobham), soldado espanhol que manteve-se fiel ao Islã. Ela está sempre dividida entre Catarina e Oviedo, a fé católica e a muçulmana, a vontade de pertencer à nova casa e a de preservar suas origens. “Como filha de pessoas da diáspora, entendo a sensação de não saber bem onde se colocar, de querer se encaixar, mas também seguir sendo fiel a si mesma”, afirmou Levi-John. “É difícil ser reconhecida, ser feliz e estar em paz em meio ao tumulto em um lugar que não é necessariamente sua casa. A série me abriu os olhos quanto a isso.”

Durante a entrevista, a atriz se emocionou ao falar sobre a possibilidade de, agora, também ser possível fonte de inspiração para mulheres que se parecem com ela. “Isso só mostra que seus sonhos são válidos”, comentou. “Na minha carreira, muitas chances estavam contra mim: venho de habitação social, meus pais são imigrantes, atuar não era a rota segura. Poderia ter me tornado professora, como minha mãe queria, e ter meu dinheiro para pagar minhas contas. Mas quando você sonha em fazer algo, é muito importante ir atrás.”


Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema

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