“A Maldição da Casa Winchester” leva debate sobre armas ao terror

O debate sobre controle de armas chega aos filmes de terror com A Maldição da Casa Winchester, longa dos irmãos Michael e Peter Spierig (Jogos Mortais: Jigsaw) que está em cartaz nos cinemas e é estrelado pela vencedora do Oscar Helen Mirren.

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Inspirado em “eventos verdadeiros”, o filme conta a história da americana Sarah Winchester (1838-1922), que após a morte do marido, em 1881, herdou sua fortuna e 50% da Winchester Repeating Arms Company, empresa fabricante de armas fundada em 1866. Com o dinheiro, a viúva financiou a construção de uma mansão de mais de 100 quartos erguida sem planejamento prévio em uma obra que durou décadas e só parou após sua morte. A casa, localizada em San Jose, na Califórnia, despertou uma série de teorias, inclusive a de que era assombrada por fantasmas de pessoas mortas com as armas da companhia. Boatos que tornaram-se fortes o suficiente para transformar o local em atração turística, a chamada Winchester Mystery House, ou “Casa Misteriosa dos Winchester”, em tradução livre.

Param mais ou menos aí os “eventos verdadeiros” da trama, ambientada em 1906 e centrada na visita à mansão de um personagem fictício, o psiquiatra Eric Price (Jason Clark). Contratado pela Winchester Co., ele tem a missão de avaliar a sanidade mental da viúva e determinar se ela está apta a seguir no comando nos negócios.

Em se tratando de Hollywood, é claro que Price também tem seus próprio demônios: sua mulher morreu de forma traumática (adivinhem como) e ele adquiriu um vício em ópio, conveniente para lançar dúvidas sobre as visões e sustos que ele mesmo começa a ter assim que chega à mansão. O filme aproveita a construção inusitada para criar ambientes sinistros: muitos corredores, escadas que levam a lugar nenhum, mordomos duvidosos atrás de cada porta, armários antigos que tremem com o vento, quartos iluminados à luz de velas e até um sistema interno de som que funciona, basicamente, como fonte de ruídos assustadores. Atormentada pelos espíritos, a própria Sarah Winchester não é das visões mais tranquilizantes, movendo-se pela casa com um pesado traje vitoriano e um véu negro.

As entrevistas com o psiquiatra rapidamente revelam a culpa da viúva em relação aos negócios da família e sua convicção de que, no caso das mortes a tiros, quem fabrica as armas é tão responsável quanto quem aperta o gatilho. É a deixa para que os irmãos Spierig – também autores do roteiro, em parceria com Tom Vaught – insiram um componente político na trama. A Maldição da Casa Winchester foi lançado nos Estados Unidos semanas antes do ataque à escola em Parkland, na Flórida, e quem o assiste agora inevitavelmente se lembra, por exemplo, da recente decisão de restringir a venda de armamentos tomada pela empresa americana Dick’s Sporting Goods.

Os paralelos com a vida real não são suficientes para agregar grande inteligência ao roteiro – e é difícil entender o motivo de a viúva não se afastar da empresa, uma possível forma de alívio que também é de clara vontade dos demais acionistas. Como muitos filmes do gênero, A Maldição da Casa Winchester vai melhor nos sustos do que na resolução do conflito. Mas a presença de Helen Mirren ajuda: se for para ver um terror bobinho, melhor com ela do que sem ela.

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“A Maldição da Casa Winchester”
[Winchester, Austrália/EUA, 2018]
Direção: Michael e Peter Spierig
Elenco: Helen Mirren, Jason Clarke, Sarah Snook.
Duração: 99 minutos


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema.

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