Em janeiro de 2019, um estudo da Annenberg Inclusion Initiative analisou 1,2 mil filmes que fizeram sucesso nas bilheterias americanas entre 2007 e 2018 e buscou responder à pergunta: quais tipos de histórias têm mais ou menos mulheres por trás das câmeras? Revelou-se que o drama era o gênero menos desigual: para cada 10,8 cineastas homens, havia uma cineasta mulher. Em contraste, a proporção era bem pior nos longas de terror (33 para 1) e nos de fantasia e ficção científica (34,7 para 1). Mas isolados no ranking, e com um número impressionante, estavam os filmes de ação: 68 cineastas homens para cada mulher.
Ação, terror e fantasia se combinam em Uma Sombra na Nuvem, longa-metragem inédito nos cinemas brasileiros que chega com exclusividade ao Telecine neste sábado (17), em lançamento simultâneo no Telecine Premium e em sua plataforma de streaming. Por trás do filme está Roseanne Liang, uma diretora e roteirista neozelandesa que está disposta a desafiar as estatísticas. Fã de franquias como Indiana Jones, Alien e O Exterminador do Futuro, ela despontou no cinema de seu país com a comédia romântica My Wedding and Other Secrets (2011), mas sempre teve a ambição de trabalhar no cinema de gênero.
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Os planos começaram a se concretizar com o curta de ação Do No Harm (2017), que a ajudou a conseguir representação em Hollywood. Entre os projetos que chegaram às suas mãos estava Uma Sombra na Nuvem, trama ambientada na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e centrada em Maude Garrett, personagem vivida pela atriz Chloë Grace Moretz. Quando o filme começa, Maude se apresenta aos tripulantes de um bombardeiro B-17 das forças aliadas como militar e piloto, uma de várias mulheres atuando no conflito principalmente em missões de entrega. Os tripulantes – todos homens – desconfiam, mas Maude embarca, carregando consigo um pacote ultrassecreto que, segundo ela, deve ser protegido a qualquer custo.
O pacote fica com o piloto, e Maude tem de se acomodar na chamada ball turret, ou torre esférica, um pequeno espaço acoplado à aeronave no qual se passa a maior parte da ação do filme. Enquanto ouve os insultos machistas dos tripulantes pelo sistema de comunicação interno, Maude enfrenta não apenas os ataques dos japoneses como também os de uma criatura maligna.
A sinopse já indica que Uma Sombra na Nuvem é um projeto ambicioso – um misto de filme de monstro e filme de guerra que também tem algo a dizer sobre desigualdade de gênero e ambientes de trabalho tóxicos. Liang leu o roteiro em 2018, pouco depois de o movimento #MeToo abalar Hollywood, e entendeu se tratar de uma história ambientada no passado, mas relevante para o presente. O próprio filme se veria envolvido nas discussões relacionadas ao #MeToo quando o autor do roteiro original, Max Landis, foi acusado de abuso sexual por múltiplas mulheres e afastado do projeto. Liang, que não chegou a colaborar com Landis, reescreveu o texto, creditado aos dois para atender às regras do Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos.
A cineasta também foi quem definiu o estilo do filme, que remete aos anos 1980 apesar da ambientação na Segunda Guerra. Com um orçamento pequeno para os padrões de Hollywood (o valor exato não foi divulgado), Uma Sombra na Nuvem foi rodado em Auckland, na Nova Zelândia, e contou com a equipe de uma celebrada empresa local para a criação dos efeitos especiais: a Weta, criada por Peter Jackson e envolvida em centenas de projetos hollywoodianos desde o sucesso da trilogia O Senhor dos Anéis.
Em entrevista ao Mulher no Cinema, concedida via Zoom, Roseanne Liang falou sobre os desafios técnicos da filmagem (incluindo a claustrofobia da atriz Chloë Grace Moretz) e as referências históricas e visuais que estão por trás do gremlin de Uma Sombra na Nuvem. Ela também recusou os rótulos de “feminino” ou “masculino” dados aos filmes com base no gênero cinematográfico ou do protagonista. “Se entendemos que não podemos ser tão rígidos e tão binários no que diz respeito a gênero no nosso mundo social, precisamos entender que as histórias que contamos também não são binárias”, afirmou
ATENÇÃO: a entrevista toca em pontos importantes da trama que são mostrados no trailer e no material promocional. Portanto, não chega a ser spoiler. Mas se você prefere não saber nada, leia a entrevista após assistir ao filme.
Este é um filme de ação no qual o espectador passa bastante tempo com apenas um personagem e em uma única locação. O que te atraiu neste jeito de contar a história?
Do ponto de vista criativo, adorei a possibilidade de colocar o público na mente da protagonista. Queria que o filme tivesse um ponto de vista muito claro e que o espectador ficasse com ela o tempo todo, sentindo o que ela estava sentindo, apesar de nem sempre ser possível confiar nela. Às vezes a protagonista mente e suas ideias não são as melhores, mas mesmo quando as coisas ficam loucas você está com ela. Do ponto de vista prático, é meu primeiro trabalho em Hollywood, e não tinha recursos para fazer um filme que fosse grandioso o tempo todo. Esta era uma boa forma de fazer um longa hollywoodiano dentro do orçamento disponível a alguém como eu.
O que esse formato significou em termos de filmagem? Como você pensou o uso de câmera e som para criar tensão e manter o público interessado?
Foi uma aposta mesmo, e alguns produtores se preocuparam com a possibilidade de os primeiros 40 minutos do filmes serem um tédio [risos]. E acho que teriam sido se não tivéssemos a atriz certa, o design de produção certo, o trabalho de câmera certo. Todas essas coisas se combinaram. Chloë e eu trabalhamos juntas para garantir que a verdade e a lógica da personagem estivessem sempre presentes. Falamos muito sobre a importância de o roteiro ser econômico e de várias vezes ela dizer uma coisa e fazer outra. É interessante acompanhar as negociações que ela faz consigo mesma, o modo como tem de lidar com as vozes dos tripulantes homens falando em seu ouvido. Chloë fez um trabalho incrível e segura a gente com sua atuação.
Como era o set? Vocês construíram a parte do avião em que ela é vista no filme?
Os primeiros 40 minutos foram filmados durante duas semanas no que era, essencialmente, uma pequena bola em cima de um suporte de metal. Queríamos que tudo parecesse visceralmente real, então construímos o set de forma que a bola fosse controlada hidraulicamente e se movesse de acordo com a mecânica de uma torre esférica de verdade. Como Chloë sofre de claustrofobia, uma saída ficava sempre aberta. Mas não era uma saída fácil: para entrar e sair ela tinha de usar escadas, então se a claustrofobia falasse mais alto, precisaria pular da bola para o chão. Ela lidou com esse desafio mentalmente, e estávamos sempre conversando para ter certeza de que estava se sentindo segura. Os atores com quem ela conversa no filme também estavam presentes, mas num contêiner montado no estacionamento do set. Quis fazer dessa forma [e não usando vozes gravadas ou outras pessoas lendo as falas dos atores] para que a reação de Chloé fosse sempre orgânica e ela nunca soubesse o que viria depois. Em alguns momentos, com a permissão de todos, também pedi para que improvisassem os diálogos. Tudo isso colaborou para conseguirmos a energia dos primeiros 40 minutos.
A trama se passa em 1943, mas opta por sons e visuais típicos dos anos 1980. Fale um pouco sobre as decisões relativas ao visual e ao estilo do filme.
Não sou uma pessoa especialmente ligada à Segunda Guerra Mundial e nunca pensei que faria um filme sobre essa época. Mas li o roteiro em 2018, quando o #MeToo tinha acabado de acontecer, e o achei muito atual, até urgente. Ele dizia algo sobre a sociedade de hoje, e queria honrar essa sensação de modernidade. A trilha que remete aos anos 1980 foi algo que propus desde o início. Filmes sobre a Segunda Guerra costumam usar música tradicional de orquestra, mas gosto do modo como os sintetizadores têm, ao mesmo tempo, um som épico e grandioso, e um elemento de diversão. Isto também foi algo que me atraiu nesse filme: o fato de ser meio pulp, de não se levar muito a sério apesar de estar falando sobre temas sérios.
“Cresci assistindo a filmes protagonizados por homens – como ‘Indiana Jones’, ‘Duro de Matar’, ‘Matrix’ – e não os considero masculinos. Sou capaz de me ver nestes filmes, assim como em ‘O Exterminador do Futuro 2′ e ‘Alien’, que têm protagonistas mulheres. Da mesma forma, não os vejo como filmes femininos. Se entendemos que não podemos ser tão rígidos e tão binários no que diz respeito a gênero no nosso mundo social, precisamos entender que as histórias que contamos também não são binárias. Trata-se de um modo muito duro e antigo de se pensar sobre cinema.”
E a criatura? Como você e a equipe da Weta chegaram ao gremlin do filme?
Durante a pesquisa histórica, descobrimos que os gremlins foram na Segunda Guerra o que os alienígenas foram no Caso Roswell [quando objetos encontrados nos anos 1940 em uma cidade americana foram atribuídos a um disco voador por algumas pessoas, ainda que o governo tenha dito se tratar de destroços de um balão da Aeronáutica]. Aparentemente começou como piada: se algo dava errado, militares da Força Aérea brincavam que a culpa era dos gremlins. Depois, alguns pilotos começaram a dizer que de fato tinham visto gremlins. Encontramos o desenho de um piloto que mostrava um gremlin parecido à figura de um morcego. Esta foi a primeira referência com a qual trabalhamos. O pessoal da Weta estava animado em fazer uma criatura diferente e com um orçamento menor do que o de costume. Além de morcegos, olhamos para criaturas como ragfish [peixe encontrado no norte do Oceano Pacífico] e crocodilos. Gostávamos da ideia de o personagem ser imprevisível como um animal selvagem, uma criatura que age de acordo com seus desejos.
Você divide o crédito de roteirista com Max Landis, mas não colaborou com ele, fazendo uma adaptação do roteiro original que ele tinha escrito. Que tipo de mudanças você fez?
Diria que aprofundei o que era um pouco superficial. Por exemplo, no roteiro original os sete pilotos homens soavam como uma pessoa só. Embora entenda que a ideia era que eles operassem como uma alcateia, consideramos a ideia de cortar alguns, porque não precisávamos de sete pessoas dizendo a mesma coisa. Como manter o número seria mais fiel à realidade, trabalhei para deixar cada homem diferente um do outro. O final também era bastante diferente. Recebi um roteiro bem curto e fui destrinchando, inclusive do ponto de vista das cenas de ação. Por exemplo, a cena em que ela quebra o dedo era muito breve, então coloquei um pouco mais de “lógica de luta” ali. O roteiro que recebi tinha uma base interessante, mas precisava ficar mais forte e complexo.
A americana Kathryn Bigelow é conhecida por filmes de ação e foi a primeira e por enquanto única mulher a ganhar o Oscar de direção. Alguns consideram frustrante que ela tenha sido premiada por Guerra ao Terror, um filme de ação e de guerra sobre homens. Para estas pessoas, é como se a única mulher premiada pela Academia tivesse sido premiada por um filme que é reconhecido como “masculino”. Consigo compreender a frustração, porque de fato o que é reconhecido como masculino tende a ser mais valorizado pela indústria cinematográfica e pela sociedade. Ao mesmo tempo, faço o questionamento que Bigelow fazia já nos anos 1990: por que filmes de ação são reconhecidos como masculinos?
O seu filme, por outro lado, tem protagonista mulher e, de certa forma, aborda o machismo. Por estes motivos, é bem possível que seja reconhecido como “feminino” ou “voltado ao público feminino”. Como você vê toda essa questão? Concorda com a ideia de que existem filmes masculinos e femininos ou ação pode ser um gênero sem gênero?
Esta é uma questão muito complicada e sofisticada – e amo pensar sobre ela, porque entendo perfeitamente o que você está dizendo. Cresci assistindo a filmes protagonizados por homens – como Indiana Jones, Duro de Matar, Matrix – e não os considero masculinos. Esse tipo de classificação de gênero que se faz com o cinema me parece tão rígida quanto o preconceito de gênero em si. Sou capaz de me ver nos filmes de ação que citei, assim como em O Exterminador do Futuro 2 e Alien, que têm protagonistas mulheres. Da mesma forma, não os vejo como filmes femininos. Sim, a maternidade é um elemento da história, mas acredito que os homens são capazes de entender a raiva de uma mãe, a determinação e a força que uma mãe pode ter. De um lado da moeda está o feminismo e as mulheres acessarem a igualdade; de outro, está a masculinidade e os homens poderem acessar a vulnerabilidade e compreender suas emoções. Acho que estas duas coisas estão conectadas. Se entendemos que não podemos ser tão rígidos e tão binários no que diz respeito a gênero no nosso mundo social, precisamos entender que as histórias que contamos também não são binárias. Trata-se de um modo muito duro e antigo de se pensar sobre cinema. As pessoas comentam que todos os meus filmes são sobre mulheres, e faço essa escolha de forma orgânica. Mas quero fazer filmes com protagonistas homens também.
“O sentimento anti-asiático está se espalhando pelo mundo. Os crimes de ódio aumentaram. Precisamos estar na mídia mais do que estivemos até agora. Durante muito temos fomos a minoria modelo: mantenha a cabeça baixa, não diga nada. Mas agora precisamos falar. Agora precisamos estar presentes. Agora as pessoas precisam aceitar que somos parte da sociedade. Estamos nas ruas, mas não nas telas, e estarmos nas telas é importante.”
Você mencionou limitações de orçamento, e esta é uma realidade para muitas diretoras. Há citações de donos de estúdio dos anos 1920 dizendo que contratar mulheres era um risco financeiro, mas muitos minimizam a desigualdade nos orçamentos dizendo que as mulheres têm talento para lidar com restrições e talvez nem tenham interesse em dirigir blockbusters. Para você, qual a importância de as mulheres terem acesso a estes recursos? Você gostaria de ter todas as ferramentas possíveis a sua disposição?
Para mim se trata de uma progressão natural como cineasta, seja homem ou mulher. Tenho sorte de não ter passado por esse tipo de discriminação – ou pelo menos nunca pude me comparar com alguém de forma tão direta no que diz respeito a orçamento. Fiz um curta de 12 minutos que me permitiu fazer Uma Sombra na Nuvem e espero que Uma Sombra na Nuvem me permita acessar orçamentos maiores. Entendo o nervosismo dos investidores, entendo como o sistema funciona. Meu papel é convencer os donos do dinheiro de que podem confiar em mim. Sem dúvida terei de ir passo a passo, mas não tenho a menor dúvida de que chegarei lá. Tenho de fazer o melhor trabalho que posso, e se falhar em um passo, talvez não consiga outra chance. Há muitos exemplos de homens que falharam, mas ganharam outra chance, e de mulheres que falharam e não receberam. O fato é que tenho uma rede de pessoas ao meu redor que entendem meu valor, e isso alimenta a minha crença no meu próprio valor. Sou uma boa diretora de ação porque tenho conhecimento sobre como desenhar cenas de ação. Sei trabalhar com efeitos visuais porque tenho um diploma em ciência da computação. É constrangedor ficar falando esse tipo de coisa, mas se alguém vier questionar minha capacidade, bom, aqui está meu histórico. É possível que eu tenha de provar alguma coisa ou convencer alguém a confiar em mim. Mas acho que os homens também têm de fazer isso. Ou assim espero. Não estou nas reuniões deles.
Mas para que fique registrado, você gostaria de trabalhar com orçamentos maiores ou tem algum apreço especial por limitações financeiras?
[Risos] Não quero continuar fazendo filmes de baixo orçamento. Sem dúvida quero subir os degraus, mas entendo que não vou voar de helicóptero até o topo da escada, que seria loucura alguém me dar US$ 200 milhões agora. Quer dizer, se quiserem me dar, sigam em frente [risos].
Você é neozelandesa de origem chinesa e cofundadora do Pan-Asian Screen Collective, um coletivo de profissionais de origem pan-asiática que trabalham com audiovisual na Nova Zelândia. Neste ano há muitos artistas asiáticos ou americanos de origem asiática na disputa pelo Oscar, incluindo Chloé Zhao, favorita ao prêmio de direção por Nomadland. Recentemente também vimos o grande sucesso de filmes como Parasita e Podres de Ricos. Há mais oportunidades para os talentos asiáticos e maior interesse do público por essas histórias?
É animador termos modelos como Chloé Zhao e Jon M. Chu fazendo filmes incríveis e bem-sucedidos. Isso é essencial porque [ao longo do tempo] tivemos poucos. Precisamos ter mais filmes e filmes variados – isso é muito importante para quem está começando. E é importante porque o sentimento anti-asiático está se espalhando pelo mundo. Nos Estados Unidos os crimes de ódio aumentaram, e estamos vendo isso acontecer aqui na Nova Zelândia também. Precisamos estar na mídia mais do que estivemos até agora. Durante muito temos fomos a minoria modelo: mantenha a cabeça baixa, não diga nada. Mas agora precisamos falar. Agora precisamos estar presentes. Agora as pessoas precisam aceitar que somos parte da sociedade. Estamos nas ruas, mas não nas telas, e estarmos nas telas é importante.
Que conselho você daria para as mulheres que querem trabalhar no cinema?
Não esperem obter permissão. Às vezes me pergunto: será que estaria pensando tanto ou me desculpando tanto se fosse um homem branco, hétero e de classe média? Como mulheres, somos socializadas para estar a serviço, sermos gratas, nos desculparmos. Mas não há necessidade de estar constantemente me desculpando e demonstrando gratidão. Há uma diferença entre ser arrogante e dar apoio a você mesma. Isto foi algo que aprendi com os americanos, porque na Nova Zelândia pega um pouco mal você pensar muito de si mesmo. Mas nos Estados Unidos existe essa ideia de apoiar a si mesma. “Você é boa, sim.” “Você tem valor, sim.” “Você traz algo novo, sim.” Por muito tempo as mulheres não puderam falar e contar histórias, e essa é mais uma razão para que se sintam confiantes. Acho que as pessoas respeitam esta confiança – e estão prontas para ela.
Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema. Este texto foi produzido pelo Mulher no Cinema e patrocinado pelo Telecine. A foto do topo é de Dean O’Gorman.
Uma Sombra na Nuvem, longa-metragem inédito nos cinemas brasileiros, chega com exclusividade ao Telecine neste sábado (17), em lançamento simultâneo no Telecine Premium e no streaming. Vale lembrar que novos assinantes do aplicativo de filmes ganham os primeiros 30 dias de acesso grátis.