Dois assuntos vão dominar as discussões sobre a cerimônia do Oscar, realizada neste domingo (26) em Los Angeles: o inacreditável erro no momento da entrega do prêmio de melhor filme, e a vitória de Moonlight: Sob a Luz do Luar, um longa de baixo orçamento, sobre um homossexual e com elenco e equipe formados majoritariamente por artistas negros. Em tempos de Donald Trump e depois de dois anos de #OscarsSoWhite, a escolha é, sem dúvida, significativa.
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Mas se a Academia sinalizou em direção à igualdade racial, o mesmo não pode ser dito em relação à igualdade de gênero, pois a premiação deste ano foi desastrosa para as mulheres.
O Oscar ficou um pouco menos branco, mas não deixou de ser o clube do Bolinha. E desta vez nem se tratam dos tabus de sempre, ou seja, da ausência de mulheres indicadas aos prêmios de direção (quatro em 89 anos) e direção de fotografia (zero em 89 anos), ou à menor presença em categorias técnicas (estudos apontam que, excluindo-se as atrizes, mulheres representaram apenas 20% dos indicados deste ano). O dado mais grave do Oscar 2017 é que absolutamente nenhum filme de diretora foi premiado, algo que não acontecia desde 2006, de acordo com levantamento do Mulher no Cinema.
As chances não eram muitas, mas Toni Erdmann, de Maren Ade, estava indicado na categoria de filme estrangeiro, assim como A 13ª Emenda, de Ava Duvernay, disputava documentário. Além disso, curtas dirigidos por mulheres – como Joe’s Violin, de Kahane Cooperman, e 4.1 Miles, de Daphne Matziaraki – também ficaram sem a estatueta.
Para completar, as raras e até históricas indicações femininas aos prêmios de edição, trilha sonora, edição de som e mixagem de som não se transformaram em vitória. No total, foram nove premiadas, três a menos do que o ano passado, em categorias que já têm histórica presença feminina (figurino e direção de arte), exclusivamente femininas (atriz e atriz coadjuvante) ou relativas à produção, a função na qual a porcentagem de mulheres costuma ser menos desigual.
Sem fazer nenhum avanço, o Oscar mais uma vez escancarou a desigualdade de gênero de Hollywood: se têm menos oportunidades de trabalhar, sobretudo em filmes comerciais como os que costumam concorrer, as mulheres também terão menos oportunidades de serem reconhecidas pelo maior prêmio da indústria cinematográfica americana.
Já se vão sete anos desde que Kathryn Bigelow fez história ao ganhar o Oscar de direção, mas até agora nenhuma outra cineasta foi indicada. Já se vão dois anos desde o discurso de Patricia Arquette por direitos iguais que inspirou tantas outras atrizes a falar sobre o assunto, mas a desigualdade segue gritante. O debate sobre a mulher no cinema cresceu, mas a resistência de Hollywood à mudança se faz evidente numa imagem tão simples quanto a foto oficial dos indicados ao Oscar: e se destacássemos apenas as mulheres, o que aconteceria?
A resposta, aqui:
Veja todas as ganhadoras do Oscar:
Melhor filme (produtoras)
- Adele Romanski, por Moonlight: Sobre a Luz do Luar
- Dede Gardner, por Moonlight: Sobre a Luz do Luar
Atriz
- Emma Stone, por La La Land: Cantando Estações
Atriz coadjuvante
- Viola Davis, por Um Limite Entre Nós
Documentário (produtora)
- Caroline Waterlow, por O.J.: Made in America
Figurino
- Colleen Atwood, por Animais Fantásticos e Onde Habitam
Direção de arte
- Sandy Reynolds-Wasco, por La La Land: Cantando Estações
Curta de documentário (produtora)
- Joanna Natasegara, por Os Capacetes Brancos
Curta – live action (produtora)
- Anna Udvardy, por Sing
Foto do topo: Jeff Lipsky / ©A.M.P.A.S.