Euzhan Palcy fez história mais uma vez: aos 64 anos, ela tornou-se a primeira diretora negra a ganhar um Oscar honorário, troféu especial que reconhece “uma obra de distinção extraordinária e contribuições excepcionais às artes e ciências cinematográficas”. A cerimônia foi realizada neste sábado (19).
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Palcy, que nasceu na Martinica e também é roteirista e produtora, recebeu o prêmio das mãos de Viola Davis. “Ela teve uma vida fascinante, mas quero falar de seu trabalho”, disse a atriz. “Foi com seu trabalho que ela deixou sua marca, lutando pelo que era certo, abrindo a cortina para mostrar o que estava escondido para muita gente, dividindo com o mundo histórias que precisavam ser contadas.”
Com seu longa de estreia, Sugar Cane Alley (1983), Palcy ganhou o Urso de Prata no Festival de Veneza e tornou-se a primeira mulher e a primeira pessoa negra a ganhar o troféu de melhor filme de estreia no César, considerado o Oscar do cinema francês.
Seu filme seguinte, Assassinato Sob Custódia (1989) foi o primeiro longa de uma diretora negra a ser produzido por um grande estúdio americano, e rendeu uma indicação ao Oscar para o ator Marlon Brando (1924-2004), a última de sua carreira. Palcy também dirigiu o musical Siméon (1992), a série documental Aimé Césaire: A Voice For History (1994) e a minissérie The Brides of Bourbon Island (2007), entre outros trabalhos.
Ao receber o Oscar honorário, Palcy falou sobre a razão dos momentos de pausa na carreira. “Se não fiz filmes por alguns anos, foi porque decidi ficar em silêncio. E fiquei em silêncio porque estava exausta. Estava exausta de ouvir que era pioneira, de ser elogiada por ser a primeira a fazer tantas coisas, mas de me negarem a chance de fazer os filmes que queria”, afirmou. “E por que mantive meu silêncio? Porque não consegui mais ouvir as palavras: negros não dão lucro; mulheres não dão lucro; mulheres negras não dão lucro. Ora, pessoal, olhem para a minha irmã aqui”, disse Palcy, se referindo à Viola Davis, que recentemente fez sucesso nas bilheterias com A Mulher-Rei. “Negros dão lucro! Mulheres dão lucro! Mulheres negras dão lucro!”
Palcy foi à cerimônia acompanhada de duas jovens estudantes de cinema da Martinica e disse se sentir “encorajada a falar novamente” e “oferecer os filmes de todos os gêneros que sempre quis fazer, sem ser censurada ou silenciada”. “Minhas histórias não são negras nem brancas, são universais”, completou.
A única outra mulher negra a ganhar um Oscar honorário foi a atriz Cicely Tyson (1924-2021), em 2018; e as únicas outras cineastas mulheres foram Agnès Varda (1928-2019) em 2017; Lina Wertmüller (1928-2021), em 2019; e Elaine May e Liv Ullmann, em 2021.
Neste sábado, a Academia também deu um troféu honorário para a americana Diane Warren, a primeira compositora a receber a homenagem, e para o diretor Peter Weir e o ator Michael J. Fox.
Assista ao discurso de Euzhan Palcy (em inglês):
https://www.youtube.com/watch?v=EF9VQHzbMOg
Foto do topo: Al Seib / ©A.M.P.A.S.