Diretoras brasileiras negras são destaque nas redes do Array, de Ava DuVernay

O cinema brasileiro feito por artistas negros ganhou destaque nas redes sociais do Array, coletivo de distribuição criado pela diretora americana Ava DuVernay. Uma live realizada no Instagram nesta quinta-feira (9) convidou Carol Rodrigues, Day Rodrigues, Everlane Moraes, Gabriel Martins, Jessica Queiroz, Joyce Prado, Juliana Vicente, Renata Martins, Sabrina Fidalgo, Safira Moreira e Viviane Ferreira a falarem sobre suas carreiras. Problemas técnicos impediram algumas realizadoras de participar ao vivo (uma segunda live deve ser marcada) e outras enviaram depoimentos gravados (veja abaixo).

Entrevista: Mercedes Cooper conta como é trabalhar com Ava DuVernay no Array
Saiba mais: Criado por Ava DuVernay, coletivo Array focará em mulheres e minorias

A iniciativa do Array ecoou o debate sobre a série da Globoplay que vai narrar a trajetória e o assassinato da vereadora Marielle Franco (1979-2018). A motivação mais específica foi a justificativa da produtora Antonia Pellegrino para ter escolhido José Padilha, e não uma realizadora ou realizador negro, para assumir a direção do programa. “Se tivesse um Spike Lee, uma Ava DuVernay…”, disse Pellegrino, em entrevista publicada no mês passado na coluna do jornalista Mauricio Stycer no UOL.

Muito criticada, a declaração chegou até a própria Ava. “Quando soube das manchetes sobre alguém dizendo que não existe nenhum Spike Lee ou Ava DuVernay no Brasil…sabemos que isso não é verdade”, disse a diretora, em breve participação na live do Array. “Sabemos que há entidades artísticas dinâmicas e criativas por lá, tanto indivíduos quanto organizações, e nosso objetivo hoje é destacá-las.”

A mediadora da conversa foi Mercedes Cooper, diretora de marketing do Array, empresa que atua principalmente na distribuição de filmes realizados por mulheres e minorias. Para organizar a live, Cooper contou com a ajuda de Juliana Vicente, a quem conheceu em São Paulo em 2018, durante o Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual. Na ocasião, a americana concedeu uma entrevista ao Mulher no Cinema na qual falou sobre o Array, o trabalho com DuVernay e os desafios da distribuição.

Este último tópico foi um dos temas mais discutidos na live desta quinta-feira, assim como a importância de realizadores negros poderem contar suas próprias histórias. “Nossa vida [a dos negros] não é um tema”, afirmou Juliana Vicente. “Não basta colocar na equipe uma única pessoa negra, que não terá poder na hora de contar a história. É importante que possamos dividir o modo como pensamos e vemos as coisas.”

Joyce Prado falou sobre o trabalho da Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro, criada em 2016 e que hoje reúne quase 500 integrantes. Segundo ela, um dos principais objetivos do órgão é que as produtoras criadas por profissionais negros tenham melhor acesso a financiamento e às plataformas de video on demand. “Precisamos de apoio para que nossas empresas possam ser mais fortes e para que possamos decidir como atuar”, afirmou. “Nosso modelo de produção não precisa se basear no modelo das pessoas brancas. Precisamos encontrar nosso próprio caminho dentro da indústria e ter mais liberdade para decidir o que fazer.”

Único homem entre os participantes da live, Gabriel Martins disse sentir que nos últimos anos a comunidade negra do audiovisual brasileiro tem se conectado e se apoiado mais. Ele também destacou a diversidade da própria produção negra, que não deve ser vista como bloco único: “Todos somos diferentes e fazemos cinema de forma diferente”, afirmou Martins. “Acho que isso vai se refletir nos personagens e nas jornadas que vamos começar a ver: cada um trará seu próprio tempero e sua história pessoal.”

Abaixo, veja alguns dos depoimentos gravados que foram divulgados no Twitter do Array:

 


 

Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema

Top