Sarah Maldoror, pioneira diretora de “Sambizanga”, morre aos 90 anos

A cineasta Sarah Maldoror, diretora do celebrado Sambizanga (1972) e pioneira do cinema pan-africano, morreu nesta segunda-feira (13), em Paris, aos 90 anos. De acordo com a imprensa de Portugal e da França, a cineasta foi vítima de complicações do novo coronavírus (Covid-19).

A notícia foi anunciada pelas filhas da cineasta, Annouchka e Henda, em um comunicado divulgado pelo site Buala. “Sua obra cinematográfica é reflexo de uma combatente valente, curiosa sobre tudo, generosa, irreverente, preocupada com os outros, levando a poesia para além de todas as fronteiras”, disse o texto.

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A diretora nasceu em Condom, na França, em 1929. Sua mãe era francesa e seu pai, um imigrante da ilha caribenha de Guadalupe. Batizada de Sarah Durados, ela buscou inspiração para seu nome artístico no livro Os Cantos de Maldoror, publicado em 1869 por Isidore Ducasse, o conde de Lautréamont.

Maldoror começou a carreira no teatro, e em 1956 foi uma das fundadoras da Les Griots, a primeira companhia de atores africanos e caribenhos em Paris. Passou suas atenções para o cinema no início da década de 1960, quando recebeu uma bolsa para estudar cinema em Moscou, na Rússia. Foi assistente de Gilo Pontecorvo em A Batalha de Argel (1966) antes de estrear na direção com Monangambé (1969), curta-metragem baseado na obra do escritor angolano José Luandino Vieira. 

Este e outros de seus primeiros filmes já começaram a circular em festivais, mas foi com Sambizanga que ela se tornou um grande nome do cinema mundial. Também inspirado na obra de Vieira, o longa foi roteirizado por Maldoror em parceria com Claude Agostini, Maurice Pons e Mário Pinto de Andrade. Este último, poeta e político angolano, era casado com Maldoror e fundador do Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA). O filme aborda este contexto político ao contar a história de uma mulher que sai em busca do marido, um membro do movimento que foi preso pela polícia.


“As mulheres africanas devem estar em toda parte. Devem estar nas imagens, atrás das câmeras, nas ilhas de edição e envolvidas em todas as etapas da filmagem. Deve caber a elas falar sobre seus problemas.”


Depois de Sambizanga, Maldoror se instalou em Paris e se dedicou principalmente ao documentário, dando continuidade a uma obra marcada por temas políticos, sociais, ligados à África e ao colonialismo e pós-colonialismo. Muitos de seus documentários também retrataram a vida e a obra de outros artistas, como Un Marque à Paris: Louis Aragon (1978), Aimé Césaire, le masque de mots (1987) e Léon G. Damas (1995).

Seu último filme foi Eia pour Césaire, de 2009. No ano passado, Maldoror foi tema de uma retrospectiva no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, junto ao Festival Internacional de Cine Documental de Madrid. Durante a carreira, também foi reconhecida com a Ordem Nacional de Mérito do governo da França e homenageada na primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Luanda, em 2008.

Em uma entrevista concedida a Jadot Sezirahiga e publicada em 1995, a diretora afirmou: “As mulheres africanas devem estar em toda parte. Devem estar nas imagens, atrás das câmeras, nas ilhas de edição e envolvidas em todas as etapas da filmagem. Deve caber a elas falar sobre seus problemas.”


Com informações do Diário de Notícias, do Buala e do FranceInfo

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