Filmes e programas de televisão centrados em mulheres foram os grandes premiados na edição deste ano do Globo de Ouro, marcada por manifestações a favor da igualdade de gênero e pelo fim do assédio. Produções com protagonistas femininas venceram nas principais categorias: Três Anúncios para um Crime foi escolhido melhor filme de drama, e Lady Bird: A Hora de Voar, o melhor filme de comédia; The Handmaid’s Tale levou melhor série dramática; The Marvelous Mrs. Maisel, melhor série cômica; e Big Little Lies, melhor minissérie.
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Realizada neste domingo (7), em Los Angeles, a cerimônia começou quente já no tapete vermelho: atendendo ao chamado do grupo Time’s Up, formado por mais de 300 mulheres da indústria do entretenimento, atrizes usaram roupas pretas em protesto ao assédio sexual no audiovisual e em outras profissões. Um broche da iniciativa, criado pela figurinista Arianne Phillips, foi amplamente usado por mulheres e homens, e várias das estrelas foram à premiação acompanhadas por ativistas, entre elas Ai-jen Poo, diretora da National Domestic Workers Alliance; Tarana Burke, fundadora do movimento #metoo e diretora da Girls for Gender Equity; e Mónica Ramírez, cofundadora da Alianza Nacional de Campesinas.
No palco, assédio e igualdade de gênero vieram à tona com frequência – no monólogo de abertura de Seth Meyers, em comentários de atrizes que apresentaram prêmios e nos discursos de ganhadoras como Nicole Kidman, Elisabeth Moss, Laura Dern, Rachel Brosnahan, Frances McDormand e, principalmente, Oprah Winfrey, que tornou-se a primeira mulher negra a receber o troféu Cecil B. DeMille, entregue a personalidades com “incrível impacto no mundo do entretenimento”.
A voz das mulheres soou alto, assim como o silêncio dos homens. Muitos seguiram o dress code e usaram o broche do Time’s Up, mas, com exceção de Meyers, poucos comentaram o assunto da noite, seja nos discursos de agradecimento ou no tapete vermelho. No canal E!, entrevistadores questionaram quase todas as convidadas sobre o movimento contra o assédio, mas deixaram a pergunta de lado na vez dos homens. A apresentadora Giuliana Rancic, por exemplo, preferiu fazer outro tipo de pergunta ao ator Sean Hayes: “O que você pede quando vai ao Mc Donald’s?”
Por trás das câmeras, reconhecimento quase zero
Se a força das histórias centradas em mulheres foi sentida nos prêmios, o reconhecimento do talento feminino por trás das câmeras foi mínimo: Lady Bird foi o único filme dirigido por mulher premiado no Globo de Ouro deste ano, mesmo contando as categorias de animação e filme estrangeiro. A vitória tornou ainda mais notável a ausência de Greta Gerwig entre os indicados a melhor direção, muito bem lembrada por Natalie Portman, que anunciou “todos os concorrentes homens”.
Outra decepção foi o fato de nenhuma mulher ter sido premiada na categoria de roteiro, já que três dos cinco filmes indicados tinham ao menos uma roteirista na equipe (além de Gerwig, Liz Hanah por The Post: A Guerra Secreta e Vanessa Taylor por A Forma da Água). Como também não houve vitória feminina na categoria de canção original, o Globo de Ouro terminou premiando apenas atrizes ou produtoras, e nenhuma delas negra.
Em resumo, uma noite para ficar na memória, mas também um lembrete de que o caminho até a igualdade de gênero é longo e muita coisa ainda precisa mudar. Veja a lista com todas as mulheres premiadas no Globo de Ouro 2018:
CINEMA
Melhor atriz de drama
Frances McDormand, por Três Anúncios para um Crime
Melhor atriz de comédia ou musical
Saoirse Ronan, por Lady Bird: É Hora de Voar
Melhor atriz coadjuvante
Allison Janney, por I, Tonya
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TELEVISÃO
Melhor atriz de série dramática
Elisabeth Moss, por The Handmaid’s Tale
Melhor atriz de série de comédia ou musical
Rachel Brosnahan, por The Marvelous Mrs. Maisel
Melhor atriz de minissérie ou filme para a TV
Nicole Kidman, por Big Little Lies
Melhor atriz coadjuvante
Laura Dern, por Big Little Lies
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Veja a lista completa de ganhadores aqui
Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema.
Foto: Paul Drinkwater/NBC