Explorar a figura feminina no cinema por meio de ensaios fotográficos. Este é o objetivo do projeto Degeneradas, que faz releituras de personagens tão marcantes quanto Dorothy Vallens, de Veludo Azul, Holly Golightly, de Bonequinha de Luxo, e Ângela Carne e Osso, de A Mulher de Todos.
O projeto foi criado em São Paulo por três mulheres: Beatriz Mazarak, responsável pela direção fotográfica; Gabriella Vergani, atriz; e Marta Pinheiro, encarregada da direção de arte. Em comum elas tinham a paixão por cinema e o interesse pela construção de personagens – sobretudo femininas.
As fotos são publicadas na página do Degeneradas no Facebook e, no futuro, poderão ser reunidas em uma exposição. Conversamos com Marta Pinheiro para saber mais sobre o projeto:
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Como funciona o Degeneradas?
O projeto tem três etapas: pesquisa, desenvolvimento e resultado. A pesquisa, além de fundamental para a qualidade do resultado, nos ajuda a crescer como pessoas e profissionais, então dedicamos grande parte do tempo a ela. O desenvolvimento se dá quando, depois da pesquisa direcionada, cada uma traz o seu ponto de vista acerca da complexidade da personagem, a essência, o lado b. A partir dos nossos pontos de vista chegamos a um acordo sobre as concepções de interpretação, fotografia e arte do ensaio. O resultado é um ensaio fotográfico de cada personagem degenerada. Também faz parte da ideia compartilharmos as nossas pesquisas, percepções e desenvolvimento dos trabalhos através das redes sociais. Por fim, pretendemos que, ao olharem as fotografias do projeto, as pessoas sintam-se mais próximas do cinema através das personagens. A intenção é aprender, crescer e dividir.
Como vocês escolhem as personagens?
Nos encontramos em uma conversa informal e cada uma traz ideias de mulheres que gostaria de estudar e degenerar. Não há muitas regras, basta ser uma personagem mulher de um filme. Acreditamos que há diversos tipos de boas personagens a serem exploradas, mas percebemos que gostamos das dualidades e daquelas com as quais conseguimos aliar o resultado a alguma discussão ou questionamento que seja importante para nós. Todas as boas personagens têm essa dualidade, de forma mais ou menos explícita.
E como escolhem a forma de “degenerá-las”?
Uma vez escolhida a personagem, cada uma vê (ou revê) o filme quantas vezes for necessário e recolhe-se na próprias pesquisa até a próxima reunião, quando levamos nossos pontos de vista. Geralmente cada uma encontra na degenerada um lado b diferente, um ponto a ser trabalhado. Com muita conversa, chegamos a uma conclusão sobre o que vai ser. Cada ensaio é diferente do outro, podemos chegar a um consenso ou encontrar uma forma de incorporarmos às fotos dois ou mais pontos de vista, com auxílio das concepções de interpretação, fotografia e arte, que têm muita referência no próprio cinema. Tentamos traduzir tudo em imagens através de ação, simbologia e sinestesia.
As fotos serão reunidas em uma exposição?
O foco agora é aprimorarmos e aperfeiçoarmos os ensaios fotográficos. Entretanto, estamos em processo de desenvolvimento de um projeto escrito, para então pensarmos em uma forma interessante de transformarmos em exposição.
O que vocês têm aprendido ou percebido nesse processo de análise das personagens femininas do cinema?
Há uma grande complexidade nas boas personagens. Elas não são óbvias, não são fáceis, não são mocinhas, não são vilãs. São cheias de dualidades, luz e sombras. As atrizes que dão vida a elas têm grandiosa sensibilidade, fortalecem essas personagens que existem na essência das mulheres. Nos vemos nos olhos de Maria [papel de Brigitte Helm em Metrópolis], Dorothy, Holly, Ângela.