Primeiro, os números: o Oscar 2016, realizado neste domingo (28), premiou 12 mulheres (veja a lista completa abaixo) em dez das 24 categorias (22 possíveis, já que há melhor ator e melhor ator coadjuvante). Foi um avanço em relação ao ano passado, quando 10 mulheres foram premiadas em oito categorias.
Como era de se esperar, diversidade foi o tema da noite. Em vários momentos o apresentador Chris Rock e outros artistas pegaram a questão na veia, expondo a falta de oportunidades dos negros em Hollywood. Em outras ocasiões, o Oscar perdeu a chance de ampliar o debate e chamar a atenção para a pouca representação de outras minorias (latinos, asiáticos) e de mulheres.
Profissionais femininas conseguiram vitórias importantes em categorias técnicas (muito graças a Mad Max: Estrada da Fúria) e protagonizaram alguns dos melhores momentos da cerimônia.
Eis os nossos favoritos:
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Sara Bennett ganhando efeitos visuais
Pouca gente apostava na vitória de Ex-Machina: Instinto Artificial, o único dos cinco indicados com uma mulher na equipe de efeitos visuais – a britânica Sara Bennett (na foto, com os colegas Mark Williams Ardington, Paul Norris e Andrew Whitehurst).
Infelizmente, o irritante hábito do Oscar de usar a orquestra para expulsar os premiados do palco nos impediu de ouvi-la discursar. Mas foi uma vitória e tanto – Bennet é a segunda mulher a ganhar na categoria (depois de Suzanne M. Benson, em 1980, por Aliens, O Resgate) e apenas a terceira indicada na história (além dela e de Benson, Pamela Easley disputou em 1994 por Risco Total).
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Margaret Sixel ganhando o prêmio de edição
A presença de mulheres nesta categoria não é tão absolutamente rara quanto em efeitos visuais: 12 montadoras já ganharam o Oscar e há nomes muito reconhecidos, como Margaret Booth, Anne V. Coates, Verna Fields e Thelma Schoonmaker. Mas a vitória de Margaret Sixel por Mad Max: Estrada da Fúria, é o recado perfeito para quem (ainda) diz que mulheres “combinam mais” com dramas e comédias românticas. Foi ela quem editou o filme de ação do ano.
https://www.youtube.com/watch?v=ZccLZ3qBYyE
A apresentação de Lady Gaga
Tema do documentário The Hunting Ground, que aborda estupros nas universidades, “Til It Happens To You” era a única canção indicada composta por mulheres (Lady Gaga e Diane Warren, ambas vítimas de abuso sexual). Quem introduziu a apresentação no Oscar foi ninguém menos do que o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, que convocou o público a “mudar a cultura” porque as vítimas “não fizeram nada de errado”. Gaga então cantou e tocou piano, acompanhada de outras sobreviventes de abuso sexual, e a plateia aplaudiu de pé. Uma pena que o prêmio tenha ido para Sam Smith e Jimmy Napes pela chatíssima “Writings on the Wall”.
https://www.youtube.com/watch?v=7CJKHZ9e5-4
O discurso de Sharmeen Obaid-Chinoy
O curta de documentário A Girl in the River: The Price of Forgiveness, foi o único filme dirigido por mulher premiado no Oscar desse ano. Conta a história de uma jovem paquistanesa que sobreviveu a uma tentativa de assassinato cometida pela própria família – um “crime de honra”, prática comum no país.
Também paquistanesa, a produtora e diretora Sharmeen Obaid-Chinoy fez o melhor discurso da noite: “É isso que acontece quando mulheres determinadas se reúnem. De Saba, a mulher do meu filme, que sobreviveu a um crime de honra e dividiu sua história, à Sheila Nevins e Lisa Heller, da HBO; à Tina Brown [produtora], que me apoiou desde o primeiro dia; aos homens que lutam pelas mulheres, como Geof Bartz, que editou o filme, Asad Faruqi [diretor de fotografia]; ao meu amigo Ziad, que levou o filme ao governo; a todos os homens corajosos, como meu pai e meu marido, que encorajam as mulheres a estudar e trabalhar, que querem uma sociedade mais justa para as mulheres. Nesta semana, depois de ver esse filme, o premiê do Paquistão [Nawaz Sharif] disse que vai mudar as leis quanto aos crimes de honra. Esse é o poder do cinema.”
Jenny Beavan ganhando o prêmio de figurino
Historicamente as mulheres têm forte presença na categoria de figurino, e neste ano não foi diferente: quatro dos cinco filmes indicados tinham profissionais femininas na função. A vitória de Jenny Beavan foi incrível não só pelo trabalho super original que fez em Mad Max, mas também pelo seu próprio visual: ela foi receber a estatueta de calça e casaco de couro.
Nos bastidores, falou sobre o look: “Não uso vestidos e sobretudo não uso salto alto. Não posso usá-los, tenho dor nas costas. Fico ridícula em vestidos bonitos e isso [a jaqueta] é uma homenagem a Mad Max. Estou usando Marks & Spencer [loja de departamentos britânica]. Apenas gosto de me sentir confortável. E, me desculpe, mas na minha opinião estou super arrumada.”
E aí apareceram com esse vídeo, do pessoal no corredor sentado, olhando de cima a baixo, rindo e não aplaudindo. Desculpem, amigos, mas Jenny Beavan é bem mais maravilhosa que vocês:
https://vine.co/v/igWT9HBUnXp/embed/simple
Veja todas as ganhadoras do Oscar:
Melhor filme (produtoras)
- Blye Pagon Faust, “Spotlight – Segredos Revelados”
- Nicole Rocklin, “Spotlight – Segredos Revelados”
Atriz
- Brie Larson, “O Quarto de Jack”
Atriz coadjuvante
- Alicia Vikander, “A Garota Dinamarquesa”
Figurino
- Jenny Beavan, “Mad Max: Estrada da Fúria”
Edição
- Margaret Sixel, “Mad Max: Estrada da Fúria”
Cabelo e maquiagem
- Lesley Vanderwalt, “Mad Max: Estrada da Fúria”
- Elka Wardega, “Mad Max: Estrada da Fúria”
Direção de arte
- Lisa Thompson, “Mad Max: Estrada da Fúria”
Efeitos visuais
- Sara Bennett, “Ex Machina: Instinto Artificial”
Curta de documentário (produtoras)
- Sharmeen Obaid-Chinoy, “A Girl in the River: The Price of Forgiveness”
Curta – live action (produtora)
- Serena Armitage, “Stutterer”