Uma reportagem do site americano IndieWire noticiou uma grave crise nos bastidores da segunda temporada de Big Little Lies. De acordo com o site, a HBO e o criador da série, David E. Kelley, tiraram o controle criativo da diretora Andrea Arnold e deram o corte final para Jean-Marc Vallée, que dirigiu a primeira temporada.
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Sem identificar suas fontes, a IndieWire afirmou que Arnold foi contratada com a promessa de liberdade total para dirigir a série de acordo com seu próprio estilo, em todas as fases da produção. Ela pôde, inclusive, montar sua própria equipe e trazer novos profissionais para cargos cruciais, como o diretor de fotografia Jim Frohna. A HBO também deixou que ela contratasse editores europeus e montasse o material em Londres, onde mora.
No entanto, antes que Arnold finalizasse um primeiro corte, Vallée foi chamado para editar o material e “unificar o estilo visual das duas temporadas”, inclusive levando a pós-produção para Montreal. De acordo com as fontes da IndieWire, Arnold não sabia, mas desde o começo o plano era envolver o diretor original novamente, depois que ele terminasse seu trabalho em Objetos Cortantes, também da HBO.
Após a entrada de Vallée, foi definido que a série teria mais 17 dias de filmagem adicional. Pela regras do Sindicato dos Diretores, Arnold ainda tinha de dirigir estes episódios, mas as fontes da IndieWire afirmam que Vallée, que é produtor executivo da série, interferiu muito no material rodado.
Procurada pela IndieWire, a HBO respondeu que “não haveria segunda temporada de Big Little Lies sem Andrea Arnold”. “Nós e os produtores estamos extremamente orgulhosos do trabalho dela. Como em qualquer projeto televisivo, os produtores executivos trabalham de forma colaborativa e o produto final fala por si mesmo”, afirmou a emissora. Arnold não quis ser entrevistada pela reportagem.
No Twitter, jornalistas disseram que a ausência da cineasta no momento do lançamento da série levantou suspeitas sobre problemas durante a produção – assim como o fato de 11 montadores estarem creditados no programa.
Arnold é uma diretora premiada, conhecida pelos longas Marcas da Vida (2006), Aquário (2009) e Docinho da América, e ganhadora do Oscar de curta-metragem por Wasp (2003). Fontes ouvidas pela IndieWire disseram que a cineasta estava “de coração partido” com a experiência em Big Little Lies. Embora não esperasse seguir exatamente o mesmo estilo de seus filmes, ela teria se preparado incansavelmente para as filmagens e ficado “devastada” por ter tido o controle tirado de suas mãos sem aviso prévio.
A notícia sobre o tratamento dado a diretora é especialmente incômoda em se tratando de um programa tantas vezes aclamado pelo protagonismo feminino inclusive atrás das câmeras, com Reese Witherspoon, Nicole Kidman e Bruna Papandrea entre as produtoras executivas (a própria Arnold também é creditada como produtora executiva em cinco episódios). A escolha por uma direção feminina na segunda temporada parecia buscar uma inclusão maior de mulheres nos principais cargos criativos. Mas, se o que foi reportado pela IndieWire se confirmar, o controle terá ficado novamente nas mãos de realizadores homens.
Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema