Comédia com muita ação, “Meu Ex É Um Espião” se apoia em Kate McKinnon

Desde que roubou a cena em Caça-Fantasmas (2016), Kate McKinnon se firmou como uma das comediantes mais interessantes de Hollywood. O trabalho no humorístico Saturday Night Live rendeu prêmios, popularidade e outros trabalhos no cinema, mas seu papel de maior destaque chega agora, com a estreia de Meu Ex É um Espião.

McKinnon divide o protagonismo com Mila Kunis, interpretando amigas de cerca de 30 anos que levam vidas comuns até serem subitamente inseridas em um contexto extraordinário: uma operação internacional de espionagem.

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Quando o filme começa, Audrey (Kunis) encara com desânimo a festa de aniversário preparada por Morgan (McKinnon). Um ano antes, ela conhecera Drew (Justin Theroux), um cara charmoso que virou seu namorado, mas sumiu e acabou o relacionamento por mensagem de texto. Quando Drew finalmente reaparece, traz com ele um segredo: é um espião da CIA que está sendo perseguido – não se sabe bem ao certo por quem.

Corta para um tiroteio na casa de Audrey e Morgan, que conseguem fugir e viajam a Viena, na Áustria, para entregar uma estranha mercadoria a uma pessoa misteriosa. A motivação da viagem vai além de atender ao pedido feito por Drew: “Você quer morrer sem nunca ter ido para a Europa ou quer ir para a Europa e morrer, tendo ido para a Europa?”, pergunta Morgan, que assim como Audrey busca tanto aventuras quanto um certo propósito para a própria vida.

A diretora Susanna Fogel com as atrizes Kate McKinnon e Mila Kunis no set de “Meu Ex É um Espião”

Meu Ex É um Espião é parte de um número crescente, embora ainda pequeno, de comédias centradas em personagens femininas que também têm mulheres na direção. É o segundo longa-metragem de Susanna Fogel, de Parceiras Eternas (2014), aqui também autora do roteiro em parceria com David Iserson.

Fogel buscou fazer uma comédia híbrida, que incorpora elementos dos filmes de espionagem, dos chamados buddy movies e principalmente de longas de ação. Embora siga a mesma linha de  produções recentes, como As Bem-Armadas (2013), de Paul Feig, e Belas e Perigosas (2015), de Anne Fletcher, vai bem mais longe no que diz respeito ao peso da ação na trama, tanto em quantidade como em intensidade. São muitas as cenas de perseguição de carro e trocas de tiros, e há também explosões, assassinatos e até uma breve sessão de tortura.

As idas e vindas entre os gêneros podem incomodar o espectador em busca de uma comédia mais tradicional, embora Fogel também vá bem na direção das sequências de ação. O ponto fraco do longa na verdade é a escalação de Kunis, que além de não ter o timing cômico necessário para o papel, também é prejudicada por um roteiro que envolve sua personagem em dois plots românticos desnecessários. É curioso, aliás, que tanto o título nacional quanto o original (The Spy Who Dumped Me, algo como “o espião que me deu um fora”, piada com a franquia James Bond) faça referência não à dupla de protagonistas mulheres e sim ao pouco interessante personagem de Theroux.

Se Kunis não está bem, cabe à McKinnon trabalhar em dobro. É ela quem provoca basicamente todas as risadas, seja pela entrega ao humor físico da personagem, pelas tiradas feministas bem-humoradas ou pelo modo como parece se divertir com os momentos mais absurdos do longa, um deles envolvendo o ex-funcionário da CIA Edward Snowden. Meu Ex É um Espião ainda não é o filme que McKinnon merece. Mas é ela a grande razão para assisti-lo.

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Este filme passa no teste de Bechdel-Wallace. Clique para saber mais.“Meu Ex É um Espião”
[The Spy Who Dumped Me, EUA/Canadá, 2018]
Direção: Susanna Fogel
Elenco: Mila Kunis, Kate McKinnon, Justin Theroux.
Duração: 117 minutos


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema

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