10 diretoras que talvez você não conheça (mas pode conhecer na FILMICCA)

Nos últimos anos, muita gente tem buscado conhecer melhor o trabalho das mulheres por trás das câmeras e descoberto obras e cineastas que não receberam o reconhecimento, a atenção e o espaço que deveriam em uma indústria historicamente dominada por homens.

A conversa sobre o cinema feito por mulheres está mais presente tanto nas redes sociais como na imprensa, mas por vezes fica limitada a um grupo pequeno de cineastas: aquelas que foram premiadas em Cannes ou no Oscar, encabeçaram listas de melhores filmes, ficaram no topo das bilheterias ou integraram movimentos famosos.

No entanto, nenhum destes filtros dá conta da imensa e variada produção cinematográfica das mulheres, e ir atrás de cineastas que ainda não estão no seu radar é uma tarefa tão importante quanto gostosa. Pensando nisso, o Mulher no Cinema selecionou dez diretoras de diferentes países, gerações e estilos que merecem ser mais conhecidas – e cujos filmes estão disponíveis para streaming da FILMICCA.

A FILMICCA é uma plataforma brasileira que tem o cinema feito por mulheres como um dos pilares de sua curadoria. Filmes de diretoras representam 50% do catálogo atual, que inclui artistas muito conhecidas – como Chantal Akerman (1950-2015), Claire Denis e Věra Chytilová (1929-2014) -, mas também obras de cineastas que estão despontando agora e clássicos realizados por mulheres que merecem ser mais vistos.

Este é um ótimo momento para assinar a FILMICCA, já que o passe anual via Pix está com preço promocional de R$ 120 até o dia 30/11. Faça sua assinatura aqui e veja, abaixo, 10 diretoras para colocar na sua lista:

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Forough Farrokhzad 

A iraniana Forough Farrokhzad (1934-1967) é conhecida principalmente como poeta, mas também deixou sua marca no cinema com A Casa É Escura (1963), que está disponível no catálogo da FILMICCA. Trata-se de um contundente documentário de curta-metragem no qual Farrokhzad registra a vida em uma colônia de leprosos no norte do Irã, onde viveu por 12 dias. As imagens dos moradores são combinadas a uma narração que inclui passagens do Antigo Testamento e do Alcorão, além de versos escritos pela própria cineasta. Infelizmente, este foi o único filme realizado por ela, que morreu em um acidente de carro quatro anos depois.

Forough Farrokhzad, diretora de “A Casa É Escura” – Foto: Ebrahim Golestan

Kinuyo Tanaka

Ícone do cinema japonês, Kinuyo Tanaka (1909-1977) é muito celebrada pela longa e excepcional carreira como atriz, mas não recebe o mesmo reconhecimento por seu pioneiro trabalho atrás das câmeras. Tanaka foi a segunda diretora de cinema do Japão, depois de Tazuko Sakane (1904-1975), e dois de seus seis filmes podem ser vistos na FILMICCA. Um é A Lua Nasceu (1955), no qual filmou um roteiro de Yasujiro Ozu (1903-1963) sobre um pai viúvo que lida com os relacionamentos amorosos das três filhas. O outro é Para Sempre uma Mulher (1955), que é inspirado na vida da poeta Fumiko Nakajo (1922-1954) e conta a história de uma mãe divorciada que começa a ter sucesso literário no mesmo momento em que é diagnosticada com câncer de mama.

Kinuyo Tanaka no set de “A Lua Nasceu” (1955) – Foto: Divulgação/Carlotta Films

Klára Tasovská

O documentário é a principal área de atuação de Klára Tasovská, cineasta tcheca que nasceu em 1980. Seus dois primeiros longas – Fortress (2012) e Nothing Like Before (2017) – foram dirigidos em parceria com Lukáš Kokeš. O terceiro, Eu Não Sou Tudo o que eu Quero Ser (2024), é um trabalho solo de direção que pode ser visto na FILMICCA. O filme retrata a trajetória pessoal e profissional da célebre fotógrafa tcheca Libuše Jarcovjáková, utilizando apenas suas fotos e passagens de seus diários. Como muitas das imagens de Jarcovjáková refletem sua busca por liberdade – seja de expressão, artística ou sexual -, o documentário parte de sua história para discutir questões mais amplas relativas à identidade e sexualidade.

Klára Tasovská, diretora de “Eu Não Sou Tudo o que Eu Quero Ser” – Foto: Reprodução/Berlinale

Lizzie Borden

A americana Lizzie Borden formou-se em artes e participou da efervescente cena artística nova-iorquina dos anos 1970. Seu primeiro longa foi o documentário Regrouping (1976), mas ela realmente fez barulho com o longa seguinte, Born in Flames (1983), disponível na FILMICCA. Considerado um dos 50 filmes independentes mais importantes da história pela revista Filmmaker, Born in Flames é ambientado em um futuro próximo, dez anos após uma revolução pacífica nos Estados Unidos. Neste contexto, a misteriosa morte da ativista política negra Adelaide Norris leva diferentes grupos de mulheres a um novo levante em defesa da igualdade. Borden também dirigiu os longas Working Girls (1986) e Crimes de Amor (1992).

Lizzie Borden, diretora de “Born in Flames” – Foto: Simone Niamani Thompson

Lula Ali Ismaïl

Nascida no Djibuti em 1978, Lula Ali Ismaïl imigrou na década de 1990 para o Canadá. Depois de alguns trabalhos como atriz na televisão canadense, Ismail decidiu passar também para o outro lado da câmera, escrevendo, dirigindo e protagonizando o curta Laan (2011). O passo seguinte foi dirigir Juventude (2019), que pode ser visto no streaming da FILMICCA e é o primeiro longa de ficção a ser realizado no Djibuti. O filme acompanha o processo de amadurecimento de três amigas – Asma, Hibo e Deka – que pertencem a diferentes classes sociais, mas estudam juntas no mesmo colégio e estão prestes a se formar no Ensino Médio. O foco está principalmente em Deka, que deve se decidir entre imigrar para a França ou cursar a universidade em seu próprio país.

Lula Ali Ismaïl, diretora de “Juventude” – Foto: Divulgação/Good Question Media

Merata Mita

A pioneira Merata Mita (1942-2010) começou seu caminho no cinema acompanhando filmagens de equipes estrangeiras em comunidades maori, o povo indígena da Nova Zelândia. A experiência lhe rendeu aprendizado técnico e a percepção de que a história de seu povo estava sendo contada pelos brancos. Assim, nos anos 1980 começou a realizar seus próprios filmes, incluindo Mauri (1988), o primeiro longa-metragem de ficção dirigido exclusivamente por uma mulher maori. Muitos filmes de Mita registram momentos-chaves da história neozelandesa e da luta indígena por igualdade, como Patu! (1983), documentário que pode ser visto na FILMICCA. A cineasta filma os protestos que tomaram às ruas da Nova Zelândia em 1981, quando a seleção sul-africana de rúgbi foi ao país para um campeonato. As manifestações eram contra o regime do apartheid, mas provocaram, também, discussões sobre o racismo entre os neozelandeses. Saiba mais sobre Merata Mita

A cineasta Merata Mita em foto de divulgação do filme “Merata: How Mum Decolonised the Screen”

Ngozi Onwurah 

A nigeriano-britânica Ngozi Onwurah fez história com Welcome II The Terrordome (1995), o primeiro longa britânico dirigido por uma mulher negra a ser distribuído comercialmente no Reino Unido. Ela tem outros longas no currículo, como Shoot the Messenger (2006), mas também é conhecida por seus instigantes curtas-metragens, dois deles disponíveis no catálogo da FILMICCA. Em O Lindo Corpo (1991), a cineasta aborda sexualidade, questões de imagem e tensões raciais ao mesmo tempo em que presta uma homenagem à mãe, Madge Onwurah, uma mulher britânica branca que passou por uma mastectomia. Já em Homens Brancos Estão Enlouquecendo (1994), acompanha o detetive Margrave e sua obsessão por Maisie Blue, enigmática jovem negra que ele acredita estar envolvida em vários casos de suicídio de homens brancos de sucesso.

Ngozi Onwurah, diretora de “O Lindo Corpo” – Foto: Reprodução/Site do filme “Neighbourhood Alert”

Paz Encina

Um dos principais nomes do cinema paraguaio, Paz Encina ficou conhecida ao redor do mundo com seu primeiro longa-metragem, Hamaca Paraguaya (2006), que ganhou prêmios da crítica no Festival de Cannes e na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Seu longa seguinte foi Ejercicios de Memoria (2016), e o mais recente é EAMI, que foi premiado no Festival de Cinema de Roterdã e está disponível no catálogo da FILMICCA. Para realizar o filme, a cineasta viajou para o Chaco paraguaio, estudou a mitologia da comunidade indígena Ayoreo Totobiegosode e entrevistou dezenas de pessoas. Escreveu, então, a história de Eami, uma menina de cinco anos que, como os demais integrantes de sua comunidade, é forçada a deixar sua terra natal após uma brutal invasão. É aí, então, que Eami incorpora a mulher-deusa-pássaro Asoja. 

Paz Encina, diretora de “EAMI” – Foto: Reprodução/Festival de Locarno

Shahrbanoo Sadat

A afegã Shahrbanoo Sadat começou a fazer curtas após participar de uma oficina francesa para estudantes de cinema em Cabul. Quando conheceu a produtora dinamarquesa Katja Adomeit, passou a realizar longas ambientados no Afeganistão, mas financiados principalmente por países europeus. Sadat tem um projeto cinematográfico ousado: escrever e dirigir uma pentalogia a partir dos diários não publicados do amigo Anwar Hashimi, nos quais viu a oportunidade de contar 40 anos de história do Afeganistão. O primeiro filme da pentalogia foi Lobo e Ovelha (2016) e o segundo, O Orfanato (2019), que integra o catálogo da FILMICCA. O longa conta a história de Qodrat, um menino de 15 anos levado a um orfanato no final dos anos 1980, pouco antes de o Afeganistão tornar-se um Estado islâmico. Sadat mora na Alemanha desde 2021, quando as forças do Taleban tomaram Cabul e ela fugiu do país com a família. Leia a entrevista dela ao Mulher no Cinema

Shahrbanoo Sadat, diretora de “O Orfanato” – Foto: Jens Koch

Vivian Qu

Influente nome do cinema independente chinês, Vivian Qu começou a carreira como produtora e tem no currículo filmes como Carvão Negro, Gelo Fino (2014), de Yi’nan Diao, que ganhou o Urso de Ouro em Berlim. A FILMICCA exibe Rua Secreta (2013), seu primeiro longa como roteirista e diretora, no qual usa elementos do suspense para abordar questões de vigilância e tecnologia. No centro da trama está Qiuming, jovem cartógrafo de uma empresa que cria mapas digitais na cidade de Nanjing. Ao descobrir uma rua sem saída que não aparece no sistema, Qiuming começa a visitar o local e conhece Lifen, funcionária de um misterioso laboratório que fica na mesma área. Depois de Rua Secreta, Qu dirigiu Angels Wear White (2017).

Vivian Qu, diretora de “Rua Secreta” – Foto: Reprodução/Festival des 3 Continents

* Este texto foi produzido pelo Mulher no Cinema e é patrocinado pela FILMICCA

Foto do topo: Kinuyo Tanaka no set de “A Lua Nasceu” (1955) – Foto: Divulgação/Carlotta Films

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