Leia o discurso de Jane Fonda no Globo de Ouro – na íntegra e em português

A atriz Jane Fonda protagonizou um dos momentos mais marcantes da edição deste ano do Globo de Ouro, realizada neste domingo (28). Homenageada com o troféu Cecil B. DeMille, que reconhece o conjunto da obra de um artista, ela usou seu discurso de agradecimento para celebrar filmes e séries de televisão do último ano, e para fazer um chamado por uma indústria cinematográfica mais inclusiva.

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“As histórias podem mudar as pessoas, mas há uma história sobre nós mesmos, nesta indústria, que por muito tempo tivemos medo de ver e ouvir”, afirmou a atriz. “Uma história sobre quais vozes nós respeitamos e elevamos, e quais vozes nós desligamos. Uma história sobre a quem é oferecido um lugar na mesa e sobre quem é mantido do lado de fora das salas onde as decisões são tomadas.”

O discurso pareceu se referir inclusive à Hollywood Foreign Press Association, organização responsável pela entrega do Globo de Ouro. Nas últimas semanas, uma reportagem do jornal Los Angeles Times divulgou que não há nenhuma pessoa negra entre os 87 membros do grupo. “Vamos todos fazer um esforço [por mais diversidade], incluindo todos os grupos que decidem quem é contratado, o que é produzido e quem ganha prêmios”, disse Fonda. “Fazer isso é apenas reconhecer o que é verdadeiro. A arte sempre esteve não apenas em sintonia com a História, mas liderando o caminho. Então, sejamos líderes.”

Aos 83 anos, Fonda é dona de uma carreira brilhante, durante a qual ganhou sete Globos de Ouro e dois Oscar. Conhecida por trabalhos como Barbarella (1968), Klute, O Passado Condena (1971), Amargo Regresso (1978), Como Eliminar Seu Chefe (1980) e Grace and Frankie (2015-2021), a atriz também é conhecida pelo ativismo dedicado a causas como a igualdade de gênero e o meio ambiente.

Abaixo, assista o discurso de Jane Fonda no Globo de Ouro e leia a tradução em português, na íntegra.

“Obrigada a todos os integrantes da Hollywood Foreign Press Association. Estou muito emocionada em receber esta homenagem. Obrigada.

Somos uma comunidade de contadores de histórias, não é? E em tempos turbulentos e de crise como o que vivemos, contar histórias sempre foi essencial.

As histórias podem mudar nossos corações e nossas mentes. Elas podem nos ajudar a ver o outro por uma nova perspectiva, a ter empatia, a reconhecer que, apesar de toda a nossa diversidade, em primeiro lugar somos seres humanos, certo?

Vi muita diversidade na minha longa vida, e às vezes fui desafiada a entender algumas das pessoas que conheci. Mas inevitavelmente, se meu coração está aberto, e se olho para além da superfície, sinto afinidade.

É por isso que todos os grandes guias da nossa percepção – Buda, Maomé, Jesus, Lao Zi – falaram conosco por meio de histórias, poesias, metáforas. Porque as formas não lineares e não cerebrais da arte falam em uma frequência diferente. Elas geram uma nova energia que pode nos abrir e penetrar nas nossas defesas, para que possamos ver e o ouvir aquilo que talvez tivéssemos medo de ver e ouvir.

Apenas este ano, Nomadland me ajudou a me apaixonar por aqueles de nós que estão vagando. Minari abriu os meus olhos para a experiência dos imigrantes que estão lidando com as realidades da vida em um novo território. Judas e o Messias Negro, Small Acts, The United States vs Billie Holliday, A Voz Suprema do Blue, Uma Noite em Miami, entre outros, aprofundaram minha empatia pelo significado de ser negro. Ramy me ajudou a sentir o que é ser um americano muçulmano. I May Destroy You me ensinou a considerar a violência sexual de um modo totalmente novo. O documentário Até o Fim: A Luta pela Democracia nos lembra o quão frágil é a nossa democracia e nos inspira a lutar para preservá-la. E David Attenborough e Nosso Planeta nos mostra o quão frágil é nosso pequeno planeta azul e nos inspira a salvá-lo, e a nos salvar.

Histórias: elas realmente podem mudar as pessoas.

Mas há uma história sobre nós mesmos, nesta indústria, que por muito tempo tivemos medo de ver e ouvir. Uma história sobre quais vozes nós respeitamos e elevamos, e quais vozes nós desligamos. Uma história sobre a quem é oferecido um lugar na mesa e sobre quem é mantido do lado de fora das salas onde as decisões são tomadas.

Então vamos todos, incluindo todos os grupos que decidem quem é contratado, o que é produzido e quem ganha prêmios – vamos todos fazer um esforço para ampliar esta tenda. Para que todo mundo possa emergir e para que as histórias de todos tenham a chance de serem vistas e ouvidas.

Fazer isso é apenas reconhecer o que é verdadeiro. É apenas estar em sintonia com a crescente diversidade que está acontecendo por causa de todos aqueles que marcharam e lutaram no passado, e por aqueles que pegaram o bastão hoje. Afinal, a arte sempre esteve não apenas em sintonia com a história, mas liderando o caminho.

Então, sejamos líderes.

Obrigada, muito obrigada.”

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