Por que você deve ir ao cinema ver “Mulher-Maravilha”

É uma bem-vinda coincidência que o aguardadíssimo Mulher-Maravilha chegue aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (1°), mesmo dia em que o Mulher no Cinema completa dois anos no ar. Quando foi criado, o site buscava potencializar no Brasil o debate internacional sobre a representação e participação feminina no audiovisual. Um debate que está intimamente ligado à Mulher-Maravilha, potencial divisor de águas no que diz respeito à igualdade de gênero no cinema.

Não é difícil entender a importância deste lançamento: no infindável e lucrativo universo dos filmes inspirados em quadrinhos, o foco desta vez estará em uma heroína, interpretada por Gal Gadot. Isso já seria motivo de comemoração, mas Mulher-Maravilha conseguiu algo ainda mais raro: ter uma mulher por trás das câmeras, a americana Patty Jenkins.

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A combinação de protagonismo e direção feminina em um filme como esse é, desde já, uma vitória. Não é por acaso que a chegada das mulheres à chefia dos estúdios americanos, nos anos 1980, não surtiu efeito no que diz respeito à igualdade de gênero. Naquele momento o blockbuster já se definia como grande fonte de renda e principal produto de exportação de Hollywood. Hoje, diante da crescente importância do mercado internacional, sobretudo o chinês, filmes de ação e efeitos especiais são tidos como os que “viajam melhor”: têm apelo global porque se apoiam mais no visual do que em diálogos.

São justamente estes os filmes mais cruéis com as mulheres. Estamos falando de produções extremamente caras, que precisam render muito nas bilheterias, e com as quais os estúdios procuram não correr riscos desnecessários. Para Hollywood, as mulheres ainda são consideradas um risco: não se confia um orçamento tão grande nas mãos de uma diretora, e não se supõe que uma personagem feminina possa levar o público masculino aos cinemas. Outras questões entram em jogo, como o mercado de brinquedos e as supostas baixas vendas de bonecos de heroínas (recentemente contestadas pelo sucesso de produtos relacionados às franquias Star Wars e Caça-Fantasmas); a resistente ideia de que longas de ação e inspirados em quadrinhos não são adequados à direção feminina, mais “apropriada” a dramas, romances e documentários; e a recorrente lembrança de filmes mal-sucedidos como Mulher-Gato (2004) e Aeon Flux (2005), atribuindo-se a culpa ao protagonismo feminino e não a aspectos problemáticos da produção.

A diretora Patty Jenkins no set de "Mulher-Maravilha", ao lado dos atores Gal Gadot e Chris Pine
A diretora Patty Jenkins no set de “Mulher-Maravilha”, ao lado dos atores Gal Gadot e Chris Pine

Estes e outros fatores submetem os filmes centrados e dirigidos em mulheres a um escrutínio enorme e injusto. Em um cinema de fato igualitário, mulheres teriam o direito de fazer tantos filmes ruins quanto os homens. Em um cinema de fato igualitário, mulheres seguiriam trabalhando tanto quanto os homens após um desempenho fraco nas bilheterias. Em um cinema realmente igualitário, o fracasso (ou o sucesso) de um filme dirigido ou estrelado por mulher seria apenas isso, e não algo fadado a se repetir no próximo filme dirigido ou estrelado por outra mulher. Em um cinema realmente igualitário, cineastas mulheres seriam vistas como profissionais individuais e não como um bloco.

Mas o cinema não é igualitário, e Mulher-Maravilha será analisado como retrato do potencial feminino em geral. Se o faturamento for estrondoso, poderá criar novas oportunidades para diretoras em Hollywood e dar sinal verde a mais filmes com heroínas (como Capitã Marvel e Gata Negra e Sabre de Prata, já em produção). Se o sucesso for apenas tímido, funcionará como prova de que pensar nas mulheres do cinema – e da plateia – não oferece retorno financeiro.

O recado precisa ser bem dado, e pelas bilheterias. Convide suas amigas e amigos para assistir Mulher-Maravilha nos cinemas, de preferência nos próximos 15 dias. O primeiro fim de semana em cartaz (ou abertura, no jargão do mercado) é o mais importante para a indústria hollywoodiana, enquanto uma boa venda de ingressos na segunda semana ajuda a garantir a sustentação do filme, mantendo-o em cartaz em um grande número de salas.

Recomendar o longa aos amigos e divulgá-los nas redes sociais também é importante. Nesta quarta-feira o Mulher no Cinema lança a campanha #QueroMaisMulherMaravilha, convidando os leitores a expressar seu desejo por mais filmes estrelados e dirigidos por mulheres, não apenas no circuito de arte, não apenas no romance e no documentário, mas em produções de diferentes gêneros e nas que alcançam multidões pelo mundo. Coloque a hashtag em seus posts no Twitter e no Facebook e nas fotos no Instagram – vamos compartilhar as mais bacanas no nosso perfil, @mulhernocinema.

Para os que ainda não estão convencidos, eis mais um motivo para ver Mulher-Maravilha na telona: o filme é bom! Que chegue logo o dia em que nenhum outro argumento será necessário.

#EuViMulherMaravilha (2)

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