Olivia de Havilland: saiba mais sobre a atriz que enfrentou os estúdios

Uma das grandes estrelas da chamada era de ouro de Hollywood também impactou gerações ao questionar o poder dos estúdios. Trata-se de Olivia de Havilland, que aos 104 anos é lembrada por papéis em filmes como E o Vento Levou… (1939), A Porta de Ouro (1941), Só Resta Uma Lágrima (1946) e Tarde Demais (1949). 

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Filha de pais britânicos, De Havilland nasceu em Tóquio em 1916 e mudou-se ainda criança para a Califórnia, nos Estados Unidos. Sua irmã mais nova também se tornou atriz, usando o nome artístico de Joan Fontaine – e a notória rivalidade das duas durou até a morte de Fontaine, em 2013.

Descoberta no teatro, aos 18 anos De Havilland assinou um contrato com a Warner Bros. e em 1935 estreou no cinema com Sonho de Uma Noite de Verão. Durante os sete anos de contrato com o estúdio, ela fez uma série de filmes com o ator Errol Flynn, incluindo A Carga de Cavalaria Ligeira (1936) e As Aventuras de Robin Hood (1938). O sucesso destes longas, porém, não assegurou melhores oportunidades para a atriz, que foi suspensa várias vezes pela Warner por recusar trabalhos.

“Queria interpretar papéis complexos, mas Jack Warner [então dono do estúdio] me via como a mocinha. Estava realmente ansiosa para interpretar seres humanos mais desenvolvidos. Jack nunca entendeu isso e me dava personagens que não tinham personalidade ou qualidade nenhuma.”

Hattie McDaniel, Olivia de Havilland e Vivien Leigh em "E o Vento Levou"
Hattie McDaniel, Olivia de Havilland e Vivien Leigh em “E o Vento Levou”

Quando era “emprestada” a outros estúdios, a atriz se sentia mais realizada. Foi justamente o caso de E o Vento Levou…, no qual interpretou Melanie Hamilton, a cunhada de Scarlett O’Hara, contraponto delicado para o furacão da protagonista. O filme rendeu a De Havilland uma indicação ao Oscar, que perdeu para Hattie McDaniel, sua colega de elenco e a primeira atriz negra a ganhar a estatueta em toda a história.

A segunda indicação ao Oscar veio por A Porta de Ouro (1941), outro trabalho que De Havilland conseguiu graças ao empréstimo entre estúdios. Em seu primeiro papel principal, De Havilland perdeu o prêmio para a irmã, que concorria por Suspeita (1941).

Quando o contrato com a Warner finalmente expirou, a artista estava pronta para mudar de ares, mas o estúdio afirmou que ela devia seis meses de trabalho pelo tempo que havia sido suspensa. De Havilland, por sua vez, argumentou na justiça que o contrato se referia a sete anos corridos, e não apenas aos dias em que ela tinha de fato trabalhado. Em 1944, a justiça ficou do lado da atriz, numa decisão legal que está entre as mais importantes da história de Hollywood. A vitória aumentou o poder dos artistas quanto a suas próprias carreiras e representou um forte golpe para o chamado studio system, o período de maior poder dos estúdios, também enfraquecido por outras decisões legais, pelo fortalecimento dos sindicatos e pelo surgimento da televisão.

De Havilland ganhou muito respeito dos colegas, continuou trabalhando e finalmente ganhou o Oscar por Só Resta Uma Lágrima (1946), repetindo o feito pouco tempo depois com Tarde Demais (1949). Além dela, só outras 13 mulheres venceram mais de uma vez na categoria de melhor atriz.

Olivia de Havilland em 1947, recebendo o Oscar por "Só Resta Uma Lágrima"
Olivia de Havilland em 1947, recebendo o Oscar por “Só Resta Uma Lágrima”

Na década de 1950 De Havilland trocou Hollywood pela França, onde vive até hoje, e nos anos 1980 abandonou de vez a indústria do entretenimento. Seu último trabalho foi o telefilme The Woman He Love, exibido em 1988.

Dois acontecimentos trouxeram De Havilland de volta aos holofotes muitos anos depois de sua aposentadoria. Primeiro, o centenário comemorado em 2016. Depois, um novo processo judicial movido pela atriz, desta vez contra a emissora FX e o produtor Ryan Murphy, por causa da forma como foi retratada na série Feud: Bette and Joan, sobre a rivalidade entre as atrizes Bette Davis e Joan Crawford.

De Havilland, que foi interpretada por Catherine Zeta-Jones, afirmou que o programa não obteve autorização para retratá-la e a mostrou como “fofoqueira, hipócrita e vulgar”. A ação foi movida em 2017 e chegou a avançar na justiça de Los Angeles, mas um segundo juiz aceitou o apelo de Murphy e da FX, julgando que os realizadores estavam protegidos pela lei de liberdade de expressão. De Havilland levou o caso para a Suprema Corte Americana, mas o tribunal se negou a rever o caso.

Em 2018, quando o jornal Los Angeles Times entrevistou De Havilland e perguntou o que a motivava a enfrentar os estúdios (antes a Warner, agora a Fox) ela respondeu: “É natural que eu enfrente estas instituições porque elas estão cometendo erros”. Sobre a decisão de apelar à Suprema Corte, ela disse: “É essencial não desistir das batalhas que nos propomos a fazer.”

* O texto foi atualizado em julho de 2020 e tem informações da Variety, do San Francisco Chronicle e do Los Angeles Times. A foto do topo é de 2015 e foi feita por Andy Gotts para a Entertainment Weekly.

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