“Não fiz questão [de formar uma equipe majoritariamente feminina no filme Amores Urbanos]. E isso é que foi bonito. Só me dei conta quando a equipe já estava formada. Aconteceu o mesmo que acontece com os homens diretores: eles chamam os brothers deles. Eu fiz o mesmo, só que no meu caso são “manas”, não são brothers. Chamei as minhas parceiras, minhas amigas. Que também são grandes profissionais. Quando olhei em volta era diretora de fotografia, técnica de som, montadora, diretora de arte, figurinista. Era só “a mulherada”. No meu set de criação tinha um único homem – o diretor de produção – e isso gerava muita piada (risos).
[…]
Questiono o porquê de 84% dos filmes brasileiros serem liderados, escritos e dirigidos por homens brancos. Existem muitas mulheres, diretoras consagradas, produtoras consagradas que não entram nessas estatísticas. Acho muitíssimo grave que não haja filmes lançados por mulheres negras no Brasil, por exemplo. Não está certo. Isso não é um problema só das mulheres negras, isso é um problema de todos nós. E eu ouvi de um amigo: ‘Não sei por que você está tão preocupada, você é mulher e dirige filmes’. Eu respondi: ‘Talvez porque o mundo não gira em torno do meu umbiguinho’.
– Vera Egito, diretora do filme Amores Urbanos, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo