“Por que fazer um site sobre a mulher no cinema?”
Escutei essa pergunta algumas vezes, em mais de uma ocasião com o acréscimo: “afinal, não tem site sobre o homem no cinema”.
Dúvida justa, porque muita gente não sabe ou não parou para reparar em quantos filmes são dirigidos por homens e quantos por mulheres – muita gente, aliás, não se liga tanto em quem está por trás das câmeras. E então eu respondo:
“Porque as mulheres dirigiram 7% dos 250 filmes de maior bilheteria dos Estados Unidos no ano passado. Não tem um site sobre homens no cinema porque o 93% não precisa de site.”
“Porque só 12% dos 100 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos no ano passado tinham mulheres protagonistas.”
“Porque só 30% de todos os personagens com fala desses mesmos 100 filmes eram mulheres.”
“Porque em 87 anos de Oscar só uma mulher ganhou o prêmio de direção – e só quatro foram indicadas.”
“Porque me incomoda ser mulher e tão poucas vezes me identificar com a mulher que está na tela, sendo que tem tanta coisa para ser falada, mostrada, contada, discutida.”
“Porque não faz sentido que tudo isso aconteça em se tratando de metade da população do mundo (e, dependendo do país, mais da metade do público que vai ao cinema).”
“Porque as desigualdades que as mulheres sofrem em Hollywood – menos oportunidades, salários mais baixos, pressão para ser sempre jovem, magra, linda – refletem as desigualdades que as mulheres sofrem em qualquer lugar.”
Aí hoje eu assisti à entrevista que o Rafael Cortez do “CQC” fez com as atrizes de “Orange is the New Black” Samira Wiley, Natasha Lyonne e Uzo Aduba, exibida na segunda-feira (15). Muitos vão dizer que foi só piada, que o programa tira sarro de todo mundo, que é humor, que tudo bem. De qualquer forma, a partir de hoje, quando alguém me perguntar “por que fazer um site sobre mulher no cinema?” eu simplesmente vou mostrar o vídeo abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=RRi7S9pIIeI&w=560&h=315
PS – Na legendagem, o programa trocou “misógino” por “estranho”. Fofa da Natasha que ainda colocou um “acidentalmente misógino”, e que bom que elas nem pegaram a referência à TPM.
Atualização em 18/06: Cortez comentou a entrevista em um post no Facebook. Ele disse concordar que uma das piadas foi sem graça e que seu inglês “estava ruim”, mas afirmou que ser chamado de machista e misógino foi “um pouco demais”:
“Questionei se “naqueles dias” a convivência no set é mais complicada. O ponto era falar de humores e temperamentos em dias onde as mulheres estão reconhecidamente mais sensíveis. Uma piada praticamente de domínio público.
Podem me condenar por não formular bem essa piada, não tem problema. As elogiei antes e isso as confundiu, como se o fato de serem atrizes belas fosse mais importante que as oscilações de humor típicas da menstruação. Acho que essa é a chave do problema. A formulação nao ficou boa. É isso, e nao todo esse circo armado de preconceitos e estereótipos que estão tentando associar à minha pessoa.”
Leia o comentário completo de Cortez aqui
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