A cineasta Suzana Amaral, diretora e roteirista do premiado A Hora da Estrela (1985), morreu nesta quinta-feira (25), em São Paulo. A causa da morte não foi divulgada, mas, segundo declaração da família ao jornal Folha de S.Paulo, não está ligada ao novo coronavírus (Covid-19).
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Marco do cinema nacional, A Hora da Estrela é uma adaptação da obra de Clarice Lispector (1920-1977), escrita por Amaral em parceria com Alfred Oroz. A bem-sucedida trajetória do longa incluiu três prêmios no Festival de Berlim, incluindo o de melhor atriz para Marcélia Cartaxo, e seis troféus no Festival de Brasília, incluindo melhor filme e melhor direção para Amaral.
A cineasta escreveu e dirigiu outros dois longas-metragens, ambos inspirados em obras literárias. Em 2001, lançou Uma Vida em Segredo, baseado no romance de Autran Dourado; e em 2009, Hotel Atlântico, versão para o cinema do livro de João Gilberto Noll. Também fez vários trabalhos para a televisão, especialmente para a TV Cultura, e foi professora na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
Suzana Amaral nasceu em São Paulo por volta dos anos 1930: registros da imprensa apontam tanto para 1928 quanto para 1932, e a filha Flávia Amaral disse à Folha de S.Paulo que a mãe citava datas diferentes a cada pessoa que perguntava. Em 1968, já mãe de nove filhos, ela entrou no curso de cinema da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e depois de se formar passou mais quatro anos estudando nos Estados Unidos.
Em entrevista concedida à revista Arruaça, da Faculdade Cásper Líbero em 2016, Amaral falou sobre o fato de, no lançamento de A Hora da Estrela, muitos terem dito que ela era uma dona de casa que virou cineasta: “Do jeito que falavam, parecia que eu estava posta em sossego na minha cozinha quando, de repente, tive uma ideia e fiz um filme. Não era assim”, afirmou. “Quando fiz A Hora da Estrela, já tinha feito a ECA e voltado de estudar nos Estados Unidos. Fui pra lá em 1975 e voltei em 1979. Só fiz o filme em 1985. Então foi bem distante. Mas essas coisas não me incomodam não. Me incomoda é não ter dinheiro pra fazer um filme atrás do outro.”
Na mesma entrevista, ela comentou que a falta de financiamento foi a principal razão para não ter dirigido mais longas-metragens. Uma adaptação de O Caso Morel, de Ruben Fonseca, foi um dos trabalhos que a diretora tentou levantar durante anos. “Depois de A Hora da Estrela, demorei mais de 10 anos pra poder fazer outro filme. Tive projetos, mas não achava dinheiro”, afirmou. “Tive quatro anos de trabalho de captação pra fazer o meu terceiro longa, Hotel Atlântico. Quatro anos pra captar três milhões, que não é muito dinheiro em cinema.”
No momento em que artistas sofrem com a falta de apoio e interesse do governo, a filha de Suzana Amaral disse à Folha esperar que sua mãe “seja uma bandeira para que se salve o cinema nacional, bem como todas as áreas da cultura, que estão tão vilipendiadas nos nossos dias”.
“Minha mãe deixa legado em várias áreas, sobretudo no cinema”, disse Flávia Amaral. “Suzana veio e trouxe para o cinema brasileiro uma nova linguagem, uma poética que era só dela —com muita influência do cinema alemão. Ela também deixa um legado na sua ética como professora, além de ter sido uma mãe maravilhosa.”
Foto: Mario Miranda Filho (agenciafoto.com.br) para a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo