Quem é Maren Ade, a diretora alemã que brilhou em Cannes

“Muito depois que o júri do Festival de Cannes tiver se dissolvido e o mundo tiver esquecido quem ganhou os prêmios deste ano, a edição de 2016 será lembrada principalmente como o ano em que Maren Ade nos deu Toni Erdmann, um trabalho de grande beleza, grande sentimento e grande cinema.”

Assim escreveu a crítica de cinema Manohla Dargis no New York Times ao comentar a passagem da diretora alemã Maren Ade pelo Festival de Cannes deste ano. Ainda que o júri tenha ignorado Toni Erdmann na entrega de troféus realizada neste domingo (22), o filme ganhou o prêmio da crítica, foi destaque na imprensa internacional e apresentou Ade a cinéfilos do mundo inteiro.

Leia também: Homens dominam premiação do Festival de Cannes

A diretora trabalhou duro pelo reconhecimento que tem recebido. Aos 39 anos, Ade é um importante nome do cinema alemão e europeu, tendo realizado outros dois longas premiados e produzido mais de uma dezena de filmes.

Nascida em 1976, ela estudou direção na Universidade de Televisão e Cinema de Munique e, em 2001, fundou a produtora Komplizen com a colega Janine Jacksowski. Nove anos depois Jonas Dornbach se uniu à empresa, que produziu filmes como Tanta Água (2013), de Ana Guevara e Leticia Jorge, e Tabu (2012), de Miguel Gomes.

Ade também produziu seus três longas como diretora, a começar por The Forest for the Trees (2003). O filme, que acompanha uma professora de ensino médio em seu primeiro trabalho na cidade, levou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Sundance.

Lançado em 2009, Todos os Outros também teve carreira de sucesso: entrou em várias listas de melhores do ano e recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim. No filme, um casal de namorados vê o relacionamento balançar durante uma viagem de férias.

toni erdmann
Imagem do filme “Toni Erdmann”, de Maren Ade

Foram sete anos até o lançamento de Toni Erdmann, comédia sobre pai e filha com temperamentos opostos e relacionamento distante que têm de passar um tempo juntos. Ade estava grávida do primeiro filho quando escreveu o filme, e grávida do segundo enquanto trabalhava na pós-produção.

Questionada pela revista The Hollywood Reporter sobre as dificuldades de equilibrar trabalho e maternidade, Ade respondeu:

Começar a fazer esta pergunta aos meus colegas homens ajudaria muito a discussão sobre gênero. Acho que teríamos respostas interessantes deles também, sobre como combinam a família e o trabalho. Mas sim, meu segundo filho tem um ano e meio, e fiz a edição final, bem como o resto da pós-produção, nos últimos cinco meses. Você pode organizar tudo, mas isto não resolve o lado emocional. Fazer um longa, especialmente na filmagem e na pós-produção, é fazer um trabalho de gerente. Há pouco tempo para a vida privada, mas como sou minha própria produtora, tive a possibilidade de organizar tudo da forma mais perfeita possível para meus dois filhos e minhas necessidades. Muitas mulheres do cinema que fizeram algo semelhante produziram seus próprios filmes.

Na mesma entrevista, a diretora defendeu cotas que garantam igualdade de gênero nos fundos de financiamento público:

Não há número suficiente de mulheres dirigindo filmes. Na Alemanha estamos discutindo um sistema de cotas e acho que devemos tentar. Porque no que diz respeito ao dinheiro público, [a distribuição] deveria ser igual. Se alguém me dissesse, quando estudava cinema, que seria necessário ter um sistema de cotas, eu diria que seria loucura, porque as mulheres eram quase metade nas aulas de produção e direção. Mas acho que devemos tentar e, daqui dez anos, ver o que aconteceu.

Toni Erdmann ainda não tem data de estreia no Brasil.

Deixe um comentário

Top