Quatorze filmes dirigidos por mulheres foram selecionados para o segundo ano do Selo Elas, iniciativa da distribuidora Elo Company que oferece às realizadoras um programa personalizado de mentoria. Desta vez, serão contemplados 11 projetos de ficção e três de documentário, vindos de Amazonas, Bahia, Paraná, Pernambuco, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.
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A diversidade regional é valorizada por Barbara Sturm, diretora de conteúdo da Elo Company e idealizadora do Selo Elas, mas não há critérios fixos para definir quais filmes participarão da iniciativa. A seleção é feita a partir das produções que já integram a carteira da distribuidora e segue a linha caso a caso. “Nosso objetivo é deixar as realizadoras donas das suas histórias e, assim, termos mais filmes nos quais mulheres podem se identificar com temas, narrativas, trajetórias e superações”, afirmou Barbara, em entrevista ao Mulher no Cinema. “E, também, que tenham consciência das consequências comerciais de suas escolhas artísticas, para que os resultados de cada filme sejam potencializados e elas consigam alcançar seus objetivos e expectativas.”
Formada em cinema e ex-diretora da Pandora Filmes, Barbara defende a importância de estratégias de distribuição que não busquem copiar determinados padrões e modelos. Para ela, o grande desafio do cinema nacional é entender qual plateia cada filme busca atingir. “Você precisa entender bem quem é seu público-alvo para poder fazer o melhor lançamento”, disse. Da mesma forma, os envolvidos no Selo Elas buscam compreender as necessidades de cada realizadora, que pode tanto estar em início de carreira como ter longa experiência. A lista deste ano, por exemplo, inclui projetos de diretoras como Helena Ignez e Julia Rezende.
“Como distribuidora, sento com as realizadores e suas produtoras para entendermos qual o estágio do projeto e onde deve ser o foco da consultoria. Após esse processo, elas respondem uma ficha sobre as expectativas em relação aos resultados do seu filme”, explicou Barbara. A partir daí, ela faz a conexão entre as diretoras e os consultores do Selo Elas, um total de 20 profissionais das áreas artísticas, executivas e jurídicas. “Cada consultor usa sua experiência para comentar e analisar cada projeto, e dá o retorno diretamente para a realizadora.”
Barbara afirmou que seu envolvimento com as questões de gênero se deu de forma natural, tanto como resultado de uma criação “na qual homens e mulheres eram iguais” quanto pela realidade que encontrou no ambiente profissional. Antes de focar na distribuição, ela também transitou pelo universo da direção de fotografia e da moda, sempre notando a menor presença de mulheres nos principais cargos criativos. “Como gosto de desafios, nunca olhei para isso de um jeito melancólico e, sim, como lugares a serem ocupados.”
Dois filmes que distribuiu foram especialmente importantes para aproximá-la ainda mais das questões de gênero: Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert; e Olmo e a Gaivota (2015), de Petra Costa e Lea Glob. No primeiro caso, Barbara e Anna eram as únicas mulheres entre as pessoas com poder de decisão sobre o lançamento, e perceberam a necessidade de trabalharem juntas. No segundo, a distribuição envolveu uma campanha de divulgação explicitamente feminista, marcada pela campanha “meu corpo, minhas regras”.
Desde então, Barbara tomou maior conhecimento sobre os dados relativos à participação da mulher no audiovisual, escreveu artigos e participou de eventos sobre o tema. O lançamento do Selo Elas, em 2018, atraiu a atenção da imprensa e da indústria, mas ela não pensa em torná-lo mais conhecido do público consumidor. “É um selo de fomento, um selo para o mercado”, explicou.
Entre os destaques do primeiro ano do Selo Elas estão dois longas que abordam a ditadura militar: Amores de Chumbo, de Tuca Siqueira, que chegou às salas em junho do ano passado; e Torre das Donzelas, de Susanna Lira, que estreia em 19 de setembro após bem-sucedida passagem por festivais brasileiros e internacionais. Para Barbara Sturm, “cuidado” é a palavra-chave na hora de levar os filmes às salas. “Lidamos com um mercado muito arriscado, por isso o cuidado é fundamental”, afirmou. “Talvez Que Horas Ela Volta? não tivesse chegado onde chegou se Anna e eu tivéssemos passado apenas um, e não três meses super dedicadas ao lançamento.”
Ela também deu um conselho às mulheres que querem trabalhar na área: “consumir audiovisual”. “Você precisa assistir filmes, televisão, séries, plataformas, ir ao cinema”, afirmou. “Isso é trabalho.”
Veja a lista de projetos contemplados no ano 2 do Selo Elas:
Ficção
– Diário de Classe (RJ): produção Morena Filmes e direção Julia Rezende
– Baile da Saudade (RJ): produção Moove House e direção Michele Lavalle
– Musa (RJ): produzido por Bananeira Filmes e direção Mônica Dames
– Mulher Oceano (SP): produzido por Mercúrio Produções e direção Djin Sganzerla
– Tempo Meio Azul Piscina (BA): produção Benditas e direção Sofia Federico
– Mares do Desterro (SC): produção Vagalume e Anágua Filmes, direção Sandra Alves
– O Sol, a Lua, Aurora (BA): produção Movioca e direção Débora Gobitta
– Histeria (PR): produção Grafo Audiovisual e direção Laís Melo
– Martina e o Skylab (PE): produção Chá Cinematográfico e direção por Adelina Pontual
– Dona Tonha (BA): produção Layepas Produções e direção Helena Ignez
– Clarice Vê Estrelas (RJ): produção Canto Claro e direção Letícia Pires
Documentário
– A Mulher Sem Chão (AM): produção Muamba Estúdio, direção Aurytha Tabajara e Débora Mcdowell
– Um Samurai em São Paulo (SP): direção Débora Mamber
– O Incerto Lugar do Desejo (SP): produção Asas e direção Paula Trabulsi (lançado)
Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema
Foto do topo: Ciça Neder