A atriz Ruth de Souza, um dos nomes mais importantes das artes cênicas no Brasil, morreu neste domingo (28), aos 98 anos. A atriz estava internada no Rio de Janeiro desde a semana, com um quadro de pneumonia.
Em mais de 70 anos de carreira, Ruth de Souza quebrou barreiras e abriu portas para artistas negros no cinema, no teatro e na televisão: foi a primeira atriz negra a encenar um espetáculo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (O Imperador Jones, de 1945) e a protagonizar uma novela (A Cabana de Pai Tomás, de 1969). Foi, também, a primeira atriz brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema: em 1953, ela disputou o Volpi Cup do Festival de Veneza por seu trabalho em Sinhá Moça, de 1953.
Nascida em 1921 em Engenho de Dentro, zona norte do Rio de Janeiro, ela se interessou pela atuação muito cedo, frequentando récitas no Teatro Municipal. Começou a carreira no Teatro Experimental do Negro, grupo liderado por Abdias do Nascimento (1914-2011), e fez história com a peça inspirada na obra de Eugene O’Neil.
Nas novelas, a estreia foi com A Deusa Vencida (1965), na TV Excelsior. Ela também passou por Tupi e Record antes de ser contratada pela Globo em 1968. Na emissora, fez mais de 20 novelas – incluindo A Cabana do Pai Tomás – e a minissérie Se eu Fechar os Olhos Agora, que foi ao ar este ano.
Ruth atuou em mais de 30 filmes, a começar por Terra Violenta (1948), de Edmond Francis Bernoudy. Outros trabalhos incluem Também Somos Irmãos (1949), de José Carlos Burle; Terra É Sempre Terra (1951), de Tom Payne; Fronteiras do Inferno (1958), de Walter Hugo Khouri; O Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias; e Filhas do Vento (2005), de Joel Zito Araújo; além, é claro, de Sinhá Moça.
A trajetória da atriz é tema de uma documentário atualmente em desenvolvimento: Diálogos com Ruth de Souza, dirigido por Juliana Vicente. A artista também recebeu duas homenagens recentes: em 2016, a mostra “Pérola Negra: Ruth de Souza” exibiu trabalhos seus em São Paulo, Brasília e Rio de janeiro; e em 2019, ela foi tema do desfile da Acadêmicos de Santa Cruz no carnaval.
Nas redes sociais, vários artistas lamentaram a notícia. “Nossa amada partiu, deixando um legado, uma história incrível e portas abertas para muitos jovens artistas negros”, escreveu a atriz Zezé Motta no Instagram. “Aprendi muito com Ruth, muito mesmo. Há 15 dias atrás tive ainda o privilégio de gravar uma cena com Ruth para um filme que ainda vai estrear. Tenho quase certeza que foi esse o último filme dela, ou seja, Ruth partiu fazendo aquilo que mais amava! Descanse em paz minha amada. Imortal. Lendária. Icônica.”
No Twitter, a atriz Lucy Ramos fez um agradecimento: “Obrigada por ter aberto tantas portas. Ficamos com a responsabilidade de manter seu legado sempre vivo”, escreveu. A também atriz Adriana Lessa fez sua homenagem no Facebook: “Agradeço por sua vida. Agradeço por abrir caminhos, pelos ensinamentos de vida.”