A atriz Léa Garcia, que marcou o cinema, o teatro e a TV brasileira durante uma carreira de mais de sete décadas, morreu nesta terça-feira (15), aos 90 anos. A artista, que sofreu um infarto durante a madrugada, receberia à noite uma homenagem do Festival de Gramado, um dos mais importantes do país.
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Nascida em 11 de março de 1933, Léa inicialmente pensou em ser escritora, mas voltou-se para as artes cênicas após conhecer Abdias do Nascimento (1914-2011), um dos fundadores do Teatro Experimental do Negro, com quem foi casada.
“Em casa, ele costumava me dizer que eu tinha um talento artístico muito grande e uma ótima capacidade de atuação. Eu, porém, dizia que não queria ser atriz, mas ele continuava insistindo”, contou Léa, em depoimento à série Companhias do Teatro Brasileiro, exibida pelo canal Curta!. Sua estreia foi no espetáculo Rapsódia Negra, montado por Abdias em 1952. “Uma vez que pisei no palco, não quis mais sair”.
A ligação com Abdias e com a companhia ajudou a fomentar uma consciência política-racial que marcou a trajetória pessoal e a carreira da atriz, tanto nos palcos quanto nas telas.
Depois do início no teatro, não demorou para que Léa mostrasse seu talento no cinema. Ela interpretou Serafina em Orfeu Negro (1959), filme do francês Marcel Camus ambientado no carnaval do Rio de Janeiro que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de melhor filme internacional.
Ao longo da carreira, teve vários outros trabalhos de destaque no cinema. Atuou, por exemplo, em Feminino Plural (1976), de Vera Figueiredo, considerado um dos primeiros longas-metragens feministas produzidos no Brasil; Filhas do Vento (2004), de Joel Zito Araújo; Acalanto (2013), de Arturo Sabóia; e nos premiados Um Dia de Jerusa (2014) e Um Dia com Jerusa (2020), curta e longa-metragens dirigidos por Viviane Ferreira.
Na televisão, um dos principais papéis foi Rosa na novela A Escrava Isaura, exibida em 1976. Atualmente, estava negociando uma participação no remake da novela Renascer, que está sendo produzida pela Rede Globo.
Em julho, participou do lançamento de Entre Mira, Serafina, Rosa e Tia Neguita: a trajetória e o protagonismo de Léa Garcia, um livro sobre sua carreira escrito por Julio Claudio da Silva. A atriz concedeu uma série de entrevistas para a obra, que foi editada pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
A homenagem do Festival de Gramado será realizada na data prevista, atendendo a um pedido da família. O filho da atriz, Marcelo Garcia, receberá o troféu Oscarito em seu nome.
Foto: Murilo Alvesso