Diretora de fotografia Halyna Hutchins morre após disparo de arma cenográfica

A diretora de fotografia ucraniana Halyna Hutchins, 42 anos, foi morta após o disparo de uma arma cenográfica no set do faroeste Rust, rodado no condado de Santa Fé, no Novo México. A arma foi descarregada durante uma cena pelo ator americano Alec Baldwin e também feriu o diretor do longa-metragem, Joel Souza.

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De acordo com o jornal The New York Times, que citou um documento oficial da polícia de Santa Fé, Baldwin não sabia que a arma estava carregada. Três revólveres e um cinturão foram colocados em uma bandeja pela pessoa da equipe que é especialista em armas, conhecida como armorer ou armeiro. Durante o ensaio da cena, o assistente de direção do filme entregou um dos revólveres a Baldwin dizendo se tratar de uma “arma fria”, o que deveria indicar a ausência de qualquer tipo de munição (inclusive balas de festim), sem saber que não era o caso. Quando o ator usou a arma, atingiu Hutchins no peito e Souza, que estava atrás dela, no ombro.

Não está claro quantos tiros foram disparados nem que tipo de arma ou munição foi usada, mas várias balas e revólveres foram apreendidos pela polícia. O documento citado pelo New York Times também não dá informações sobre o depoimento do armeiro ou armeira.

Baldwin falou sobre o ocorrido no Twitter: “Não há palavras para expressar meu choque e minha tristeza em relação ao trágico acidente que tirou a vida de Halyna Hutchins, que era esposa, mãe e uma colega que nós admirávamos profundamente. Estou colaborando completamente com a investigação policial de como essa tragédia ocorreu e estou em contato com o marido de Halyna, oferecendo meu apoio a ele e sua família. Meu coração está partido pelo marido, o filho e todos os que conheciam e amavam Halyna.”

Hutchins chegou a ser levada de helicóptero ao hospital da Universidade do Novo México, em Albuquerque, mas não resistiu. Souza foi levado de ambulância para outro hospital e já recebeu alta.

“Estrela em ascensão”

Inicialmente formada em Jornalismo Internacional pela Universidade de Kyiv, na Ucrânia, Hutchins trabalhou como jornalista investigativa em produções documentais britânicas. Mais tarde, mudou-se para Los Angeles e formou-se no conservatório do Instituto Americano de Cinema (AFI, na sigla em inglês). Ela dirigiu um curta, Coco Noir (2015), mas dedicou-se principalmente à fotografia.

Entre seus trabalhos estão os longas Snowbound (2017), de Olia Oparina; Darlin’ (2019), de Pollyanna McIntosh; Blindfire (2020), de Michael Nell; Archenemy (2020), de Adam Egypt Mortimer; e The Mad Hatter (2021), de Cate Devaney. Em 2019 ela entrou para a lista de “Estrelas em Ascensão da Fotografia”, publicada anualmente pela prestigiada revista American Cinematographer.

O cineasta Adam Egypt Mortimer foi um dos artistas que se manifestou sobre a morte de Hutchins no Twitter: “Estou muito triste em perder Halyna. E tão furioso de algo assim ter acontecido em um set. Ela era um talento brilhante e totalmente comprometida com a arte e o cinema”, escreveu.

A diretora e fotógrafa Elle Schneider também se manifestou no Twitter, dizendo que Halyna era uma “rockstar” da direção de fotografia. “Não tenho palavras para descrever esta tragédia. Quero respostas. E quero que a família dela consiga, de alguma forma, encontrar paz em meio a essa perda horrível.”

A fotografia é uma das áreas do cinema em que as mulheres enfrentam mais obstáculos. Elas representaram apenas 5% de todos os profissionais que trabalharam como diretores de fotografia nos 250 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos em 2019, de acordo com estudo da San Diego State University.

Além disso, em 94 anos de Oscar apenas uma mulher concorreu na categoria de direção de fotografia. Esta mulher foi Rachel Morrison, que também se manifestou sobre a morte de Hutchins: “Estou arrasada e furiosa. Nenhuma tomada, nenhuma cena e nenhum filme valem a perda de uma vida”, escreveu. Em outro tweet, Morrison questionou o uso de munição ao invés da criação de efeitos de tiros na pós-produção. “Se você não tem dinheiro para fazer um filme com segurança, não deveria estar fazendo um filme”, afirmou.

Mesmo munição falsa pode ser fatal quando usada em cena. Em 1984, o ator Jon-Erik Hexum morreu no set de Cover Up, ao atirar em si mesmo sem saber que a arma cenográfica continha uma bala de festim. Em 1993, o ator Brandon Lee foi morto acidentalmente nas filmagens de O Corvo quando outro ator atirou com uma arma cenográfica que não tinha sido preparada corretamente.

Uma reportagem do jornal Los Angeles Times, citando fontes não identificadas ligadas à produção de Rust, afirmou que integrantes da equipe vinham reclamando das condições de trabalho, inclusive relativas à segurança. Segundo estas fontes, outros problemas com armas já tinham acontecido e alguns profissionais tinham deixado o set na manhã de quinta-feira, antes da morte de Hutchins, em protesto contra a situação.

A empresa produtora, Rust Movie Productions, respondeu em comunicado: “A segurança do elenco e da equipe é nossa prioridade. Não estávamos cientes de reclamações formais envolvendo armas ou segurança no set, mas vamos conduzir uma investigação interna enquanto a produção está suspensa”.

* Texto atualizado em 22 de outubro de 2021

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