Nova temporada de “Spanish Princess” conclui saga de Catarina de Aragão

A história de Catarina de Aragão chega ao fim na segunda temporada da série The Spanish Princess, que estreia neste domingo (11) na plataforma Starzplay. Com oito novos episódios – um a cada semana e todos dirigidos por mulheres -, o drama histórico coloca o foco não apenas na princesa espanhola que virou rainha da Inglaterra, mas também em outras mulheres da corte de Henrique 8º.

Entrevista: “A mudança é lenta, mas está acontecendo, diz Stephanie Levi-John
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The Spanish Princess é continuação de duas outras séries da Starz, The White Queen e de The White Princess, e foi inspirada nos romances The Constant Princess e The King’s Curse, escritos por Philippa Gregory. Na primeira temporada, ambientada entre 1501 e 1509, a série mostrou os primeiros anos de Catarina na Inglaterra. Prometida ao príncipe Artur desde a infância, ela chegou a se casar com ele, mas ficou viúva meses depois. Após jurar não ter consumado o casamento, conseguiu manter seu lugar na corte casando-se com o irmão mais novo de Artur, que depois viria a ser Henrique 8º.

A segunda temporada começa em tom de missão cumprida: Catarina está casada com Henrique 8º e já deu à luz um herdeiro homem, seu principal dever como rainha. Mas sua tranquilidade vai durar pouco. “É um pouco enervante vê-la tão feliz e confiante quanto a seu lugar na corte quando sabemos que não existiu um Henrique 9º”, afirmou a atriz Charlotte Hope, a protagonista de The Spanish Princess, em mesa-redonda para jornalistas da qual o Mulher no Cinema participou. Para ela, a série é sobre “identidade”. “Ser rainha está no DNA de Catarina: é seu destino e sua obsessão. Quando começa a sentir que isso está ruindo, começa também a questionar toda a sua identidade e tudo aquilo que ela representa. E então, o que resta?”

Laura Carmichael e Charlotte Hope como Maggie e Catarina em “The Spanish Princess”

Outras personagens estão de volta para a segunda temporada e enfrentam seus próprios dramas. Lina (Stephanie Levi-John) segue sendo a dama de companhia de Catarina, mas também começa a criar sua família com Oviedo (Aaron Cobham). “Ela estará ainda mais dividida entre o que acontece na corte e em sua casa, entre sua relação com Catarina e sua vida familiar”, contou Levi-John ao Mulher no Cinema. Por sua vez, Meg Tudor (Georgie Henley), a irmã de Henrique 8º que se casou com o rei da Escócia, estará em busca de mais poder político, enquanto Maggie Pole (Laura Carmichael, a Edith de Downton Abbey) estará mais próxima de Catarina e mais disposta a mexer alguns pauzinhos para benefício próprio.

“A série mostra mulheres em espaços onde não esperamos encontrá-las neste período”, afirmou Carmichael. “Elas estão no campo de batalha, fazendo movimentações políticas e elaborando estratégias, mesmo quando as estratégias envolvem casamento e filhos. Elas têm poder real, o que também é ótimo para nós como atrizes.”

Para Carmichael, a opção pela perspectiva feminina explica o sucesso não apenas de The Spanish Princess quanto das séries anteriores. Enquanto muitas pessoas sabem que Henrique 8º foi casado seis vezes, poucas conhecem a história dessas rainhas, incluindo Catarina. “Sempre me impressiono ao perceber que não conhecemos certas partes da história porque nunca olhamos para elas pelo ponto de vista das mulheres”, afirmou a atriz. “Não há melhor exemplo disso do que Henrique 8º: suas mulheres sempre existiram em relação a ele.”

Ainda que The Spanish Princess esteja ambientada na Inglaterra do século 16, as atrizes acreditam que a série aborda questões atuais e relevantes em qualquer país do mundo. “Em todos os lugares as mulheres são colocadas em caixinhas, mesmo contra a sua vontade, e este é um dos principais temas do programa”, disse a atriz Georgie Henley, intérprete de Meg Tudor. “Acho que muitas pessoas, especialmente mulheres, vão se relacionar com a sensação de estar presa às expectativas dos outros e de ter de criar seu próprio percurso.”

Assista à entrevista com Stephanie Levi-John:

The Spanish Princess chama a atenção, também, por incluir personagens e atores não-brancos, algo bastante raro nos dramas históricos sobre a realeza britânica. Durante a pesquisa, os criadores Emma Frost e Matthew Graham descobriram registros de que Catarina chegara à Inglaterra acompanhada de uma dama de companhia de origem africana. Mesmo sem informações detalhadas, decidiram criar a personagem de Lina, que na ficção é filha de mouriscos convertidos ao catolicismo, enquanto Oviedo se manteve fiel ao islã.

A atriz Stephanie Levi-John, que nasceu em Londres e é de origem afro-caribenha, disse ao Mulher no Cinema que tanto o roteiro quanto suas pesquisas sobre o período fizeram com que se sentisse bastante próxima da personagem. “Como filha de pessoas da diáspora, entendo muito bem essa sensação de não saber bem onde se colocar, de querer se encaixar, mas também seguir sendo fiel a si mesma”, afirmou. “É difícil ser reconhecida, ser feliz e estar em paz em meio ao tumulto de um lugar que não é necessariamente a sua casa. E foi a série que me abriu os olhos quanto a isso.” 

Charlotte Hope como Catarina de Aragão em “The Spanish Princess”

The Spanish Princess também destaca o trabalho das mulheres por trás das câmeras, com Rebecca Gatward, Lisa Clarke e Chanya Button se revezando na direção dois oito episódios. Button, aliás, já tinha trabalhado com Laura Carmichael no filme independente britânico Burn Burn Burn (2015), que teve uma boa passagem por festivais. “Foi maravilhoso vê-la trabalhar numa escala totalmente diferente e se sair tão bem”, contou a atriz. “Chanya é uma ótima diretora, que entende muito bem os atores e oferece muita coisa a eles.”

Entre os episódios dirigidos por Button está “Flodden”, um retrato da famosa batalha travada pela Inglaterra e a Escócia quando Henrique 8º estava na França e Catarina de Aragão era a líder regente. É um dos momentos mais grandiosos da série, e também um exemplo das liberdades artísticas tomadas pelos roteiristas: embora a rainha tenha cavalgado grávida para se dirigir às tropas, ela não se uniu a eles no combate em si. A cena da batalha, aliás, foi a favorita da atriz Charlotte Hope. “Depois de passar tanto tempo chorando em espartilhos, colocar a armadura e ir lutar na lama foi muito empoderador”, afirmou.

The Spanish Princess é o trabalho mais importante da carreira de Hope, que antes era conhecida principalmente como a Myranda de Game of Thrones. Em diversas ocasiões a atriz definiu Catarina de Aragão como a personagem que esperou anos para interpretar. “Amo a Catarina porque ela é uma força da natureza, muito forte e durona, mas também muito frágil. Às vezes sentimos raiva dela, às vezes sentimos compaixão”, explicou. “Poder interpretar essa dualidade é incrível, porque muitas vezes é uma coisa ou outra, especialmente nas personagens femininas. Com a Catarina, nada me limitava.”

Com o fim de Spanish Princess, o Mulher no Cinema perguntou por quais outras personagens a atriz está esperando. “Adoraria interpretar mais mulheres complicadas, pois acho o limite entre força e fragilidade fascinante. E adoraria fazer um filme de ação, porque amei as cenas de luta e passei muito tempo na academia durante a quarentena”, respondeu a atriz. “Mas, para ser sincera”, completou, “também adoraria interpretar a Catarina outra vez. Foi meu trabalho dos sonhos e, se pudesse, voltaria todos esses anos e faria tudo de novo.”


Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema

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