Após se entregar à polícia de Nova York, o produtor Harvey Weinstein foi preso na manhã desta sexta-feira (25) sob acusações de que estuprou uma mulher e forçou outra a fazer sexo oral. De acordo com o jornal americano The New York Times, o produtor responderá por estupro em primeiro e terceiro grau e por ato sexual criminoso em primeiro grau.
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A vítima de estupro não foi identificada, mas o caso aconteceu em 2013. Já a acusação de ato sexual criminoso envolve Lucia Evans, que acusou Weinstein de forçá-la a fazer sexo oral durante o que ela pensava ser uma reunião de trabalho no escritório da Miramax, empresa da qual o produtor era dono, em 2004.
O jornal também informou que as condições da prisão, negociadas com antecedência, preveem uma fiança de US$ 1 milhão em dinheiro ou US$ 10 milhões em outra forma de pagamento. Levado a um tribunal para ouvir as acusações formalmente, o produtor também entregou seu passaporte e concordou em usar um aparelho de monitoramento.
Em comunicado, o advogado de Weinstein, Benjamin Brafman, afirmou que os acontecimentos desta sexta-feira “não mudam a posição” do produtor, que “sempre manteve nunca ter se envolvido em sexo não consensual”. Ainda segundo Brafman, Weinstein se declarou inocente e espera ser absolvido.
Em entrevista do lado de fora do tribunal, o advogado afirmou que muitas das alegações são antigas, sobre “eventos que teriam acontecido há muitos anos”, e não serão consideradas críveis se forem julgadas por “pessoas justas que não tenham sido consumidas pelo movimento que tomou conta do caso”. E acrescentou, segundo o site Hollywood Reporter: “Weinstein não inventou o teste do sofá em Hollywood e em que pese o fato de que existe mau comportamento nesta indústria, a questão aqui não é essa. Mau comportamento não está em julgamento neste caso.”
A prisão de Weinstein acontece depois de uma investigação de vários meses, que começou após a imprensa americana revelar décadas de acusações de assédio e abuso sexual contra o produtor, muitas delas mantidas em segredo graças a acordos judiciais e à pressão contra vítimas, funcionários e empresas de comunicação.
De acordo com o NYT, a investigação nova-iorquina (há outras em Los Angeles e Londres) ainda não acabou: um júri vai avaliar outras acusações contra Weinstein, bem como buscar determinar se ele pagou mulheres para não o denunciarem e se usou funcionários de sua empresa para facilitar encontros com as vítimas e lhe darem cobertura.
O caso Weinstein deu início a uma avalanche de acusações contra outros profissionais da indústria cinematográfica, fortaleceu o movimento contra o assédio #MeToo e motivou a criação da Time’s Up, organização formada por 300 mulheres do entretenimento. No último sábado (19), durante a premiação do Festival de Cannes, a atriz italiana Asia Argento fez um forte discurso no qual lembrou que o evento serviu de palco para os abusos cometidos por Weinstein.
“Em 1997, fui estuprada por Harvey Weinstein em Cannes. Eu tinha 21 anos. Este festival era seu lugar de caça”, afirmou a atriz. “Sentados entre vocês, há aqueles que ainda precisam responder pela forma como se conduzem com as mulheres. Vocês sabem quem são. E o que é mais importante: nós sabemos quem vocês são.”
A próxima aparição de Weinstein no tribunal será em 30 de julho.
Foto: Julio Cortez/AP/REX/Shutterstock