Elenco de origem asiática renova o convencional “Podres de Ricos”

Em cartaz na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e com estreia prevista para 25 de outubro, Podres de Ricos é, ao mesmo tempo, uma comédia romântica como qualquer outra e uma comédia romântica como nunca se viu. Em termos narrativos e estéticos, segue os padrões do gênero. Mas no elenco, é inovador: o primeiro filme centrado em atores de origem asiática a ser lançado por um grande estúdio americano em 25 anos, desde O Clube da Felicidade e da Sorte.

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Este marco não passou batido pela equipe por trás do longa, incluindo o diretor Jon M. Chu e o produtor Kevin Kwan, autor do best-seller que inspirou o filme, intitulado Asiáticos Podres de Ricos e lançado em 2013.  Durante o processo da venda de direitos, Kwan recusou propostas de produtores que queriam escalar protagonistas ocidentais. Na hora de fechar o acordo de distribuição, os realizadores teriam recusado uma oferta generosa da Netflix e optado pela Warner Bros. Pictures, ciente do potencial impacto cultural de um bom resultado nas bilheterias.

O resultado foi muito mais do que bom: Podres de Ricos arrecadou US$ 230 milhões (R$ 852 milhões) pelo mundo e tornou-se a comédia romântica de maior bilheteria nos Estados Unidos e Canadá em uma década. Uma sequência, é claro, já está sendo produzida, e a expectativa por uma maior participação asiático-americana nas telas inevitavelmente cresceu.

Para se ter uma ideia, em 2017 apenas 7% das personagens femininas em cena nos 100 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos eram de origem asiática – um aumento de 1% em relação ao ano anterior. Por aí se mede a sensação de novidade provocada por Podres de Ricos, que tem asiáticos ou descendentes de asiáticos como protagonistas, coadjuvantes e extras. As filmagens foram realizadas na Malásia e em Cingapura, e mesmo a trilha sonora é majoritariamente formada por canções de artistas como a malaia Cheryl K, a chinesa Yao Lee e a taiwanesa Sally Yeh.

Michelle Yeoh (centro) é o grande destaque do elenco de “Podres de Ricos”

As novidades param por aí, já que a trama é bastante convencional. Constance Wu interpreta Rachel Chu, uma filha de chineses que cresceu nos Estados Unidos. Graças ao esforço da mãe, que imigrou em condições difíceis e a criou sozinha, Rachel conseguiu estudar e tornar-se professora de economia, um trabalho no qual se sente realizada. Na vida amorosa as coisas também vão bem: há um ano ela namora Nick Young (Henry Golding), que quer levá-la a Cingapura para que conheça sua família e participe da festa de casamento de seu melhor amigo.

Ao entrar no avião e ser direcionada à primeira classe, Rachel descobre algo que Nick nunca contou: ele é herdeiro de uma das maiores fortunas da Ásia. Descobre, também, que suas qualidades não atenderão aos padrões de uma família rica, importante e tradicional – especialmente os da mãe de Nick (Michelle Yeoh), que fará de tudo para acabar com a relação.

A escalação de Michelle Yeoh é um dos grandes trunfos do filme. Conhecida pelo memorável trabalho em O Tigre e o Dragão e, mais recentemente, Star Trek: Discovery, a talentosa e consistente atriz malaia está perfeita no papel da mãe e dá peso a um elenco jovem que é simpático sem impressionar. Golding é charmoso e Wu vai bem no tipo girl-next-door, mas ambos são ofuscados por coadjuvantes mais interessantes, como Awkwafina e Nico Santos, em papéis cômicos, e Gemma Chan, que interpreta a personagem mais dramática do filme.

A riqueza exorbitante da família de Nick permite que Podres de Ricos explore cenários impressionantes e capriche na direção de arte e nos figurinos. No mais, segue-se a receita básica das comédias românticas: uma ex-namorada invejosa, um segredo revelado que pode pôr tudo a perder, encontros e desencontros do casal principal e declarações de amor públicas. É mesmo a representatividade que faz valer o ingresso.

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Este filme passa no teste de Bechdel-Wallace. Clique para saber mais.“Podres de Ricos”
[Crazy Rich Asians, EUA, 2018]
Direção: Jon M. Chu
Elenco: Constance Wu, Henry Golding, Michelle Yeoh.
Duração: 120 minutos
Consulte os horários de exibição na Mostra


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema

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